Em mais uma tarde quente no Rio de Janeiro, uma pequena casa no Grajaú está cercada de fios e equipamentos para se transformar em um set. Em meio a equipe que trabalha intensamente está Clélia Bessa, orquestrando e guiando a movimentação dentro de uma sala aconchegante onde uma das cenas será gravada. Experiente, ela está pronta para ajudar a contar mais uma história, mas dessa vez, essa história é sua.
A produtora é uma das pessoas por trás do filme Câncer com Ascendente em Virgem, uma obra que conta uma história vivida por ela e baseada no blog “Estou com câncer, e daí?” que Clélia criou em 2008 durante o tratamento que a curou de um câncer de mama. Foi a partir dessa vivência que o projeto nasceu, mergulhando nas memórias que apesar de duras, também falam sobre amor, rede de apoio, amizade e acima de tudo, a vida.
O AdoroCinema recebeu um convite para acompanhar as gravações do longa que chega ao público no ano que vem e tem a direção de Rosane Svartman, a autora de Vai Na Fé. Também tivemos a oportunidade de conversar com as protagonistas Suzana Pires e Marieta Severo , além de outras mulheres incríveis que também estavam presentes no set. Com roteiro assinado por Pedro Reinato, Martha Mendonça e Suzana, o longa é produzido pela Raccord Produções e co-produzido pela Globo Filmes.
Qual é a história de Câncer com Ascendente em Virgem?
No filme, Clara (Suzana Pires) é uma professora de matemática que faz sucesso na internet como influencer educacional. Quando ela descobre um câncer de mama, precisa lidar com todas as suas vulnerabilidades para passar por essa fase, sempre encarando a situação com bom humor.
Ao seu lado está sua mãe Leda (Marieta Severo) uma mulher forte e que ajuda a filha durante todo o processo com afeto e positividade. Além dela, Alice (Nathália Costa) a filha de Clara, também possui um papel fundamental nessa relação familiar e passa por uma transformação de comportamento depois que toma conhecimento da doença da mãe.
Na cena feita na sala, as duas ajudam Clara a escolher uma prótese de silicone. Junto delas também está Juliana (Júlia Konrad), atual do ex-marido da protagonista e Paula (Carla Cristina Cardoso), amiga de longa data da professora.
Tenho Câncer, e daí?
Depois de cumprimentar algumas pessoas da equipe, entrei na casa e me indicaram um local específico na cozinha, onde a câmera não estava pegando. Focada em não me mover muito para não aparecer na filmagem, eu escuto a voz de alguém na sala pedindo silêncio. Ao escutar Marieta e Suzana no cômodo ao lado, minha ficha começou a cair e eu pensei “Meu Deus, eu não acredito que realmente estou aqui!”. Em minha primeira visita a um set, o nervosismo quase tomou conta.
Algumas cenas foram refeitas por um errinho na pronúncia, pelo latido do cachorro que parecia esperar a palavra “ação” para também entrar em cena e o bendito carro que passou buzinando intensamente. A assessora Marina Magdaleno se aproxima e nos avisa que poderemos fazer as entrevistas depois do almoço.
Quando elas retornam, eu entro na sala e encontro Marieta que me recebe com um sorriso no rosto. Sentamos frente a frente no sofá e depois de falar sobre sua personagem, conta que foi a história de Clélia que a fez aceitar o convite para o filme. Uma história que nas palavras dela, precisava ser contada:
“Porque é exatamente isso, a gente tem que colocar nas telas tem que contar as histórias que são as mais difíceis, eu acho que vencer preconceitos e estigmatizações é nossa missão também”.
Um tema delicado que Marieta ressalta ser uma missão difícil principalmente para Suzana, mas que está sendo mostrado com muita leveza. “É engraçado porque é um tema tão duro, tão difícil e é o set mais feliz, mais leve, mais alegre que eu já trabalhei, é muito gostoso”.
Suzana reafirma o clima descrito por Marieta e confessa que ambas possuem uma pegada parecida na profissão, com leveza, mas muita entrega. A atriz também aproveitou para falar sobre o dia em que raspou a cabeça: “Foi ela que raspou minha cabeça. Gente, é quase um batismo. Então, eu tô muito feliz de trabalhar com ela.”
Ao contrário do que alguns podem ter pensado, Suzana já sabia que esse momento iria acontecer desde 2020, quando ela e Martha Mendonça escreviam as primeiras versões do roteiro.
“Um dia ela falou assim para mim: “Suzy, você tá lembrando que a atriz que vai fazer é você mesma, né?”. Eu falei “tô e tá tudo bem eu vou fazer”. Então há três anos atrás, eu já sabia que teria essa cena eu já tava de boa com ela, já tava tão entregue no projeto que não tinha outra maneira de fazer, sabe?”
Uma história de mulheres, escrita por mulheres
Quando conversei com a Júlia Konrad, ela me disse que ao ler o roteiro pela primeira vez, ficou nítido que ele havia sido escrito por mulheres e ainda brincou que agora queria apenas trabalhar em uma equipe de mulheres como essa. “Isso faz uma diferença linda na sensibilidade. A ótica é outra”.
Toda essa sensibilidade foi confirmada conforme conversei com cada uma delas. Apesar de estar trabalhando com Clélia pela primeira vez, Suzana conta que já eram colegas e que se conheceram quando a produtora foi ver a sua peça, De Perto Ela Não é Normal. A proposta para participar do projeto veio um tempo depois e mesmo sem saber ao certo sobre como seria, a atriz fez questão de confirmar que queria participar.
Clélia diz que a ideia nasceu quando ela percebeu como o blog mobilizou muitas pessoas. Mergulhando em suas memórias, a produtora descreveu como tem sido o processo de poder contar a sua própria história:
“Primeiro que é um luxo, né? Você ter parte da sua vida, um momento tão importante da sua vida assim congelado no tempo para todo sempre, por atrizes tão maravilhosas e pela minha parceira de vida que a Rosane, dirigindo.”
O sentimento também foi parecido para Rosane Svartman, que acompanhou o blog na época e que também pensou que algo interessante poderia ser feito a partir dessa trajetória. “O blog é uma grande inspiração porque ele tem esses movimentos que eu acho que a gente tem na vida de drama e de felicidade. De tristeza, de afeto e de relação com as pessoas.” contou a diretora.
Mussum, o Filmis: Muito antes dos Trapalhaões, ator fez parte de um grupo musical gigante e que existe até hojeA diretora egressa da Universidade Federal Fluminense, também ressalta sobre como tem sido cada vez mais importante trabalhar com projetos nos quais ela acredita e cita a médica Ana Claudia Quintana Arantes com a frase “O contrário de morte, não é vida, o contrário de morte é nascimento, vida é o que tem no meio”.
Nas palavras de Rosane, apesar do longa falar de uma doença, também fala muito sobre a vida. Ela completou afirmando que “às vezes quando a gente se depara com a possibilidade da fragilidade da vida, a gente enxerga justamente o que é viver com outros olhos.”
Com dor, mas recheado de afeto, Câncer com Ascendente em Virgem se compromete a entregar uma reflexão profunda, que mesmo tocando em feridas e cicatrizes, também é capaz de curar e de reconectar as pessoas. Com uma ótica sensível e com a presença de mulheres incríveis, a história de Clélia parece estar sendo contada na hora e no jeito certo.
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