As influências de Christopher Nolan sempre foram um objeto de discussão, já que vários dos grandes diretores da história foram citados frequentemente por ele para fins de comparação. Mesmo que haja espaço em sua paleta de cores para cineastas mais, digamos, desleixados, como Michael Mann ou Tony Scott, a tendência de Nolan é mencionar Alfred Hitchcock ou Stanley Kubrick, mesmo que o estilo deles acabe mais se divergindo do que se assemelhando.
Kubrick, no entanto, é um nome importante para certos temas, bem como pela ambição de tentar desafiar o que é possível em uma tela. Mas é interessante ver Nolan falar, na sequência de Oppenheimer, sobre ter crescido em pânico nuclear, em constante preparação para uma ameaça de mísseis trocados entre nações imperiais como os EUA e a União Soviética, e depois pensar em como filmes como Dr. Fantástico teriam ressonância para ele.
Dr. Fantástico é um dos exemplos de como uma das comédias mais hilárias de todos os tempos ainda tem algo a dizer. Kubrick disseca satiricamente o medo internacional de uma bomba nuclear e esse constante estado de ameaça. Para isso, conta com a ajuda do multifacetado Peter Sellers e dos implacáveis George C. Scott e Sterling Hayden.
O filme foi lançado dos cinemas em 1964, ou seja, há 60 anos. No Brasil, atualmente ele pode ser assistido por streaming no catálogo da HBO Max.
Caos no Estado-Maior
Já farto da possível ameaça comunista e convencido de que a colaboração internacional deles é um disfarce para envenenar os Estados Unidos pela água, o General Jack D. Ripper ordena uma discreta ofensiva com armas nucleares, para grande espanto do Capitão Mandrake. Enquanto tentam impedi-lo, os Chefes de Estado-Maior se reúnem para acalmar os soviéticos, com um ex-cientista nazista em cadeira de rodas entre seus peculiares apoiadores.
Em apenas uma hora e meia, e por meio de uma enxurrada de comédia de humor negro, paródia e também de alguns pastelões frequentemente apresentados com seriedade, Kubrick mostra a destruição a que a humanidade está destinada se o sentimento de desconfiança em relação à Guerra Fria continuar.
Um pânico diante de qualquer elemento possivelmente vermelho que motive a preservação e o desenvolvimento de armas de destruição em massa... Coisas que, sem dúvida, influenciariam o jovem cinéfilo que mais tarde contaria a história de Robert Oppenheimer.
A acidez com que Kubrick desenvolve a comédia é até rara numa filmografia em que o humor tem sido muitas vezes apresentado de forma gélida (como em Barry Lyndon, de 1975). Mas os labirintos que ele teve de percorrer para fazer Lolita, de 1962, e sua boa sintonia com Peter Sellers o prepararam para desenvolver esse toque mais solto, dando uma direção impecável aos atores enquanto seu senso de escala cinematográfica crescia.
Há uma louvável capacidade de alternar entre a imensidão escura da sala do Estado-Maior, desenhada pelo incrível Ken Adam, e a claustrofobia da sala partilhada pelo general louco e pelo capitão preocupado, ou mesmo o avião que transporta as armas. A atenção aos detalhes é uma marca registrada da casa, mas aqui encontram uma abordagem diferente que funciona perfeitamente, conseguindo assim um dos melhores filmes de Kubrick.
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