Nesta quinta-feira (20) estreia nos cinemas brasileiros O Brutalista, um longa-metragem cotado na corrida pelo Oscar 2025. Dirigido pelo conceituado Brady Corbet, o enredo apresenta um drama amplamente elogiado pela crítica, iluminado pelos protagonismos de Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce e mais.
A trama vê seu início no final da década de 1940, estendendo-se, ao longo dos anos seguintes, com Brody no papel de László Tóth - um arquiteto húngaro que, durante o horror do regime nazista, foge da Europa para os Estados Unidos. Ao chegar na suposta terra da liberdade, ele acaba descobrindo que as aparências podem enganar, principalmente quando inicia uma relação profissional ambiciosa com o magnata Harrison Von Burren (Pearce).
Durante uma entrevista recente concedida para o AdoroCinema, o diretor e parte do elenco abriram-se sobre os bastidores de O Brutalista, compartilhando conosco as particularidades de rodar um filme de magnitude tão grande. Entre detalhes contratuais, construção de personagem e elogios ao elenco, confira abaixo o desenrolar dessa conversa:
AdoroCinema: Adrien, pode-se afirmar que O Pianista foi um dos grandes sucessos de sua carreira, um filme que, inclusive, lhe rendeu um Oscar. Você acha que é possível traçar um paralelo entre a sua experiência em O Pianista e O Brutalista?
Adrien Brody: Existem sim paralelos. Eu acho que eles são filmes e personagens vastamente diferentes. No entanto, ambos existem e representam as repercussões da Segunda Guerra Mundial e o florescimento do anti-semitismo e as dificuldades e perdas daquele período da história.
O trabalho que eu fiz para honrar o personagem Szpilman, em O Pianista, definitivamente me deu o entendimento dos horrores daquele tempo. E embora essa seja a história de fundo na experiência de László em O Brutalista, acho que foi inestimável para minha capacidade de retratar e compreender o significado disso em uma história que é a jornada de um homem que chega aos Estados Unidos logo após aquela guerra e aquele momento da história, tentando começar uma nova vida.
AdoroCinema: Brady, O Brutalista conta a história de um artista e de um homem rico, mergulhando na relação de exploração vivida pelo personagem de Adrien Brody. Você acha que é possível associar esse relacionamento com algum sistema existente em Hollywood?
Brady Corbet: Com certeza. Eu acho que o capitalismo é inerentemente explorador; e ainda assim, parece ser o único sistema que funciona. Isso que é complicado sobre ele. Mesmo no socialismo democrático, se você começar a olhar debaixo do capô, você achará capitalismo.
Vejamos, por exemplo, o experimento social da Noruega, que é um dos mais bem-sucedidos desses experimentos sociais utópicos. Bem, isso é muito à custa do resto do mundo, porque o seu principal produto de exportação é o petróleo. Hoje, todo mundo dirige um Tesla, e no entanto é o resultado da empresa ter lucrado na década de 1970 com, você sabe, essa substância que está arruinando o planeta rapidamente. Acho que o que é interessante sobre o capitalismo é que ele é onipresente. É algo com o qual todos nós, é claro, temos que lidar.
AdoroCinema: Relatórios anteriores afirmam que O Brutalista levou sete anos para ganhar vida, experienciando momentos difíceis nos bastidores. É verdade que as seguradoras se recusaram a aprovar a produção porque o roteiro era muito longo? Como você as convenceu do contrário?
Brady Corbet: Hum, você sabe, eu sou muito, muito teimoso. E então continuei a bater em certas coisas até que elas finalmente foram feitas. Uma seguradora não se importa com a duração do roteiro se você tiver tempo e dinheiro suficientes para filmá-lo. O problema era, claro, que havia muitas preocupações de que eu não conseguiria entregar o filme nos 33 dias que nos foram atribuídos.
Mas você sabe, fiz filmes toda a minha vida, é a única área em que sou experiente. Neste momento da minha vida, tenho uma percepção de profundidade muito boa e sei quanto tempo as coisas levam. Eu estava muito confiante de que, embora o roteiro tivesse 170 páginas, eu seria capaz de entregá-lo em 33 dias. E eu fiz.
