Os Delinquentes, representante da Argentina para o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2024, chegou ao catálogo da MUBI após passagem pelos cinemas brasileiros. O AdoroCinema entrevistou o diretor Rodrigo Moreno sobre a produção.
Na trama de Os Delinquentes, Morán (Daniel Elías) e Román (Esteban Bigliardi) são dois homens que procuram fugir das obrigações da sociedade e do mundo do trabalho. Querendo largar a vida monótona planejando nunca mais trabalhar, Morán encontra a solução perfeita: Roubar uma enorme quantia em dinheiro. Para que o plano funcione, oferece uma parte do dinheiro ao seu colega, Román, que deve escondê-lo enquanto confessa o crime e passa um período na cadeia. Porém, o plano começa a sair do combinado quando Román conhece uma mulher que transforma a sua vida.
Os Delinquentes começa como um filme de assalto, mas logo transita por diferentes gêneros, se tornando mais existencial. O tema principal da produção é sobre liberdade, discutindo e criticando nossas relações com o trabalho na sociedade capitalista.
Rodrigo Moreno deixou claro para mim na entrevista que a ideia era justamente trazer um filme questionador e "para fazer perguntas" ao público. Desta forma, a situação sociopolítica atual do mundo teve impacto na trama de Os Delinquentes.
"O fato de neste mundo, neste mundo horrível, vivermos cheios de ódio, cheios de violência. Depois da pandemia o mundo ficou ainda pior, o que é muito porque já era ruim. Mas agora está pior do que antes da pandemia... o mundo está ficando mais sombrio", disse o diretor, se referindo às guerras e líderes políticos com discursos extremistas.
Não é só sobre isso, mas sobre o capitalismo extremo, que significa dar a sua vida toda para trabalhar. Toda a sua vida à exploração porque as empresas no mundo estão aumentando suas fortunas, e as pessoas estão aumentando sua pobreza
"O fato de ter esse personagem fazendo essas perguntas e vivenciando a vida, experimentando uma vida sem regras onde as pessoas dançam, leem poesia ou estão simplesmente presentes na natureza. Talvez seja o que eu quero oferecer ao público neste contexto horrível da vida que vivemos. Há amores lá", explica Rodrigo Moreno.
"Odeio regras": Rodrigo Moreno apresenta uma estrutura totalmente livre em Os Delinquentes
Rodrigo Moreno não apenas trata de temas relacionados com liberdade em Os Delinquentes, como usou esses conceitos na elaboração e estrutura do filme.
"Tive uma ideia para um filme que fala de liberdade e ao mesmo tempo é também um pensamento que tem uma estrutura, narrativa e forma totalmente livre. Isso me permitiu brincar com gêneros diferentes para desenrolar a história muitas vezes e fazer passeios, porque a forma do filme tinha que combinar o conteúdo com o discurso do filme", conta.
Com o filme, o diretor argentino encontrou a maneira ideal de "ser livre e não funcional, se libertando das regras narrativas". "Acho que o nosso cinema contemporâneo está cheio de regras e odeio regras. Não odeio regras para viver em comunidade. Não odeio regras para um país. Quer dizer, eu odeio regras para criação e artes", desabafa Moreno.
Representante da Argentina para o Oscar 2024
Os Delinquentes foi um dos principais destaques do Festival de Cannes em 2023. Rodrigo Moreno ressalta que isso fundamental para a visibilidade do filme em outros festivais de cinema e também conseguir sua distribuição em muitos outros territórios.
Aclamado pela crítica de todo o mundo, Os Delinquentes foi escolhido como representante da Argentina para o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2024 – lembrando que o candidato do Brasil para uma indicação é Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho.
O fato de representar a Argentina no Oscar é incrível, porque é um filme de três horas de duração. Um filme, como contei antes, não-funcional e cheio de passeios muito livres
"O filme não está protegido por um tema da agenda mundial. Não se trata do que a agenda mundial está reivindicando para os filmes, ele tem que se defender por si só. Então é incrível que isso esteja acontecendo. Além disso, é claro que representar o cinema argentino é uma honra porque é muito rico e diversificado", completa Rodrigo Moreno.