por Bruno Carmelo
O AdoroCinema esteve presente na coletiva de imprensa do Festival Varilux de Cinema Francês, que trouxe oito representantes dos filmes exibidos, e pôde conversar com cada um deles, para falarem de seus filmes e de suas carreiras. O clima foi de grande descontração e interesse pelas culturas estrangeiras - da França ao Brasil, passando pelos cinemas do Senegal e dos Estados Unidos.
Estavam presentes a atriz e diretora Nadine Labaki e o compositor Khaled Mouzanar (E Agora, Aonde Vamos?), a atriz Agathe Bonitzer e o diretor Thierry Binisti (Uma Garrafa no Mar de Gaza), a atriz Isabelle Candelier (Adeus Berthe ou O Enterro da Vovó), o diretor Jean-Pierre Denis (Aqui Embaixo), a atriz Astrid Berges-Frisbey (A Filha do Pai) e o diretor senegalês Moussa Touré (O Barco da Esperança).
Cada um apresentou seu filme e falou sobre o prazer de estar no Brasil, comentando sobre os bastidores dos filmes que eles ajudam a promover. A confusão de línguas imperou, entre convidados e jornalistas tentando falar inglês, português misturado com espanhol e arranhando o francês... Isso também levou a diversas piadas sobre choque de nacionalidades e línguas. Curiosamente, todos têm relações estreitas com países estrangeiros: Astrid Bergès-Frisbey fez filmes nos Estados Unidos, com o diretor Rob Marshall (ela aparece em Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas), assim como Isabelle Candelier (que fez Um Bom Ano com Ridley Scott, e mora entre a França e os Estados Unidos). Agathe Bonitzer teve que aprender hebreu para Uma Garrafa no Mar de Gaza, Moussa Touré transita entre o francês e diversas línguas africanas, e Nadine Labaki domina tanto o francês quanto o árabe. Jean-Pierre Denis, um apaixonado por história, preferiu fazer o primeiro filme de sua carreira em uma língua já desaparecida, o occitano.
Todos falaram sobre a profissão artística de maneira bastante profissional, sem jamais vangloriar as produções americanas, ou defenderem apenas o patrimônio francês. Coube ao militante Moussa Touré a ideia de que, "mesmo assim, ator e diretor são inseparáveis, um filme é como uma história de amor, os dois estão fazendo um bebê juntos". Mas Isabelle Candelier quis precisar: "Mas isso é só uma metáfora! Nós, atores, não dormimos com os diretores não! Exceto a Kristen Stewart, claro." Os risos tomaram conta da plateia, marcando este encontro bastante amigável.
Confira abaixo um trecho da nossa conversa com cada um deles:
Agathe Bonitzer e Thierry Binisti (Uma Garrafa no Mar de Gaza)
T.B.: "Dizem que o filme é uma história de amor, mas não é nada disso... Existe algo que acontece entre os dois, mas é misterioso, é mais próximo da amizade. Disseram até que ele se parecia com Romeu e Julieta, por causa da oposição Israel-Palestina, mas ele está muito distante disso. O final não é trágico, nós queríamos um final luminoso, porque esta é a visão que nós temos do mundo... Nós chegamos antes das filmagens para entrar em imersão com a juventude local. Eu queria que Agathe visse este paradoxo de perto, porque os jovens parisienses não vivem constantemente sob ameaça de algum perigo como os israelenses."
Nadine Labaki (E Agora, Aonde Vamos?)
"Eu trabalhei com atores e não-atores. O processo de escolha é muito longo e delicado: uma equipe de vinte pessoas percorre o país inteiro e filma qualquer indivíduo que passe. Depois eu assisto a todos esses vídeos e seleciono as personalidades que me interessam. Às vezes é a maneira de se sentar, o sotaque, o temperamento... Às vezes, eu cruzo pessoas na rua e peço para atuarem no filme, simples assim. O mais engraçado foi com a personagem de Yvonne. Na verdade, esta mulher trabalha na Igreja, e ela veio apenas me falar que estava honrada que eu filme a cidade dela. Ela era incrível, eu não conseguia prestar atenção ao que ela dizia, eu olhava apenas o seu rosto e os seus gestos. Ela era perfeita! Quando eu escrevi o roteiro, a personagem já se chamava Yvonne, e quando ela me disse que este também era o seu nome, eu compreendi que era um sinal. Ela precisava estar no filme."
Isabelle Candelier (Adeus Berthe ou O Enterro da Vovó)
"Este filme traz um universo próximo da infância, e eu me identifico muito com isso. É um filme muito humano, porque o diretor acaba de ter cinquenta anos, e todos os atores, eu inclusive, têm praticamente esta idade. Foi surpreendente que ele fale da morte de maneira tão cômica e melancólica. Tudo é muito lúdico, um pouco à italiana. Nós não preparamos muito, porque a equipe já se conhecia muito bem. As coisas aconteceram de maneira natural. Além disso, eu perdi meus avós recentemente, e eu quis que meus pais vissem este filme, porque eu saberia que eles ficariam muito emocionados com a história."
Astrid Bergès-Frisbey (A Filha do Pai)
"O diretor, Daniel Auteuil, já tinha o elenco completo, faltava apenas a garota. Quando ele organizou os testes, eu fui com prazer, porque este foi o primeiro texto que eu apresentei em cena, quando fiz minhas primeiras aulas de teatro. Desta vez, eu podia me expressar com um pouco mais de maturidade! Ele queria que eu não visse o filme de 1940, para criar nossa própria versão desta história. Para mim, o mais difícil era a maneira de me comunicar, porque minha personagem não tem o sotaque do sul, já que ela foi criada em Paris. O escritor do texto, Marcel Pagnol, tem a poesia do sul, e foi complicadíssimo criar um personagem que não falava daquela maneira... Curiosamente, o único filme que Daniel Auteuil me pediu para ver foi A Terra Treme, do Luchino Visconti, que era sua grande obra de referência, pelo tom interiorano."
Jean-Pierre Denis (Aqui Embaixo)
"O filme fala sobre uma religiosa, dividida entre Cristo e um homem, um resistente. Mas eu mudei o nome da freira, e também o local de filmagem. Eu preferi filmar na minha cidade local, porque esta história é real, 33 pessoas morreram massacradas pelos alemães. Existem muitas famílias de sobreviventes, mas como eu queria explorar a intimidade deles, só a ficção poderia traduzir isso. Eu não tinha como dizer: 'Veja como isso realmente aconteceu'. Mesmo se alguém sabe como algo se passou na história de amor deles, eu não estava dentro do quarto, eu não posso dizer aos pais das vítimas que a verdade era essa."
Moussa Touré (O Barco da Esperança)
"Eu incomodo, porque sou um cineasta engajado. Eu sei disso, porque eu mesmo procuro temas que incomodam. Eu entrei no cinema porque eu precisava trabalhar, precisava alimentar minha família. Meu pai morreu quando eu tinha 13 anos, e todos meus irmãos são técnicos no mundo do cinema. Eu fui diretor de fotografia tanto para filmes africanos quanto para filmes franceses. Eu trabalhei muito com Bertrand Tavernier. Eu acabei conseguindo porque eu fazia meu trabalho com atenção. Eu sou um ótimo observador."