Presente no folclore brasileiro, o mito do lobisomem não é exclusivo do nosso país. A lenda que acompanha um ser humano se transformando em uma criatura lupina sob a luz da lua cheia também está presente em culturas de todo o mundo - e, naturalmente, tais histórias se tornaram muito populares nas diferentes formas de mídia.
Existem grandes obras que compõem a filmografia licantrópica, se assim podemos dizer, como A Maldição do Lobisomem, Lua Negra, Amaldiçoados e o queridinho de muitos Um Lobisomem Americano em Londres. Dentre essas tramas, é possível encontrar histórias que vão da comédia (Um Lobo entre Nós) à releituras de contos infantis (A Garota da Capa Vermelha), mas é certo que a maioria das tramas segue uma estrutura comum.
Qual é a história de Sinistro?
Após ver o fracasso de perto com Filha do Mal, o diretor William Brent Bell decidiu seguir para outro lado do terror. Em 2013, o cineasta lançou o controverso Sinistro: A Maldição do Lobisomem, filme que, apesar de ter dividido público e crítica, apresentou ótimos elementos cinematográficos responsáveis por reintroduzir o mito da criatura de maneira criativa.
A trama tem início após uma família sofrer um ataque mortal. Enquanto a polícia inicia a investigação que coloca um animal não identificado como primeiro responsável, um homem é preso como principal suspeito. A advogada de defesa Kate (A. J. Cook), então, assume o caso em defesa do misterioso indivíduo. Aos poucos, ela e sua equipe passam a achar que essa situação vai muito além do que parece.
Uma câmera na mão e muitas ideias na cabeça
William Brent Bell não tem uma das carreiras mais exaltadas da indústria cinematográfica, mas um dos pontos consistentes em sua jornada é a forma inovadora como introduz o público a histórias de terror. Após passar quase dez anos sem comandar longas-metragens, o realizador lançou Stay Alive: Jogo Mortal. Inspirado pelo sucesso e dinâmica de Jogos Mortais, ele traz o mundo dos videogames para uma história macabra.
Ainda em sua filmografia, o cineasta também ficou responsável por Boneco do Mal, Órfã 2: A Origem e recentemente O Senhor do Caos, todos os filmes que fogem de tramas comuns para colocar o absurdo em pauta, como uma entidade maligna. Entre estes projetos está Sinistro, projeto escrito por ele ao lado de Matthew Peterman (Filha do Mal).
13 filmes de lobisomem para entrar no clima de HalloweenCom 1h e 30 minutos de duração, o filme consegue prender a audiência, inicialmente, pelo mistério acerca do assassinato de uma família de férias. Logo de cara, é possível ver o uso de elementos do found footage para compor a narrativa. Popularizado por A Bruxa de Blair e Atividade Paranormal, o recurso é construído a partir de registros amadores, normalmente com cenas gravadas por personagens ou por trechos feitos a partir de câmeras do estabelecimento onde a ação acontece.
Esse tipo de técnica é utilizada para trazer um ar orgânico à trama, um quê de veracidade, do real, para as telas. Além disso, é também um meio de criar uma atmosfera de paranoia, em que tudo o que acontece sob ou à frente das lentes é fruto de uma observação externa, de um ser oculto que pode tanto ser o próprio espectador quanto uma entidade maligna que ronda a narrativa.
Em Sinistro, o found footage surge para emular uma sensação de falso documentário, mesmo que nunca assuma essa posição. Isso é apoiado por diversos recortes de telejornais, que ajudam a trama a avançar, bem como uma direção pouco polida nos momentos diante da "câmera comum".
William utiliza a shaky cam (ou câmera na mão/tremida em um bom português), técnica comum em filmes de ação e aventura, usadas para dar ritmo e inserir o público nos pontos de tensão ou adrenalina da história. Em Sinistro, a ideia é dar um grau de realismo ao enredo - e isso nos leva a outro tópico importante.
O mito do lobisomem sob uma nova perspectiva
O diretor também opta por colocar a narrativa nos trilhos de uma história de investigação. A tensão aumenta gradativamente ao longo do projeto, enquanto são inseridos diversos pontos que deixam a audiência em dúvida (e que, infelizmente, o subtítulo nacional estraga): Talan Gwynek realmente é um assassino ou merece a dádiva da dúvida?
Os problemas de Sinistro começam a aparecer não apenas por uma ou outra atuação exagerada, mas por perder a atmosfera construída durante todo o filme nos momentos de grande revelação. Antes disso, o cineasta coloca interessantes argumentos no caminho dos protagonistas, incluindo a ciência como veículo para compreender o que houve.
Lobisomem na Noite aposta em “carta de amor aos monstros” que diverte, assusta e refresca ares da Marvel (Opinião)Até chegar ao ápice da trama, uma carga de ação e violência é despejada na tela - e neste ponto é impossível desgrudar os olhos da tela. Embora exista pressa na conclusão da história, e essa seja responsável pelo esgotamento do seu charme, Sinistro é um daqueles filmes de terror que merece ser visto por sua nova abordagem sobre um tema em esgotamento.
Disponível na Netflix, o projeto é um belo exemplo de que, mesmo quando a execução é imperfeita, é sempre bom acompanhar novas perspectivas através da sétima arte.
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