Quem acompanhou a repercussão do 82º Globo de Ouro pelas redes sociais notou que além das comemorações pela grande vitória de Fernanda Torres, um dos assuntos mais comentados foram as controvérsias ao redor de Emilia Pérez. O maior vencedor da noite levou quatro prêmios, mas também o maior motor de polêmicas durante e após a cerimônia, mas por quê?
Além dos Golden Globes, o musical foi premiado duplamente no Festival Internacional de Cinema de Cannes 2024. Ele levou o Prêmio do Júri e Karla Sofía Gascón, Selena Gomez, Zoe Saldaña e Adriana Paz o troféu de Melhor Atriz em conjunto. Apesar das láureas e das críticas positivas, parte do o público, da imprensa especializada e dos membros da indústria cinematográfica rejeitaram o filme.
O principal ponto levantado é que a campanha de Emilia Perez defende ser um filme que homenageia o México, mas a tese é contraditória. O longa representa a França, foi filmado em estúdios parisienses que simulavam cenários mexicanos, e tem um elenco e equipe criativa formados quase cem por cento por estadunidenses e europeus. A única atriz mexicana é Adriana Paz, que não foi inscrita pelo estúdio em nenhuma premiação e não participou da turnê de imprensa.
Faltou dever de casa em Emilia Perez?
O diretor Jacques Audiard não se ajudou ao confessar que não incluiu uma pesquisa profunda sobre o país no qual a trama de seu filme se passa para desenvolver a trama:
“Não, eu não estudei muito. O que tinha que entender, eu já sabia um pouco. Só pesquisamos detalhes, viemos ao México apenas para ver atores e possíveis cenários”, disse em entrevista ao site Paloma y Nacho.
Quem também recebeu muitas represálias por não se dedicar aos estudos foi Selena Gomez. Uma cena de sua personagem, Jessi, foi divulgada nas redes sociais e diversos hispanohablantes apontaram seu pouco domínio do espanhol. Em resposta, a atriz, que é filha de mexicanos, argumentou que não teve tempo para se aprofundar na fluência:
“Eu entendo de onde isso vem. Sinto muito por ter feito o melhor que pude com o tempo que me foi dado. Isso não diminui quanto trabalhei e coloquei o coração nesse filme”, escreveu nos comentários de um podcast que a criticava.
Estereótipos de pessoas mexicanas e trans provocam desconforto
Além da performance de Selena, o próprio roteiro de foi alvo de rejeição. Foi apontado que há expressões, gírias e construções de frases má empregadas de acordo com a gramática e oralidade da língua espanhola. Os mexicanos também expressaram seu descontentamento com os estereótipos de seu povo e de seus costumes.
Mais à fundo, a trama foi repreendida por representar a violência do narcotráfico e do crime organizado de maneira leviana. Uma usuária do X - antigo Twitter - comentou que os mexicanos não querem “um diretor francês branco retratando a violência que temos que enfrentar todos os dias. Não sou contra artistas estrangeiros fazerem filmes sobre outros países, desde que tenham uma boa pesquisa, e Emilia Pérez não tinha isso”.
Outro perfil ainda relembrou que a falta de sensibilidade não atinge todas as produções europeias sobre a América Latina citando A Sociedade da Neve. Além do longa espanhol, a dramédia Ficção Americana também foi mencionada para contrapor o musical francês:
Na esfera de gênero, a Aliança Americana Gay e Lésbica Contra a Difamação (GLAAD) se prontificou a afirmar que Emilia Pérez “é um passo para trás na representação trans”. A ONG reuniu testemunhos de jornalistas e ativistas transgênero e queer que ficaram incomodados com a maneira pela qual a personagem de Karla Sofía Gascón foi retratada. Clichês derrogatórios como a repetição do nome morto dela, sua descrição como “meio homem/meio mulher”, e a trama da mulher trans que abandona a família para transicionar foram mencionados pelo artigo.
Depois de estrear no Festival do Rio 2024, Emilia Pérez chega aos cinemas brasileiros em 5 de fevereiro.
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