por Roberto Cunha
O ator Rodrigo Pandolfo está na cidade gaúcha por conta do trabalho realizado em Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida, que compete na categoria Longas Nacionais, mas pensando numa legião de fãs, tivemos um papo exclusivo com ele sobre um filme inédito e aguardado: Faroeste Caboclo. Sobre o outro filme citado ali no começo do texto, a gente vai publicar uma entrevista com ele, o diretor Matheus Souza e a atriz Clarice Falcão. Agora, vamos de Legião! ;)
Quando a notícia de que a música "Faroeste Caboclo" iria virar filme, na hora gerou um burburinho. Você tem noção de que faz parte de uma das produções mais aguardadas de 2012, pelo segmento jovem e fãs de Renato Russo, Legião Urbana ...?
Tenho sim. Essa ideia tem se consolidado como uma realidade a cada dia que passa. A todo momento, em cada esquina que eu passo, que eu comento sobre o filme com as pessoas, percebo que existe uma grande expectativa. É uma música que é um marco dos anos 80 para cá. Eu acredito que não tenha uma pessoa que não tenha ouvido "Faroeste Caboclo".
Você é jovem, não é da geração Legião Urbana, mas como muitos, entrou em contato com o trabalho do grupo e pow!, virou fã. Ouvir a banda fazia parte do seu cotidiano? Músicas “épicas” como "Eduardo e Mônica" e "Faroeste Caboclo" eram as preferidas ... digamos assim, faziam parte do teu “set list”, ou você era mais chegado nas outras canções?
Eu conheci Legião assim que o Renato Russo morreu. Lembro de ter tido curiosidade depois de ver a matéria sobre a morte dele no jornal. Aí eu comprei o meu primeiro CD, A Tempestade (1996), nessa época, e dali em diante comprei outros. Foi o primeiro disco que eu tive contato e me apaixonei pelo Legião Urbana. O segundo disco foi o dele cantando em italiano e depois o Quatro Estações (1989).
O fato de você ter comprado o disco dele (solo), em seguida, significa que você se ligou mais no Renato do que no próprio Legião?
Exatamente. De alguma maneira, a forma dele se expressar era muito contundente. Mas o Renato e a Legião estavam ali colados. Sobre a música Faroeste (da pergunta anterior), confesso que ela não estava entre as minhas preferidas. Sempre gostei de ouvir, mas nunca soube ela de cabeça. Já as pessoas fissuradas são capazes de cantar a música inteira sem errar uma palavra. E é uma música de 10 minutos! Jamais consegui cantar essa música inteira mesmo depois de ter feito o filme. Então, quer dizer, eu semprei gostei e não há música do Legião que eu desgoste, mas eu fazia parte do pessoal que gostava mais das músicas românticas.
Como surgiu o convite para o filme?
Eu fiz a série Afinal, o Que Querem as Mulheres?, do Luiz Fernando Carvalho, e o encontro para assistir o primeiro capítulo foi na casa da produtora Bianca de Felippes, da Gávea Filmes. Ela é super amiga dele, já conhecia o meu trabalho no teatro e eu conheci ela nesse dia. O René Sampaio, diretor do filme, já tinha visto duas peças minhas ("O Despertar da Primavera" e "R&J de Shakespeare") e aí eles me convidaram para fazer um teste de elenco. Na verdade, eles indicaram meu nome e a Marcela Altberg, produtora de elenco, me ligou. Eu fiz um teste e rolou.
Como é o seu personagem?
O Beto é um cocainômano (viciado em cocaína) e uma perfeita reprodução do jovem "perdido em Brasília", mas poderia ser em outro lugar.
É um filho de deputado, que tá li no meio daquela redoma que é a cidade, onde falta espaço para o jovem, gritar, se expressar e, as vezes, a droga acaba sendo o caminho para algumas pessoas se libertarem dessa dor. Ele já está num estado lamentável a ponto de vender coisas da própria casa para manter o vício.
E como é a conexão dele com os personagens principais? Ela é clara ou é algo paralelo? E qual é a ligação dele com João de Santo Cristo?
