Joaquin Phoenix demonstrou uma versatilidade extraordinária, capaz de explorar as profundezas mais complexas do ser humano em cada um de seus papéis. Sua dedicação e entrega física em O Mestre, a solidão e fragilidade de Her, o desespero por meio do humor melancólico em Vício Inerente, até a espiritualidade serena em Maria Madalena ou a violência contida em Você Nunca Esteve Realmente Aqui.
Mas é em Coringa que Phoenix leva suas habilidades ao limite, apresentando um desempenho em que a risada assombrosa e exagerada se torna um reflexo patológico da instabilidade mental. No novo Coringa: Delírio a Dois, o ator reprisa o papel de Arthur Fleck, agora preso no Asilo Arkham, onde forma uma conexão perigosa com Harley Quinn (Lady Gaga), outra paciente psiquiátrica com a qual ele pretende desencadear um novo caos em Gotham.
Coringa: Delírio a Dois traz de volta um personagem surpresa de Batman!Como um filme de 96 anos moldou o Coringa moderno
Uma das inspirações mais importantes para a encarnação do Coringa por Phoenix é o filme mudo de 1928, The Man Who Laughs (O Homem que Ri), dirigido por Paul Leni. Nesse filme, Conrad Veidt interpreta Gwynplaine, um personagem cujo sorriso permanente, resultado de uma deformidade facial, faz dele um símbolo trágico e perturbador. O estilo físico de Phoenix em Coringa reflete muitos dos elementos característicos de Veidt.
Em O Homem que Ri, Veidt usa de sua expressão para acentuar seu sofrimento interior, algo que Phoenix imita ao incorporar um estilo minimalista na atuação, em que cada movimento parece cuidadosamente calculado para gerar uma resposta emocional no espectador. As cenas em que o Coringa dança ou caminha pelas ruas com movimentos quase coreografados evocam diretamente as técnicas do cinema mudo.
Além disso, a imagem de Gwynplaine, com seu sorriso permanentemente deformado, foi uma das principais inspirações para o design do Coringa, mesmo antes da versão de Phoenix. O romance de Victor Hugo, no qual o filme se baseia, conta a história de um homem desfigurado de modo que seu rosto sempre parece estar rindo, criando uma profunda dicotomia entre sua expressão exterior e seu tormento interior.
Essa imagem assombrosa repercutiu entre os criadores do Coringa, Bob Kane, Bill Finger e Jerry Robinson, que adotaram o sorriso sinistro de Gwynplaine para o Príncipe Palhaço do Crime na primeira edição de Batman para os quadrinhos, em 1940.
O tom sombrio de O Homem que Ri também influenciou a construção narrativa do Coringa como um personagem trágico, cuja deformidade física reflete sua exclusão social e emocional. O filme de 1928 traça um paralelo entre a inocência de Gwynplaine e a crueldade do mundo ao seu redor, uma ideia que tem sido recorrente na evolução do Coringa, desde histórias como A Piada Mortal, de Alan Moore, até Coringa: Delírio a Dois, de Todd Phillips, que já pode ser visto nos cinemas.
*Conteúdo Global AdoroCinema