Próximo de completar um século de existência, o Oscar tem prestigiado animações com uma categoria única há apenas 23 anos. Não se trata de um esquecimento completo à linguagem, visto que alguns longas-metragens no estilo foram premiados ao longo da história.
A memória quanto a filmes animados na cerimônia quase sempre se remete a filmes da Walt Disney, como Branca de Neve e os Sete Anões, que recebeu uma menção honrosa, e A Bela e a Fera, que foi o único longa animado indicado na categoria de Melhor Filme, em 1991, antes da honraria ganhar a nomeação oficial.
Aranhaverso, Wish e Gato de Botas 2: Semelhanças, diferenças e importância do estilo de animação que encantou o mundoDécadas após o início da honraria, depois de A Fuga das Galinhas ser esnobado pela Academia, a categoria de Melhor Animação foi criada. Desde então, projetos como A Viagem de Chihiro, Procurando Nemo, Os Incríveis, Frozen, Pinóquio de Guillermo del Toro e Homem-Aranha no Aranhaverso conquistaram estatuetas de ouro e, assim como outras áreas da sétima arte, demonstraram uma avanço interessante na forma de se contar histórias.
Prestigiando uma das maneiras mais inventivas de se fazer cinema, chegamos à 96ª edição do Oscar neste domingo, 10 de março, com uma das safras mais interessantes a curta vida desta categoria, com uma disputa entre O Menino e a Garça, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, Meu Amigo Robô, Nimona e Elementos.
Apesar dos filmes da Sony Pictures Animation e do possível último filme de Hayao Miyazaki serem os favoritos da competição, todos os longas seguem um rigor de excelência. Inclusive, há projetos que ficaram de fora da edição, como As Tartarugas Ninja: Caos Mutante, Super Mario Bros. e Suzume, que merecem uma menção. Com traços, estilos, gêneros e maneiras diferentes de se apresentar uma narrativa, ao fim, quem ganha ao acompanhar o Oscar e as demais premiações é o público.
Abaixo, conheça mais detalhes sobre os projetos indicados, uma seleção que representa a jornada das animações até o momento e a pluralidade da linguagem.
Meu Amigo Robô | Youtube - Compra ou aluguel digital
Baseado no quadrinho homônimo de Sara Varon, Meu Amigo Robô conta a história de Dog, um cachorrinho que mora em Manhattan, que ao se sentir cansado de ficar sozinho decide comprar um robô para ser seu companheiro. Ao ritmo da Nova York nos anos 90, a amizade floresce e eles se tornam inseparáveis, mas em uma noite de verão, com muita tristeza, Dog é obrigado a abandonar o robô na praia e precisa esperar até o dia seguinte para buscá-lo, mas o que era para ser uma tarefa fácil acaba se transformando em um grande obstáculo. Será que eles vão se encontrar novamente?
Um dos poucos representantes da animação 2D entre diversos projetos que já se apegaram ao digital, Meu Amigo Robô apresenta uma narrativa doce sobre amizade e solidão. Apesar de ser uma trama que não apresenta diálogos diretos, apenas sugestões durante a jornada desses dois amigos, o longa não fica para trás em nenhum aspecto quanto à forma simples, porém nada simplória, como apresenta diversos temas como amizade, solidão, responsabilidades e a forma como pode-se ser resiliente mesmo quando a vida é uma luta contra a maré. Aliás, é impossível não sentir o subtexto queer pulsando na tela.
Nimona | Netflix
Adaptação de uma graphic novel best-seller do New York Times e premiado com um Eisner Award, o longa é baseado em uma graphic novel escrita por ND Stevenson, de She-Ra e as Princesas do Poder. A animação acompanha a personagem-título, uma metamorfa sem limites nem papas na língua, cujo maior sonho é ser comparsa de Lorde Ballister Coração-Negro, o maior vilão que já existiu. Mas ela não sabia que seu herói possuía escrúpulos. Menos ainda uma deliberada missão.
Nimona tem uma história curiosa na indústria, pois estava em desenvolvimento pela Blue Sky Studios há alguns anos. Após a compra da Fox pela Disney, o estúdio passou a estar sob o domínio da casa do Mickey. Em um corte de reestruturação, a empresa foi fechada e o filme cancelado. Meses após ser arquivado, o projeto foi salvo pela Netflix, que o lançou no ano passado. Dessa forma, o filme foi de esnobado a indicado ao Oscar em pouco tempo.
