Em 1976, a socialite Angela Diniz foi morta pelo namorado com três tiros no rosto e um na nuca. O assassino, Raul Fernando do Amaral Street, foi a julgamento e recebeu uma pena simbólica de apenas dois anos – a defesa dele no tribunal foi construída sobre o comportamento de Angela, em especial, é claro, de sua “moralidade sexual”. Depois de morta, a mulher teve sua vida exposta e explorada para um escrutínio que, no fim das contas, a tornou culpada pelo crime.
Quase 50 anos se passaram e só agora, em 2023, a justiça brasileira declarou inconstitucional a defesa de “legítima defesa da honra” em casos de feminicídio, como reforça o filme Angela, dirigido por Hugo Prata (Elis) e lançado no 51º Festival de Gramado. Isis Valverde é quem interpreta a protagonista e, em entrevista ao AdoroCinema, fala justamente sobre a atualidade do contexto: quantas outras Angelas vieram nos últimos 50 anos?
Assista à entrevista completa:
“A Angela sou eu você, né? Nós temos ancestrais. Então, a primeira conexão foi com essa ancestralidade, esse lugar de viver hoje o que ela viveu e de, todos os dias, precisarmos levantar uma bandeira, se reafirmar e colocar as coisas no lugar de novo”, conta a atriz. Figura conhecida pela vida pública badalada, Angela Diniz teve uma série de envolvimentos amorosos que, após sua morte, foram utilizados como argumentos para justificar o “crime passional” cometido pelo parceiro.
Enquanto o longa detalha outros aspectos da vida dela, também convida o espectador a refletir sobre a violência doméstica: o assassinato, é claro, foi o golpe final, mas o abuso começa muito antes – o caminho das pequenas agressões é longo e, mais uma vez, muito reais. “Poderia ser eu ali. Se você for olhar de quantos em quantos minutos uma mulher é agredida verbalmente ou fisicamente… É uma coisa muito real. Não estamos falando de ficção”, pontua Isis.
Angela estreia nos cinemas em 7 de setembro de 2023.