"Eles estavam mortos desde o começo", "o pior final de todos os tempos", "não responderam todas as perguntas". Se você acompanha o mundo das séries, provavelmente já ouviu essas frases direcionadas ao polêmico último episódio de Lost após seis temporadas, exibido originalmente na televisão em 23 de maio de 2010 pela ABC.
Exibida de 2004 a 2010, Lost marcou a cultura pop como poucas séries conseguiram e mudou a TV para sempre, só que teve um final considerado um dos piores da história. Mas será que esse é um rótulo merecido? Lost está completando 20 anos de lançamento, então é um momento propício para falar sobre – e desmistificar muitas coisas.
O episódio final na 6ª temporada de Lost mostra a última batalha de Jack Shephard (Matthew Fox) contra O Homem de Preto/John Locke (Terry O'Quinn) para salvar a ilha, enquanto temos flash-sideways dos personagens principais da série se reunindo em uma igreja. Depois de salvar a ilha e passar o título de guardião para Hurley (Jorge Garcia), Lost se despedia do público após seis temporadas com Jack fechando os olhos e morrendo deitado na floresta ao lado do cachorro de Walt (Malcolm David Kelley).
Eles estavam mortos o tempo todo em Lost? Esclarecendo umas das maiores mentiras da TV
O problema é que, logo após a exibição do final de Lost, muitas pessoas terminaram a série pensando que os sobreviventes do Oceanic 815, na verdade, estavam mortos desde o começo. Por isso mesmo, é importante tirar o elefante da sala e esclarecer isso de uma vez por todas: Os personagens não estavam mortos desde o começo de Lost!
Ao longo das temporadas, a estrutura narrativa de Lost contou com muitos flashbacks e flashforwards, mas a 6ª temporada introduziu uma novidade: flashsideway. Como descobrimos no episódio final, eles se tratavam de uma espécie de pós-vida/mundo espiritual desses personagens após suas respectivas mortes, até o reencontro deles naquela igreja – para que, assim, eles finalmente conseguissem seguir em frente.
O curioso é que temos o reencontro entre Jack seu pai na igreja, e após descobrir que está morto, Christian Shephard (John Terry) diz para ele: "Tudo o que aconteceu com você é verdade. As pessoas na igreja também são de verdade... Todo mundo morre um dia, filho. Algumas pessoas antes de você, outras muito tempo depois", o que era para ter deixado bem claro para os fãs que cada um dos personagens morreu em seu respectivo tempo.
Mas como surgiu essa narrativa falsa? Em um artigo da Vulture, os criadores de Lost explicam que isso veio da decisão de colocar uma sequência pós-créditos com destroços do avião na praia. A intenção era de suavizar a transição entre o final emocionante da série e um comercial da Proctor & Gamble em seguida, mas tudo deu errado.
"O problema era que o público estava tão acostumado em Lost à ideia de que tudo tinha significado, propósito e intencionalidade. Então eles leram naquela filmagem no final que, você sabe, eles estavam mortos. Essa não era a intenção", esclarece Carlton Cuse.
"Nunca nos ocorreu que olhar para os destroços do avião na praia durante os títulos finais seria percebido como uma espécie de grande revelação", lamenta Damon Lindelof. "Quer você goste do final ou não, isso não me incomoda muito. Mas essa ideia – eles estavam mortos o tempo todo – nega todo a série, nega todo o ponto da série".
Um encerramento emocionante e digno para a jornada dos personagens de Lost
É importante ressaltar que está tudo bem não gostar do final de Lost. Claro, desde que isso não esteja relacionado com interpretações equivocadas sobre esse encerramento, como a de que todos estavam mortos desde o começo – uma narrativa que se tornou um senso comum e, até hoje, é repetida a rodo para criticar a conclusão da série.
Uma coisa que não podemos negar é que uma série tão grande como Lost dificilmente teria um final que agradaria todos os fãs. Desde o começo, a série apresentou essa dualidade entre fé e razão, muito representada pelo conflito de Locke e Jack, como ponto central de sua trama. Ao longo das temporadas, a produção também abraçou isso narrativamente, hora com elementos de ficção científica, outros momentos com fantasia.
Esse é um dos motivos para o final de Lost também ter sido tão divisivo, já que a última temporada optou por uma conclusão mais "espiritual", e decepcionou muita gente.
De qualquer forma, esse encerramento condiz com o que a série apresentou desde o primeiro episódio, valorizando a jornada de seus personagens e o relacionamento que todos eles tiveram ao longo de suas vidas. Uma conclusão bastante poética e emocionante, que não merecia a fama de um dos piores finais de todos os tempos.
Lost ficou famosa pelos seus mistérios e, realmente, várias coisas ficaram sem explicação – enquanto outras foram resolvidas ao longo das temporadas. A questão é que nem tudo precisa de uma resposta. E isso não é uma passada de pano para os criadores, que se perderam com muitos elementos criados, mas isso realmente deveria ser o mais importante em uma história que sempre foi sobre pessoas e suas relações na ilha ou fora dela?
Independente do seu final, Lost é uma série que mudou para sempre a TV e nos apresentou uma narrativa rica de personagens e mistérios que vale a pena ser (re)visitada hoje em dia com o coração aberto para a jornada – e sem as expectativas da época.
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