por Francisco Russo, direto de Cannes
Após mais de três décadas, enfim Na Estrada ganhou as telas de cinema. O famoso livro de Jack Kerouac teve seus direitos adquiridos por Francis Ford Coppola em 1979, que desde então vinha tentando, em vão, adaptá-lo para a sétima arte. Já no século XXI, entrou em contato com o diretor brasileiro Walter Salles, que já havia trabalhado com o road movie em Diários de Motocicleta. Salles encampou o projeto, mas pediu tempo para conhecer melhor o tema do livro. Passou cinco anos entrevistando pessoas e viajando pelo interior dos Estados Unidos, preparando um documentário que serviu como laboratório. Agora, oito anos após entrar no projeto, Walter Salles veio a Cannes apresentar Na Estrada. O longa-metragem foi exibido hoje pela manhã para a imprensa mundial e o resultado foi bastante positivo.
O diretor Walter Salles no tapete vermelho do Festival de Cannes
Como o próprio diretor ressaltou na coletiva realizada após a sessão, não se trata da história da geração beat, mas dos anos que a precederam. Assim são apresentados Sal Paradise (Sam Riley) e Dean Moriarty (Garrett Hedlund), alter egos de Jack Kerouac e Neal Cassady, respectivamente. Sal é um aspirante a escritor que levava uma vida pacata em Nova York até ser engolido pelo furacão Dean. Inspirado pelo novo amigo, resolve viajar país afora para viver novas experiências.
O grande mérito do diretor foi conseguir reproduzir em Na Estrada o clima de liberalidade vivenciado pelos personagens principais, o que inclui temas sensíveis como sexo e drogas. A falta de pudor em sequências mais ousadas - há várias cenas de nudez parcial e até mesmo um ménage a trois envolvendo Riley, Hedlund e Kristen Stewart - surpreende, ainda mais vinda de um filme americano. Além disto, é nítido o clima de coesão entre os atores, mesmo os que aparecem em poucas cenas, algo importantíssimo num filme onde a amizade é o sentimento maior que os une.
Kristen Stewart em cena bastante sensual de "Na Estrada"
Na Estrada conta com dois grandes destaques em relação à atuação. Garrett Hedlund está bem à vontade como o sedutor Dean, não apenas no sentido de levar mulheres e homens para a cama mas também em conquistar o coração e a mente de seus amigos. É ele o grande eixo através do qual a história gira, trazendo um estilo de vida sem compromissos que acaba inspirando todos à sua volta. Quem também brilha é Kristen Stewart, em um papel bem diferente de tudo que já havia feito até então. Sua Marylou transmite uma tensão sexual permanente ao mesmo tempo em que mantém o olhar de apaixonada em relação a Dean. O que não a impede de, também, vivenciar novas experiências.
Questionada na coletiva sobre a ousadia da personagem, Kristen Stewart disse que adora se arriscar. "Marylou pula do livro e te beija. Ela nunca foi rebelde contra nada, apenas queria ser ela mesma. É a personagem que mais incorpora o espírito do livro", declarou. Convidada pelo diretor a estrelar o filme em 2006, ou seja, ainda antes de Crepúsculo, a atriz agradeceu o fato das filmagens terem demorado a acontecer. "Achei bom poder envelhecer um pouco antes de rodar este filme, já que na época tinha apenas 16 anos. Adoro expandir meus limites, sentir medo. Além do mais, se você for honesta consigo mesma não há porque se envergonhar de qualquer papel", completou.
Da esquerda para a direita: Kirsten Dunst, Sam Riley, Kristen Stewart, Walter Salles e Garrett Hedlund
Com belas paisagens e uma trilha sonora linda, Na Estrada peca apenas por ser um pouco longo demais - sua duração é de 137 minutos. Mérito também da turma habitual que trabalha com Salles, como o compositor Gustavo Santaolalla e o diretor de fotografia Eric Gautier, ambos de Diários de Motocicleta.
Com distribuição da PlayArte, Na Estrada tem previsão de lançamento no Brasil para 13 de julho. Logo abaixo você pode conferir o trailer legendado do longa-metragem.
Na Estrada
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