Há muitos anos que Hollywood depende da influência do mercado chinês para tornar rentáveis as suas grandes produções. É verdade que esta relação comercial não atravessa o seu melhor momento, pois acontece que este ano marca o 30º aniversário da estreia naquele país do filme que abriu a China aos blockbusters nos Estados Unidos.
Embora tenha sido lançado no resto do mundo em 1993, demorou até 1994 para que O Fugitivo se tornasse o primeiro sucesso de bilheteria de Hollywood a estrear na República Popular da China em quase uma década. O anterior tinha sido Rambo 2 - A Missão em 1985.
"Isso nunca vai funcionar": Harrison Ford e Tommy Lee Jones pensaram que não iriam trabalhar novamente depois de O FugitivoUm grande sucesso
Seu sucesso foi indiscutível, já que faturou 25,8 milhões de yuan chinês, o equivalente a pouco mais de três milhões de dólares na época. Pode não parecer muito, mas considera-se que O Fugitivo foi o filme de maior bilheteria de 1994 na China, ajudando a aumentar novamente o interesse do público no país.
Talvez este fenômeno tenha sido ajudado pelo fato de O Fugitivo ter chegado à China tanto com a reputação de ser um sucesso comercial indiscutível, como com um prestígio artístico irrefutável. No final das contas, o filme de ação estrelado por Harrison Ford foi uma surpresa e recebeu sete indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme. O jackpot finalmente foi para a A Lista de Schindler, mas Tommy Lee Jones levou para casa a estatueta reservada ao Melhor Ator coadjuvante do ano.
Lembremos que O Fugitivo teve a honra de ser o primeiro, em parte por uma questão de timing, já que na China chegaram a um acordo para começar a abrir o acesso a produções estrangeiras em seus cinemas. A razão é que produtores, expositores e distribuidores estavam passando por um momento difícil e a indústria ameaçava falir.
Foi uma estratégia chinesa
Foi lá que as autoridades viram que era preciso abrir a mão e chegar a um acordo de partilha da renda se as grandes produções de Hollywood também quisessem estrear ali. É claro que a primeira tentativa foi bem-sucedida, mas a Warner não ganhou muito com isso, pois estima-se que recebeu apenas 400 mil pelo lançamento de O Fugitivo na China.
Contudo, o sucesso da estratégia chinesa foi indiscutível, uma vez que o número de ingressos vendidos durante o primeiro semestre de 1995 cresceu 50% face ao mesmo período do ano anterior. O impacto foi especialmente palpável em Pequim, onde a frequência ao cinema aumentou 70% durante esse verão, em comparação com 1994. Não houve regresso.
A China continuou a abrir cada vez mais a mão nos últimos anos, primeiro permitindo o lançamento de dez filmes estrangeiros de 1995 a 1999, aumentando esse número para 20 entre 2000 e 2011. Já em 2012 introduziu uma nova mudança, 20 filmes poderiam ser lançados, e pelo menos 14 em formato melhorado -IMAX e 3D.
Robert Downey Jr. prefere ser preso a aparecer novamente neste filme: “O pior filme de ação de todos os tempos”Tudo isto com a ideia de, a partir de determinado período, acompanhar de perto o desenvolvimento do cinema chinês, que encontrou o que poderia ter sido um momento crítico em 2012. O cinema estrangeiro ultrapassou nesse ano metade da quota de mercado - concretamente, 52% -, mas foi algo específico, já que o cinema chinês recuperou a liderança em 2013 e nunca mais a perdeu.
Um triunfo com um grande "mas"
Que filmes se seguiram a O Fugitivo? A China lançou seis filmes de Hollywood em 1995 – todos eles tiveram um desempenho muito bom, com exceção de Forrest Gump – O Contador de Histórias, que não se conectou com a sensibilidade da população chinesa. O maior sucesso de todos foi True Lies, que multiplicou por quatro a receita de O Fugitivo e permaneceu como o filme norte-americano de maior bilheteria na China até o lançamento de Titanic em 1998.
É claro que as produções locais demoraram muito mais para decolar, a tal ponto que os faturamentos dos filmes chineses continuaram a diminuir ao longo dos anos 90. Na verdade, estima-se que as suas receitas caíram 65% entre 1994 e 1999, atingindo o fundo do poço em 2000, com arrecadações estimadas em 97,8 milhões de dólares, valor muito inferior aos 290,9 milhões que tinha gerado em 1991.
No entanto, aquele aumento da quota no ano 2000 mencionado anteriormente, que permitiu a estreia de 20 produções estrangeiras em vez das 10, foi talvez um incentivo para os cineastas chineses tomarem consciência do tipo de filme que o público procurava.
Além disso, o governo chinês introduziu uma lei em 2001 para forçar os cinemas que quisessem lançar estes filmes estrangeiros a atualizarem as suas instalações. Isso motivou uma melhoria que também convidou mais pessoas a quererem ir ao cinema. O que faltava eram produções locais que realmente conectassem os espectadores chineses.
Por isso, títulos mais atrativos e com ritmo mais animado começaram a ser promovidos para reconquistar o público. Já em 2002 tiveram seu primeiro grande prêmio com Herói, o filme de maior bilheteria do ano cujo faturamento no país quase multiplicou por cinco o de O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel. Além disso, a obra de Zhang Yimou também teve uma ótima exibição nos cinemas do resto do mundo – só nos Estados Unidos arrecadou 53 milhões de dólares.
*Tradução de site parceiro do AdoroCinema
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