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    Digimon Adventure 02: O Início sacrifica nostalgia e flerta com o terror em filme que mudará a franquia para sempre
    Diego Souza Carlos
    Apaixonado por cultura pop, latinidades e karê, Diego ama as surpresas de Jordan Peele, Guillermo del Toro e Anna Muylaert. Entusiasta do MCU, se aventura em estudar e falar sobre cinema, TV e games.

    Entre revelações bombásticas, sequência de Last Evolution Kizuna apresenta aventura com protagonistas da 2ª temporada do anime.

    Mais de 20 anos se passaram desde que o primeiro Digimon apareceu na TV de inúmeras crianças ao redor do mundo. Assim como muitos cresceram e continuaram a acompanhar a saga, os protagonistas das primeiras duas temporadas também evoluíram e, segundo o cânone atual, estão no início da vida adulta.

    Após o sucesso de Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna, longa responsável por encerrar (pelo menos, por enquanto) o arco de Tai, Matt, Mimi, Joe, Izzy e Sora, a Toei Animation retomou os trabalhos nos cinemas para apresentar uma nova história. Com o intuito de mostrar como estão os heróis que sucederam os “primeiros” DigiEscolhidos, cinemas selecionados de todo o planeta recebem Digimon Adventure 02: O Início.

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    Após os dramáticos acontecimentos vistos no longa anterior, os fãs encontram Davis Motomiya, agora com vinte anos de idade. Muitos anos após visitarem o DigiMundo, ele e os outros escolhidos estão mudando gradativamente - tanto em aspectos físicos quanto em seus estilos de vida.

    Em uma noite qualquer, eles são surpreendidos por uma enorme Digitama que surge no céu acima da Torre de Tóquio. Dela, eles conhecem o misterioso Rui Ohwada, que compartilha informações surpreendentes: ele é o primeiro escolhido humano da história.

    Digimon Adventure 02: O Início
    Digimon Adventure 02: O Início
    Data de lançamento 30 de novembro de 2023 | 1h 27min
    Criador(es): Tomohisa Taguchi
    Com Fukujurō Katayama, Ayaka Asai, Yoshitaka Yamaya
    Usuários
    3,1

    Logo nos primeiros minutos da aventura, uma sensação forte de nostalgia deve invadir boa parte do público. Afinal, quem estiver na sala de cinema para conferir essa nova incursão da franquia nas telonas é, sem sombra de dúvidas, fã dos monstrinhos digitais e dos personagens que surgiram há tanto tempo.

    Existe uma breve atualização sobre a vida de cada protagonista. Como todos estão encarando o início da vida adulta em meados dos anos 2010, já é possível ver computadores e celulares desta época envolvendo suas rotinas. Essa breve introdução é guiada pela clássica faixa "Wei Wo Gu Zhang", de Andy Lau, que embalava as aberturas da temporada exibida em 2000. A combinação desses fatores são responsáveis por aquele “quentinho no coração”, uma sensação de “voltamos para casa”.

    Toei Animation

    Embora tenha um forte apelo inicial em resgatar elementos que estiveram em inúmeros episódios do anime, a trama logo coloca nossos heróis de encontro àquele que deve mudar os rumos de toda a saga e que, pelo bem ou pelo mal, será o verdadeiro protagonista deste filme. Neste primeiro momento, inclusive, além de descobrirmos que ele é o primeiro humano a ter um parceiro Digimon, também recebemos um questionamento que se liga diretamente com o principal rival da IP.

    O personagem misterioso passa a questionar o relacionamento entre eles e os seres digitais, provocando-os sobre uma possível relação de servidão e até de um sacrifício cego quando o assunto são as batalhas - algo que, curiosamente, já foi questionado diversas vezes em Pokémon.

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    Rui entra em Digimon não apenas para colocar em xeque o que foi construído ao longo dos últimos 20 anos, mas também para mostrar um lado sombrio deste mundo encantador. Apesar de terem momentos extremamente expositivos - um deles chega a ser bizarro, com direito a recapitular os primeiros minutos do filme em uma conversa aleatória -, ao conhecermos o passado do forasteiro temos uma nova perspectiva sobre essas criaturas invadindo o mundo real.

    Para além de um possível medo generalizado com monstros gigantes lutando nas ruas japonesas, sobretudo nas regiões de Hikarigaoka e Odaiba, em Tóquio, o crescimento deste jovem ao lado do primeiro Digimon a criar um laço com um humano é repleto de tragédias e uma relação conturbada com os pais. Para os fãs de longa data, momentos obscuros na franquia são comumente lembrados por seus impactos e referências, como algumas alusões à depressão, mortes de personagens importantes (Leomon, de novo?), digievoluções corrompidas pela raiva e muito mais.

    Toei Animation

    Aqui há um flerte com o terror quase como um lembrete de que há pouco houve uma temporada inteirinha dentro deste universo mais dark, Digimon Ghost Game. Todavia, ao abordar temas pesados da vida real, essa inserção também faz todo o sentido dentro da história de Rui: enquanto Ukkomon tinha o poder de conceder desejos, o Digimon não tinha um senso moral e ético para tal - um prato cheio para grandes consequências quando estava ao lado de uma criança traumatizada pelo abandono, pelo medo e pela insegurança.

    Em determinada instância, entendemos que tudo o que aconteceu na série desde 1999 está conectado ao Digimon místico e, sim, este é o ponto em que a mitologia da franquia começa a ser reformulada por algo que pode soar completamente agridoce para muitas pessoas. Mesmo que as escolhas sejam, em tese, corajosas, a execução não é tão emocionante quanto poderia.

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    Lá para a metade da narrativa, entendemos que o grupo de DigiEscolhidos não tem tanta importância, afinal de contas. Poderiam ser qualquer outra equipe de amigos ali, ainda mais que hoje existem mais de 60 mil pessoas com esse status no mundo. Entre momentos de resolução nesta história, que apresenta uma instigante carga dramática, o terceiro ato chega para, enfim, agitar as coisas. Tal qual um filme da Marvel que necessita de grandes batalhas em suas derrocadas.

    Sacrificando a nostalgia para colocar os holofotes em um novo-velho personagem, Digimon Adventure: O Início pode ser uma experiência mista para muitos, pois perde-se a chance de se aprofundar na vida de Davis, Kari, TK, Yolei, Ken e Cody. O grupo tem sua química, as referências ao passado estão ali, atualizações são feitas, o amadurecimento é nítido, mas são momentos ofuscados pela trama principal.

    Toei Animation

    A mudança que o desfecho propõe é ousada, pois, de fato, tudo deve mudar. A motivação é benevolente quanto à narrativa, pois deixa para trás um recurso para dar lugar à força das relações e ao poder da amizade, algo que está no cerne da franquia desde o seu primeiro segundo. Essa decisão pode ter dois grandes caminhos futuros: estabelecer uma nova forma de apresentar o mundo Digimon, sem um de seus principais elementos, ou dar adeus às aventuras que cativaram milhões de pessoas ao redor do mundo. Meu palpite é que as aventuras não acabam por aqui.

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