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    A magnífica adaptação cinematográfica de um crime que quase foi dirigido por Steven Spielberg
    Giovanni Rodrigues
    Giovanni Rodrigues
    -Redação
    Já fui aspirante a x-men, caça-vampiros e paleontólogo. Contudo, me contentei em seguir como jornalista. É o misto perfeito entre saber de tudo um pouquinho e falar sobre sua obsessão por nichos que aparentemente ninguém liga (ligam sim).

    Um drama histórico com uma história de enfurecer: Rapito, filme dirigido pelo italiano Marco Bellocchio, quase foi realizado por Steven Spielberg.

    Numa noite agradável de junho em Bolonha, 1858: A família judia Mortara está tendo um dia como qualquer outro quando a polícia papal bate à sua porta. Os guardiões religiosos da lei exigem o filho mais novo da família. Eles arrancam Edgardo dos braços de sua mãe e desaparecem na noite. O que resta é o desespero e uma perda que pesa mais a cada dia que passa.

    Em seu novo filme, Marco Bellocchio conta a história de um menino de família judia que é sequestrado e reeducado pela Igreja Católica. Com a realização de Rapito - ainda sem um título oficial em português - o mestre italiano teve sucesso em um projeto que Steven Spielberg desejava filmar antes dele. Contudo, o americano não conseguiu concretizar o projeto.

    Por que Bellocchio teve sucesso onde Spielberg não conseguiu?

    Há cerca de sete anos, Spielberg queria transformar o caso da família Mortara em um filme. O vencedor do Oscar Mark Rylance foi escolhido para o papel do Papa Pio IX e Oscar Isaac para o papel de Edgardo mais velho. Spielberg fez mais de 2.000 testes com jovens atores para o papel principal, informou o Deadline na época. Mas a busca não deu em nada. O diretor, que ajudou atores infantis a alcançar a fama em E.T. e Jurassic Park, não encontrou o garoto certo. Ele abandonou o projeto e voltou sua atenção naquele momento para Amor, Sublime Amor.

    O diretor italiano, por outro lado, já estava flertando com o projeto há algum tempo, mas foi o cancelamento de Spielberg que abriu caminho para ele. Inicialmente, Bellocchio (O Traidor) enfrentou o mesmo problema. Como encontrar um jovem ator capaz de fazer jus ao destino traumático de Edgardo Mortara? Ele explicou à Variety durante Cannes este ano:

    "Antes de começar a filmar, eu estava muito preocupado com esse aspecto. As crianças de hoje tendem a ser muito falsas por causa da mídia social a que estão expostas. Eu sabia que tínhamos que encontrar uma criança que tivesse alma".

    Essa criança é Enea Sala. O garoto de Bolonha faz uma impressionante estreia no cinema no drama histórico.

    IBC Movie/Kavac Film/Rai Cinema/Ad Vitam Production/The Match Factory

    O Papa como um vilão perturbado

    Enea Sala interpreta o pequeno Edgardo. Sob o pretexto de que o menino foi batizado secretamente e, portanto, não pode mais ser criado no seio da família judia, ele é adotado à força pela igreja, por assim dizer. Desse ponto em diante, o filme segue três linhas narrativas: a reeducação religiosa do menino, a luta dos pais e a estratégia pérfida do Papa.

    Paolo Pierobon interpreta Pio IX, um dos grandes vilões do cinema do ano, não uma fera sádica, mas um homem de poder cuja humanidade foi consumida pela paranoia e por sua própria arrogância. À medida que sua autoridade desmorona em outras áreas, o garoto é transformado em um exemplo: Se o Papa ordenar que Edgardo seja cristão, ele o fará, não importa o que a lei e a consciência digam.

    IBC Movie/Kavac Film/Rai Cinema/Ad Vitam Production/The Match Factory

    Em frente a ele está a alma terna de Edgardo, que se encontra em um estranho mundo de crucifixos e textos em latim. Rapito conta uma história enfurecedora, mas o faz com uma sensibilidade impressionante. A vida interior do garoto, que anseia por sua família e possivelmente encontra refúgio na imagem do Jesus sofredor na cruz, é cuidadosamente observada. Bellocchio brinca com as perspectivas, alternando entre visões surreais de sonhos e a realidade fria e de mármore.

    O trunfo do filme é sua ambiguidade. Em vez de se apoiar em sua raiva contra as ações do Vaticano, Bellocchio explora como a perda de seus pais e a rígida educação católica andam de mãos dadas psicologicamente e mudam a visão de mundo do garoto. Raramente se vê no cinema uma visão tão multifacetada de uma alma atormentada e confortada pela fé.

    Apesar da grande estreia em Cannes, o filme segue sem uma previsão para os cinemas brasileiros.

    O Sequestro do Papa
    O Sequestro do Papa
    Data de lançamento 18 de julho de 2024 | 2h 15min
    Criador(es): Marco Bellocchio
    Com Enea Sala, Leonardo Maltese, Paolo Pierobon
    Usuários
    3,0
    alugar ou comprar

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