Seven - Os Sete Crimes Capitais, Clube da Luta, Os 12 Macacos – embora estes títulos já existam há alguns anos (décadas), todos os que se interessam apenas levemente por cinema se lembram deles. Em contrapartida, Babel, outro filme com Brad Pitt no papel principal, parece ter ficado um tanto esquecido.
O que surpreende ainda mais porque se trata de uma produção notável do gênio da direção mundialmente aclamado Alejandro González Iñárritu (Amores Brutos, O Regresso) e não foi à toa que foi indicado a sete Oscars. Agora, está disponível no Amazon Prime Video e Apple TV.
A HISTÓRIA (OU HISTÓRIAS) DE BABEL
Paramount Pictures
Babel conta estas histórias paralelas, todas interligadas. São elas:
- Após um golpe do destino, Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett) tentam salvar o casamento durante as férias no Marrocos. Mas no meio do deserto, dois pastores (Said Tarchani, Boubker Ait El Caid) brincando atiram na carruagem e Susan é mortalmente atingida.
- Enquanto isso, em casa, na Califórnia, a babá Amelia (Adriana Barraza) cuida dos filhos do casal (Elle Fanning, Nathan Gamble). Como a mexicana mais velha não quer perder o casamento do filho em casa, ela e o sobrinho (Gael Garcia Bernal) rapidamente contrabandeiam as crianças através da fronteira.
- Ao mesmo tempo, a adolescente surda-muda Chieko (Rinko Kikuchi) em Tóquio está ocupada aceitando o suicídio de sua mãe.
BRAD PITT MAIS ABATIDO E AUSTERO DO QUE NUNCA
Hoje conhecemos Brad Pitt como um ator versátil e - se sua aparência for apropriada - bastante despretensioso. Na época, porém, muitos fãs e um ou dois críticos ficaram chocados com o fato de o americano, que até então era apresentado principalmente como um namorado impecável, aparentemente se permitir ser fotografado de perto com pés de galinha e olheiras em Babel.
Em 2006, pensava-se que o galã, que acabara de chegar aos 40 anos, agora estava pronto não só para aceitar o avanço da idade, mas até para trabalhar com ela diante das câmeras. De qualquer forma, em Babel ele usou habilmente as primeiras pequenas imperfeições para sustentar sua execução e dar mais profundidade ao personagem de Richard.
Olhando para a aparência visual e facial de Pitt em títulos subsequentes como O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, O Curioso Caso de Benjamin Button e Bastardos Inglórios, não é uma avaliação errônea.
Mas não é apenas o desempenho de Pitt que é ótimo. Além dele, até hoje destaca-se a então estreante Rinko Kikuchi (Círculo de Fogo), que se mostrou tão vulnerável e ainda assim obstinada com uma atuação destemida, e de Koji Yakusho (Memória de uma Geisha), que interpreta seu pai indefeso.
Said Tarchani e Boubker Ait El Caid retratam os dois pequenos pastores de cabras de forma igualmente convincente. Infelizmente, estes últimos nunca apareceram em um filme importante desde então.
VIRTUOSIDADE POR TRÁS DA CÂMERA
O que realmente impressiona ao assistir Babel pela primeira vez, e também o revendo, é a elegância e a aparente facilidade com que o filme combina os segmentos temáticos e tonais, bem como visualmente muito diferentes de Babel em um complexo, mas um todo surpreendentemente coerente reúne e conecta.
Todas as três histórias são tão complexas que cada uma delas valeria um filme completo separado. Combinado com maestria por Iñárritu e vestido com imagens fantásticas, o resultado aqui é mais do que a soma das partes. É grande cinema com tensão e ambição que te deixa pensando em ações e consequências por dias.
Quem gostar da obra no idioma original com legendas será agraciado com diálogos em cinco idiomas (inglês, espanhol, árabe, japonês e língua de sinais).
Além disso, cada uma das quatro locações principais (uma simples vila deserta no Marrocos, um bairro abastado em San Diego, a zona rural do México e a mega metrópole de Tóquio) foi filmada pelo diretor de fotografia Rodrigo Prieto (O Segredo de Brokeback Mountain, O Lobo de Wall Street) com seu visual único em termos de paleta de cores e luz. Além disso, há mudanças ou saltos no plano do tempo.
No entanto, Iñárritu, com a ajuda de seu roteirista Guillermo Arriaga (Três Enterros) e dos dois brilhantes editores Douglas Crise (Spring Breakers: Garotas Perigosas) e Stephen Mirrione (Biutiful), garante que nunca desanime para com a inundação visual e emocional de estímulos aparentemente sobrecarregada ou até mesmo perdida.
Ele consegue envolver mentalmente e completamente em todos esses cenários e fazer com que as duas horas e meia de duração, que a princípio pareceram bastante generosas, voem.