No final dos anos 90, não havia brasileiro que não reconhecesse o estalo de “Quero te Encontrar” ou os versos de “Fico Assim Sem Você”. E isso é só uma pequena fração da história que explica porque Claudinho e Buchecha se tornaram fenômenos musicais no Brasil e que está contada em Nosso Sonho.
A cinebiografia da dupla é estrelada por Juan Paiva e Lucas Penteado, cuja química é fundamental para o funcionamento da história – e depois de assistir, é difícil acreditar que rolou uma “troca de papéis”. Quem nos conta é Junior Vieira, ator, roteirista e diretor, que trabalhou como assistente do cineasta Eduardo Albergaria no longa.
“Na época em que estávamos escrevendo os roteiros, eu tinha indicado os dois como atores, mas, inicialmente, Juan seria Claudinho e Lucas seria Buchecha, por uma questão de aparência física”, relembrou em entrevista ao AdoroCinema no Festival de Gramado em 2022 – ano que em Júnior foi protagonista de O Último Animal, do diretor português Leonel Vieira.
A preparação do elenco, no entanto, mudou os planos e houve um match de personalidades entre atores e protagonistas reais. “A gente entendeu que a energia dos dois era totalmente oposta. Lucas é um cara totalmente para frente, espevitado e cheio de energia, enquanto Juan é mais pacato e observador”, explica o diretor-assistente. De fato: o foco que Nosso Sonho dá à amizade entre Claudinho e Buchecha revela os jeitinhos distintos.
Como uma bonita homenagem à memória de Claudinho, o filme relembra o cantor pelo ímpeto de fazer acontecer e fica claro que o primeiro passo para o sucesso veio da fé inabalável de Claudinho no caminho que os dois deveriam seguir. “Tivemos um tempo de preparação também para que eles virassem uma família de verdade e, com isso, crescessem em cena”, conta Junior.
Por que Claudinho e Buchecha fizeram tanto sucesso?
Ao AdoroCinema, Junior Vieira dá sua visão sobre os motivos que tornaram o duo um marco na história da música recente brasileira e o sucesso vem de uma combinação entre originalidade musical e “sentimental”. “De uma forma, eles revolucionaram o funk porque colocaram, além do manifesto e do posicionamento social, uma tendência pop que era muito forte naquela época. Passaram a fazer o funk melody e trouxeram para a realidade deles”, explica.
No filme, a cada vez que a dupla dá os primeiros versos de alguns de seus grandes hits, fica fácil puxar o restante da letra na memória e perceber que, no fim, o amor talvez fosse a grande fonte de inspiração. “Além de falar das mazelas sociais, era também falar de amor dentro das favelas, na batida do funk. Isso fez com que entendêssemos que a favela não é só violência, também tem amor”, pontua.
O amor (e a falta dele) também são tema biográfico em Nosso Sonho: a história parte do ponto de vista de Buchecha para relembrar a juventude do músico e a relação complicada com o pai, marcada por altos e baixos. Junior Vieira pontua a participação de Buchecha no desenvolvimento da trama:
“Ele contribuiu muito para que o filme não contasse uma história batida, clichê e para que a falássemos de uma forma muito carinhosa sobre afeto e sobre a falta dele. A paternidade é realmente ausente na favela e é uma questão que a gente entende. E isso também está no filme, mostrando como esses meninos conseguiram vencer de uma forma muito difícil, mas muito bonita”
Nosso Sonho está em cartaz nos cinemas brasileiros.