Usado pelos oficiais da SS, o termo Zona de Interesse refere-se aos 40 quilômetros quadrados ao redor de Auschwitz, o maior campo de concentração da Segunda Guerra Mundial.
É também o título do quarto filme de Jonathan Glazer (Reencarnação, Sob a Pele), vencedor do Grande Prêmio no 76º Festival de Cinema de Cannes. Assim que foi apresentado, o longa-metragem tomou de assalto a Croisette. Internacionalmente, o filme chegou aos cinemas em 31 de janeiro, quatro dias após o 79º aniversário da libertação do campo. No Brasil, o longa estreou em 15 de fevereiro.
VIZINHOS DO HORROR
Entre 1940 e 1945, quase 1,1 milhão de pessoas foram deportadas para Auschwitz. Mas o que estava acontecendo a apenas alguns metros do indescritível? Como era o contra-campo da barbárie?
Adaptado do romance homônimo de Martin Amis - rejeitado pela Gallimard - A Zona de Interesse acompanha a vida doméstica da família do comandante Rudolf Höss (Christian Friedel), que agia sob as ordens de Hitler.
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Apenas um muro de cimento separa o horror de suas vidas cotidianas. Os Höss, especialmente sua esposa, Hedwig (uma arrepiante Sandra Hüller, estrela de Anatomia de uma Queda), passam o tempo aperfeiçoando a casa e o jardim, que lembra o Mon Oncle de Jacques Tati.
Os empregados - judeus contratados pela família - estão ocupados cuidando desse cenário surreal. A esposa cumprimenta os amigos e a mãe, experimenta as roupas dos deportados, enquanto as crianças brincam como se nada tivesse acontecido.
A ARTE DO SOM
Esse conceito necessariamente provocativo permite que o diretor explore o lado mais sombrio do ser humano, surdo e cego diante da atrocidade. Podemos realmente nos acostumar com a crueldade e convidá-la para nossa vida diária? Em algum lugar entre o cinema tradicional e o experimental, o filme é particularmente chocante porque não mostra nada. Tudo está fora da tela.
Em A Zona de Interesse - indicado a cinco Oscars, incluindo Melhor Filme - o som criado por Johnnie Burn é um personagem por si só. O som dos crematórios, os gritos dos deportados... Ele testemunha o terror que não aparece na tela. O principal trabalho de Jonathan Glazer mostra a Shoah como nunca antes.
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