ATENÇÃO: ESSE TEXTO CONTÉM SPOILERS DE OS MERCENÁRIOS 4
Qual é o espaço das mulheres no cinema de ação? Nesta semana, de estreia de Os Mercenários 4, o questionamento é mais pertinente do que nunca. A quarta parcela da série de filmes de ação, comandada por Sylvester Stallone, nove anos após a última sequência, traz em seu elenco duas personagens femininas de destaque, interpretadas por Megan Fox e Levy Tran. Mas, ainda assim, este 4º filme pode representar um retrocesso, se comparado a seus antecessores.
Estamos falando da representação destas personagens femininas na narrativa. Megan Fox dá vida à mercenária Gina, que além de fazer parte da gangue de Barney Ross (Stallone), é namorada de Lee Christmas (Jason Statham), o grande herói desta quarta parte da franquia de ação, que tenta alcançar independência da sombra de Stallone.
Lionsgate Films
Logo na primeira cena da personagem, ela é apresentada como uma figura histérica, quase uma caricatura feminina. Mesmo assumindo uma posição de liderança no time - na ausência de Christmas - a personagem nunca é, verdadeiramente, levada a sério. O que é perfeitamente exemplificado nas cenas finais, na fala do personagem de Jason Statham, envaidecido, ao afirmar que ela teria que finalmente "admitir que precisa de mim" ou mesmo em uma Megan Fox de camisa branca transparente, assumindo a posição que de fato a pertence nesse filme: ao lado do protagonista vencedor.
A personagem de Levy Tran, tampouco subverte essa lógica. A também mercenária Lash, só existe para ser assediada, e em uma solução preguiçosa, ceder às investidas do colega vivido por Randy Couture. Uma terceira (e última) personagem feminina compõe o elenco: Lucy Newman-Williams aparece como uma funcionária do governo norte-americano, e subordinada à figura de Marsh (Andy García). Pouco interfere, de fato, na história.
Mas era possível esperar outra coisa de um filme do Stallone? Bem, era...
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Podemos falar de retrocesso na franquia, principalmente se considerarmos Os Mercenários 3, que trouxe como um dos novos nomes da gangue, Luna (Ronda Rousey), que atuava em alto nível nas cenas de ação, sem precisar, necessariamente, ser sexualizada nesse espaço.
E ao falarmos dos méritos da franquia Os Mercenários - que é justamente, apelar pela nostalgia dos grandes ícones da ação dos anos 80, que calcaram sua fama em narrativas nem um pouco progressistas - mesmo assim, Os Mercenários 4 consegue ultrapassar esse limite: existe uma diferença entre ser nostálgico, e ser retrógrado.
Muitos elementos são, sim, passíveis de serem exaltados neste antigo cinema de ação. A espetacularização do machismo escancarado, definitivamente, não é uma delas. Afinal, as mulheres também fazem parte deste público. E não estamos mais nos anos 80.
Os Mercenários 4 está em cartaz nos cinemas.