Quando João chega em Brasília já existe um grupo que se conhece desde criança, da escola, da faculdade. Eles são Maria Lúcia, Jeremias, o Beto, que é meu personagem e Cris. Fora o Jeremias, que foi pelo "lado negro", virando traficante, os outros três são como melhores amigos. Eu estou neste núcleo e sou apaixonado pela Maria Lúcia, tenho um encantamento por ela como mulher. E ela sabendo que estou indo para o lado negro com a droga, me evita.
Mas e o Santo Cristo?
A minha relação com ele é de rival porque eles (João e Maria Lúcia) começam a ter um affair e eu fico de escanteio, sofrendo por não ter conquistado o amor dela.
Então ele vai longe na trama?
O filme começa na Bahia e depois vai para Brasília. O início do filme eu não apareço, nem Maria Lúcia, que é a parte da infância do João até a adolescência, início da vida adulta. Isso passa rápido isso e quando ele vai para Brasília, a gente já aparece nos cenário jovem da noite de Brasília. Dali para o fim, eu apareço em vários momentos nos momentos festa, drogas etc. Ele tem cenas pontuais e não chega a ter um fim.
Existe essa rixa do Beto com João de Santo Cristo por a Maria Lucia estar ali no meio. Ele tenta fazer umas intrigas do Jeremias com Santo Cristo. Os dois de alguma forma acabam duelando por ela e eu fico ali observando aquilo, tentando acabar com os dois, covardemente. Ele não assume nenhuma postura de que realmente quer acabar e tenta comer pela beirada.
Essas coisas que você contou sobre seu primeiro contato e a "relação" que estabeleceu com a Legião interferiu de alguma forma na sua maneira de atuar? O Rodrigo fã, amarradão no som deles, entrou em cena ou o foco foi totalmente no personagem?
Com certeza apareceu. Não tem como não aparecer. Você está fazendo um filme que é uma concretização de uma das maiores letras de uma das maiores bandas do Brasil. Quer dizer, se essa banda me toca, me transforma de alguma maneira, é impossível eu ser uma peça desse jogo sem me emocionar. Eu encontrava o filho do Renato acompanhando as gravações ... Quando toca em qualquer lugar, agora, eu paro e preciso ficar um pouco sozinho, dar uma respirada, porque a experiência foi muito forte, contundente e positiva.
Numa das cenas, existe um show de um cover de Renato Russo, lá de Brasília, e quando o cara começou a tocar o set inteiro parou. Era como se Renato tivesse se personificado na nossa frente, a voz era idêntica. Então é impossível não se emocionar.
Emociona muito e eu me emocionei muito, em vários dias. Primeiro que você está em Brasília, no foco, onde o Renato viveu e onde a história da música, em parte. É impossível não se transformar com essa experiência.
Não sei se você pode falar sobre isso, mas uma das perguntas que os fãs devem estar loucos para saber é se vamos ouvir músicas originais. Essa cena que você falou era um cover do Renato?
Na trilha do filme? Eu não sei mesmo. O filme é uma ficção, não é em cima do Renato Russo, é em cima da música. Aquilo ali foi um momento só, uma única cena. Era um show que se passava numa garagem, como eles chamam os “inferninhos” lá, que sempre foi tradição ter show de rock nas garagens.
Mas eram músicas do Renato fase Aborto Elétrico, O Trovador Solitário ou já Legião? Quantas e quais músicas ele cantou?
Não lembro, mas foi no máximo duas. Confesso que não lembro. Mas provavelmente irá aparecer somente uma.
E eles encheram de figurantes para dar o clima do local, como foi?
Tinha muita gente e toda a figuração era de Brasília. E isso foi legal porque era a galera punk rock de Brasília, dando mais unidade ainda para nós, com aquele sotaque, e todos muito fãs do Renato. Lá, todos são muito fissurados nele. É o grande nome que saiu daquela cidade artisticamente falando. É um grande músico. Todo mundo é apaixonado por ele, se não todos, uma grande maioria.
E quando é a estreia?
A informação mais recente era que seguramente iria estrear neste semestre.
Obs.: O filme está previsto para 26 de outubro, mas mudanças acontecem.
Para ver o que mais está rolando aqui em Gramado, acesse nossa cobertura do evento.