por Bruno Carmelo
Na última cerimônia do Oscar, o filme francês O Artista saiu com cinco estatuetas, incluindo alguns dos prêmios mais importantes: melhor filme, melhor diretor, melhor ator... Mesmo assim, até o dia 28 de fevereiro, o filme arrecadou apenas $31.8 milhões nos Estados Unidos. Se for levado em consideração o custo de sua produção ($16 milhões), mais os custos de publicidade (orçados entre $20 e $30 milhões), o grande vencedor do Oscar sequer cobriu seus gastos por enquanto. Desta maneira, ele torna-se o segundo Oscar de melhor filme com pior bilheteria dos últimos dez anos, atrás apenas de Guerra ao Terror ($17 milhões).
Mas o poderoso produtor Harvey Weinstein está disposto a mudar esta situação. Confiante no potencial deste filme mudo e em preto e branco, ele decidiu aumentar o número de cópias do filme nos Estados Unidos de 965 para 2.000, logo após o Oscar. A maioria dos produtores de Hollywood julga esta estratégia uma loucura, algo que agravará ainda mais a relação custo-benefício da produção.
No Brasil, por exemplo, O Artista apresenta um desempenho modesto, com um leve aumento de público de 16% na semana que antecedeu o Oscar, estando presente em 54 salas - para se ter uma ideia, Motoqueiro Fantasma - Espírito de Vingança está sendo exibido em 242 salas.
Vale lembrar que o projeto de O Artista sempre deixou os produtores e exibidores céticos, mesmo antes de sua realização. O filme foi inclusive filmado em cores - uma decisão bastante comum para obter o resultado final em preto e branco - mas os produtores descartam a possibilidade de lançá-lo numa versão colorida. Também não ajuda o fato do ator e nova estrela nos Estados Unidos, Jean Dujardin, aparecer alguns dias após o Oscar no filme francês Les Infidèles ("Os Infiéis"), considerado nos Estados Unidos como vulgar e machista. (No pôster ao lado, o slogan diz "Eu vou entrar em uma reunião", em clara referência sexual).
De qualquer modo, a vitória de um filme mudo e em preto e branco no Oscar pode ser considerada em si mesma uma proeza. A única produção muda que havia conseguido o mesmo feito foi Wings, em 1927 - época em que a grande maioria da produção de cinema ainda não era sonora.