De rejeitada pela Disney a forte concorrente ao Oscar 2024; entenda por que animação foi engavetada antes de atingir sucessoÉ curioso que Nimona tenha passado por um caminho tortuoso como uma produção audiovisual, principalmente por seu conteúdo queer, enquanto a história do filme aborda exatamente a luta de uma garota que busca por aceitação em um mundo que a aceita. O filme se projeta de maneira graciosa, e um estilo de animação único, para apresentar uma trama cheia de simbolismos.
O Menino e a Garça | Cinemas
O possível último filme de Hayao Miyazaki, e um dos projetos que fez o lendário cineasta se afastar da aposentadoria, O Menino e a Garça é o novo filme do Studio Ghibli. Baseado no livro de Genzaburo Yoshino de 1937, o longa conta a história de Mahito Maki, um jovem que vive no Japão. Após a morte de sua mãe, Mahito se muda com a família para uma propriedade no campo junto com sua nova madrasta, onde uma série de eventos misteriosos o levam a uma torre antiga e isolada, lar de uma garça travessa.
Quando sua madrasta desaparece, o menino segue a garça e entra num mundo fantástico, habitado pelos vivos e pelos mortos, e embarca em uma jornada épica ao lado da garça que o guia a descobertas sobre os segredos deste mundo e a verdade sobre si mesmo. A narrativa conta ainda com detalhes de experiências vividas pelo próprio diretor durante sua infância.
Um dos maiores diretores de animação da história, vencedor do Oscar e fundador do Studio Ghibli: A trajetória mágica de Hayao MiyazakiEm uma era onde a animação digital ainda domina os estúdios, o longa do diretor japonês também é um aceno à indústria cinematográfica sobre as belezas e o frescor latente da animação 2D. Na iminência da problemática de artes feitas por inteligência artificial, O Menino e a Garça reforça como a visão humana é essencial para se contar boas histórias.
Confiante no estilo que moldou o lendário estúdio asiático, trata-se de uma das narrativas mais belas e enriquecedoras dos últimos anos. Vai fazer o público se lembrar dos encantos e estranhezas de A Viagem de Chihiro, enquanto questiona cada um sobre como é viver - e encontrar esperança - em um mundo que ainda alimenta as chamas da guerra.
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso | MAX
Miles está de volta para uma nova missão em sua agitada vida como super herói. No novo filme, ele é transportado para uma aventura épica através do multiverso, e deve unir forças com a mulher-aranha Gwen Stacy (Hailee Steinfeld) e um novo time de Pessoas-Aranha, formado por heróis de diversas dimensões. No entanto, tudo muda quando os heróis entram em conflito sobre como lidar com uma nova ameaça, e Miles se vê em um impasse. E para piorar ainda mais a situação, eles precisam enfrentar um vilão muito mais poderoso do que qualquer coisa que já tenham encontrado antes. Agora, para salvar as pessoas que ele mais ama no mundo, Miles deve redefinir o que significa ser um super herói.
Mais ambiciosa do que a trama anterior, a animação não se deixa levar pela grandeza do multiverso mesmo quando apresenta um salto na megalomania do seu já conhecido ousado visual: aqui estão discussões sobre identidade, amadurecimento, sacrifício e perdas.
Há diversos acenos ao universo do Cabeça de Teia, mas nem sempre são questões tão simples, pois todas as decisões são seguidas por um verdadeiro impacto. Mesmo com uma densidade elevada pelo amadurecimento do protagonista, há humor e ação em alta dosagem. O nível gráfico do original é ampliado e expandido de muitas maneiras, com uma psicodelia visual intensa.
Elementos | DISNEY+
Elementos é um filme de animação que se passa em uma sociedade extraordinária chamada Cidade Elemento, na qual os quatro elementos da natureza - ar, terra, fogo e ar - vivem em completa harmonia. Na história, somos apresentados à Faísca, uma mulher espirituosa na faixa dos vinte anos, e Gota, um jovem empático, observador e extrovertido, que não tem medo de demonstrar suas emoções. Os dois se encontram no acaso e, assim como muitas histórias de amor, passam a amar seus contrastes.
Apesar de ter tido uma campanha controversa, a primeira comédia romântica da Pixar é um longa competente e delicado sobre o amor de duas pessoas opostas. Trazendo um sutil quê de Romeu e Julieta à história, mesmo sem a estrutura genial de Divertida Mente, Elementos faz suas analogias funcionarem para todos os públicos. O filme se destaca pelo alto nível dos traços, com uma animação formidável e na abordagem dos dilemas das famílias de imigrantes e na forma como aborda débitos de gratidão familiares.