AdoroCinema: Outra coisa, é verdade que o orçamento do filme foi de apenas 10 milhões de dólares. Se sim, como você conseguiu fazer algo tão grandioso com relativamente tão pouco?
Brady Corbet: 10 milhões é muito dinheiro, na verdade. Não é muito dinheiro para um filme que se estende por 35 anos, com 170 páginas e com mais de três horas de duração; mas você sabe, ainda é muito dinheiro.
É um grande privilégio poder gastar essa quantia para realizar uma espécie de sonho que você já teve. Acho que a principal questão seria: por que tantos outros projetos custam tanto dinheiro? Eu realmente não sei. De fato, precisávamos de um adicional, eu diria, de 2 a talvez 3 milhões de dólares para tornar o filme mais confortável e, você sabe, pagar às pessoas o que elas realmente valem. Eu nunca pensei comigo mesmo: ‘Deus, eu gostaria de ter 40 milhões a mais.
Infelizmente, isso é um grande problema na indústria cinematográfica. Há muitos gastos equivocados - e há diversas razões para isso. É muito complicado, complicado demais para entrar em uma entrevista tão curta. Pessoalmente, como espectador de cinema, eu gostaria que as pessoas estivessem fazendo mais filmes. Então, em vez de fazer um filme por 200 milhões, talvez faça 20 filmes, ou digamos, 10 filmes.

AdoroCinema: Guy, a relação entre os personagens László e Harrison é composta por uma série de dualidades, como admiração e inveja, aliança e exploração e outras. Como foi para você dar vida a um personagem tão humano; tão complexo?
Guy Pearce: Ah, bem, foi uma verdadeira honra, para ser honesto. Foi uma grande oportunidade. O roteiro apareceu e você sabe, roteiros como esse e personagens como esse não aparecem o tempo todo. Fiquei animado. Eu realmente senti que era um personagem que eu sabia que poderia interpretar.
Havia ainda coisas que me surpreenderam quando começamos a filmar. Eu não necessariamente entendia como Adrien interpretaria László. Ele o interpretou com um grande senso de força interior e integridade interior, que foi uma coisa ótima e um pouco enervante para mim, porque acho que meu personagem presumiria que László seria um homem pronto em consentir e se tornar uma vítima. Acho que talvez seria assim que meu personagem presumiria que alguém com a formação de László pudesse se comportar.
Mas Adrien não o interpretou dessa forma. De certa forma, acho que foi isso que ajudou a justificar e alimentou a inveja que eu sentia por László; tinha mais a ver com seu senso de identidade do que apenas com sua habilidade como arquiteto. Então foi ótimo. Havia muito com que trabalhar. Foi fantástico.
AdoroCinema: E você gostou de trabalhar com Felicity Jones, Adrien Brody e Brady Corbet? Como eles eram por trás das câmeras?
Guy Pearce: Felicity e eu já havíamos trabalhado juntos antes [em Paixão Inocente] e eu a adoro. Eu realmente a amo. Trabalhamos juntos em 2011 e ela é uma humana muito engraçada, doce e um lindo ser. Eu adoro estar perto dela.
Adrien, com quem eu não tinha trabalhado antes, é divino. Ele realmente é inteligente, muito dedicado, um verdadeiro artista e muito boa pessoa. Ele tem um grande coração e é uma espécie de ser humano comovente. Então, ele estava muito inspirador, devo dizer, e um tanto intimidante. Fiquei um pouco intimidado por ele. Brady é muito fácil de lidar.
Quando filmamos, eu já havia tido diversas conversas telefônicas com Brady. Então, eu tive uma noção de como ele estava relaxado sobre o que estamos fazendo juntos. Brady não é pretensioso. Ele não trata sua arte de uma forma que deixe você nervoso. Ele, na verdade, faz o oposto. Ele faz você se sentir relaxado e confiante.