Nunca perdemos a oportunidade de recomendar um bom suspense erótico, um gênero que entra em um terreno muito difícil, mas que é eletrizante quando bem feito. Cinema de alta tensão, onde a química entre os atores é quente e, com um diretor competente, um turbilhão de classe e curiosidade que mergulha nos desejos da condição humana. Um gênero cujo, para muitos, a obra absoluta é Instinto Selvagem.
Paixões que matam
O grande sucesso dos anos 1990 mudou tanto o cinema adulto comercial quanto a evolução do gênero, onde Paul Verhoeven se consolidou como diretor em Hollywood além de seus grandes clássicos de ficção científica. Também apresenta um dos melhores momentos de Michael Douglas como um protagonista desagradável e moralmente duvidoso. Além disso, lançou Sharon Stone como estrela. Um combo perfeito que pode ser assistido pelo streaming do Prime Video.
Douglas interpreta um policial viciado em álcool e drogas, tentando superar isso quando tem um novo caso difícil para resolver. O dono de uma casa noturna é encontrado morto em sua cama, espetado por um furador de gelo, e o principal suspeito é sua amante, uma escritora de histórias de suspense. A abordagem do agente a esta loira fatal romperá todos os limites éticos e morais, entrando numa nova dimensão de tensão sexual.
O filme coloca as cartas na mesa logo no início, com a cena mais icônica acontecendo bem no início da filmagem. A cena do interrogatório em que a personagem de Stone cruza as pernas tem toda a polêmica do mundo por seu conteúdo explícito e pela forma como foi filmada (o diretor garantiu à atriz que a ausência de roupas íntimas não seria vista para que ela concordasse em tirá-las). Mas ela também mostra a inteligência do filme, que subverte toda a morbidez ao mostrar as reações dos policiais facilmente manipulados.
Verhoeven nunca teve medo de se envolver com o conteúdo de seus filmes, daí seu início puramente erótico. Mas ele faz isso conscientemente, buscando distorcer perspectivas puritanas e conservadoras. Isso nem sempre é apreciado, pois ele sempre procura formas extremas de expor suas ideias, daí a controvérsia causada entre a comunidade LGTBI+ por mostrar a bissexualidade de uma forma que se conecta com a psicopatia assassina da protagonista.
No entanto, o que torna o filme duradouro é justamente o ar de libertação com que mostra a personagem de Stone, retratando protagonistas como Douglas, canônicos em suspenses e no gênero noir, como hipócritas que ficam desarmados quando percebem que não conseguem estabelecer controle sobre mulheres como ela. É um subtexto rico que fica perfeitamente claro com uma encenação bem hitchcockiana (outra que buscava despertar paixões).