por Bruno Carmelo
O diretor Domingos Oliveira, ao centro
Entrevistar Domingos Oliveira é experiência muito agradável. Aos 76 anos de idade, o diretor chegou na sala de imprensa cheio de disposição, fazendo piadas e cantando There's no business like show business, entoado também pelos jornalistas presentes. O cineasta brasileiro esbanja simpatia, espontaneidade, além de uma inteligência notável.
No Festival do Rio, ele veio apresentar Primeiro Dia de um Ano Qualquer, uma comédia dramática bastante pessoal, interpretada por sua trupe tradicional (Maitê Proença, Dedina Bernardelli, Priscilla Rozenbaum, Ricardo Kosovski) e produzida por Tereza Gonzalez. A história gira em torno de uma dezena de personagens que, no dia 1 de janeiro, relembra a festa na véspera e os problemas amorosos de cada um. O grupo conversou sobre a origem do projeto e sobre as dificuldades de produção de um filme deste porte:
Domingos, você está falando de amor há 46 anos, desde Todas as Mulheres do Mundo (1966), e também dando um grande espaço aos atores.
Domingos Oliveira: 46 anos, é tudo isso? Não sabia. Eu aconselho a todos vocês que não pisquem. Se piscarem, vocês já terão 76 anos, é perigosíssimo. Sobre a questão do ator, é preciso saber que eu mesmo sou ator, esta é a minha primeira formação. Eu acho a arte do ator uma grande arte. Oscar Wilde dizia que a maior das artes era a música, sem dúvida, mas a maior arte do ponto de vista do conteúdo era a arte do ator. O ator tem que viver o personagem, porque este não existe, ele não passa de linhas num papel. Quem existe é você. É preciso usar a imaginação, e isso é algo formidável.
Maitê, fale um pouco sobre a gênese do filme. Ele começou na tua casa, é isso?
Maitê Proença: É isso mesmo. Nós nos reunimos frequentemente na minha casa, na montanha. A gente estava lá, sem ter o que fazer. O Domingos estava fotografando, e de repente ele disse: “Isso aqui é muito bonito, mas muito parado. Falta movimento, a gente precisaria fazer uma foto contínua...” E foto contínua é algo que ele sabe fazer! As histórias começaram a surgir a partir das pessoas que estavam ali, e tudo foi costurado em um roteiro. Do começo da ideia até o produto final, foram uns 4 meses apenas, e somente 12 dias de filmagem.
Como se reuniu o dinheiro? É caríssimo produzir um filme do Domingos...
Tereza Gonzalez: O filme é caríssimo mesmo, e o do Domingos foi tão caro quanto todos os filmes. A gente funcionou num esquema de cooperativa, e todos entregaram um trabalho e uma força que não se traduziram num desembolso financeiro. Mas está lá: nosso filme custou milhões.
Domingos Oliveira: Pois é, “baixo orçamento” hoje em dia é um palavrão. Quanto você pensa que custou Titanic? Se James Cameron tivesse associado todo mundo, não teria custado nada.
Você é frequentemente comparado a Woody Allen, por estar pensando cinema e escrevendo o tempo todo. O que acha disso?
Domingos Oliveira: Ele tem mais facilidade de produção do que eu! Ah, se eu tivesse aquela equipe... Mas eu sou um escritor, sempre fui, desde menino. Eu sempre dirijo o que escrevi. De todas as funções do cinema, a autoria está no escritor, aquele que põe no mundo coisas que não existiam ainda.
Dedina Bernardelli: Qualquer momento em que você chega à casa do Domingos, ou quando você liga pra ele, ele te conta uma história, ele já tem uma ideia nova. Ele é uma oficina constante de criação. A vida dele é isso.
Quando o filme chega aos cinemas?
Tereza Gonzalez: Ele ainda não tem distribuidora. Entre a ideia ser concebida e o filme chegar em um festival, oito meses se passaram. Nós achamos que agora, depois do festival, talvez apareçam distribuidores. A gente gostaria muito de estrear dia 1 de janeiro de 2013.
Domingos Oliveira: A exibição é o terreno do mistério. Só Deus sabe. Este tipo de filme não tem muito lugar no mercado, ele não é um filme do Breno Silveira (2 Filhos de Francisco, Gonzaga - De Pai pra Filho), que estreia com 400 cópias. Primeiro Dia de um Ano Qualquer deve ter vinte, trinta cópias no máximo.