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    Andei no brinquedo que deixou Walt Disney à beira do colapso – e que depois inspirou mais de um filme do estúdio
    Lucas Leone
    Lucas Leone
    -Redator | Crítico
    Lucas só continua nesta dimensão porque Hogwarts ainda não aceita alunos brasileiros. Ele até tentou ir para Westeros ou o Condado, mas perdeu a hora do Expresso do Oriente. Hoje, pode ser visto escrevendo no Central Perk mais próximo.

    É uma das atrações mais clássicas dos parques da Disney, mas o criador do Mickey Mouse não gostou nem um pouco das ideias iniciais. Vem entender essa história!

    Em 1969, quase 15 anos depois da abertura da Disneylândia na Califórnia – o complexo mais famoso, o da Flórida, só viria em 1971 –, uma nova atração foi inaugurada. Não era baseada em nenhuma animação saída até então, mas futuramente serviria de inspiração para mais de um filme do estúdio. Trata-se da Mansão Mal-Assombrada, um dos pontos mais clássicos dos parques da Disney, presente em 5 das 6 filiais espalhadas pelo mundo.

    Acontece que o criador de todo aquele universo mágico esteve à beira de um colapso quando lhe foram apresentados os esboços da casa, que faria companhia ao brinquedo de Piratas do Caribe, de 1967, na chamada Praça Nova Orleans. Afinal, os primeiros desenhos tinham levado ao pé da letra o conceito de "mal-assombrada": eram todas propriedades caindo aos pedaços, com jardins abandonados e cheios de túmulos.

    "Walt Disney odiou o material ao vê-lo. Ele ficou muito irritado", conta Juleen Woods, uma funcionária veterana da empresa com quem tive o prazer de conversar na última semana, durante uma visita especial à Disneylândia a convite da própria Disney.

    "Walt tinha um parque lindo, impecável, e não queria uma mansão decrépita no meio dele", continua Juleen em nosso encontro no Teatro Lincoln, que fica logo na entrada da Disneylândia. "Isso levou a uma frase muito célebre de Walt: 'Vamos cuidar da parte de fora da casa, deixemos que os fantasmas cuidem da parte de dentro!'"

    "A fachada, portanto, seria primorosa. O interior, por sua vez, seria mais arrepiante", explica Juleen, que, na verdade, é uma "imagineer". O termo em inglês mistura "imaginação" ("imagination") e "engenheiro/a" ("engineer"). Na prática, sua função é orientar e supervisionar qualquer uso da propriedade intelectual dos parques no cinema, TV, streaming, publicações, jogos, comidas, bebidas e por aí vai.

    Arquivo pessoal
    A imagineer Juleen Woods (ruiva, de casaco preto, óculos e crachá) com nosso grupo no Teatro Lincoln, na Disneylândia.

    Muito simpática e com o brilho nos olhos de quem ama o que faz, Juleen já havia colaborado em Jungle Cruise (2021), estrelado por Dwayne Johnson, que também é uma adaptação de um brinquedo. E recentemente foi consultora no remake de Mansão Mal-Assombrada – o motivo da minha viagem à Disneylândia.

    Todo mundo se lembra daquela comédia com pitadas de terror que tinha Eddie Murphy como protagonista. Exatos 20 anos depois, uma nova versão chegou às telonas no fim de julho. Dessa vez, a trama tem vários protagonistas encarnados por grandes nomes como Rosario Dawson, Danny DeVito, Lakeith Stanfield, Tiffany Haddish, Owen Wilson e Jared Leto. Destaque para a vencedora do Oscar Jamie Lee Curtis no papel de Madame Leota, uma cabeça flutuante presa dentro de uma bola de cristal!

    Assim como o original, o filme de agora traz muitos elementos da atração, desde personagens – alguns que não haviam aparecido em 2003 – até detalhes do cenário. E foram esses mistérios que Juleen desvendou para a gente antes de nos conduzir até a fonte de tudo: a Mansão Mal-Assombrada de Walt Disney.

    Por mais que exista há quase 55 anos, a fachada é deslumbrante: uma construção típica da Louisiana, com colunas brancas, varandas e um jardim verdejante. Mas, quando você entra, a brincadeira fica séria: um hall escuro, com uma decoração pesada e um candelabro enorme.

    Em seguida, passamos para outra sala, mais escura ainda, com quatro pinturas aparentemente inofensivas. De repente, o teto se alonga, os quadros revelam que seus personagens estão mortos, um corpo cai lá de cima com a corda no pescoço.

    Daí em diante não tem mais volta: é sentar no carrinho – que eles chamam de "doom buggy" – e encarar a jornada pela terra dos mortos. Porque você gira 360º, você desce de costas (tremi nessa hora, confesso), sobe, desce, atravessa o cemitério, o sótão, os corredores empoeirados.

    Arquivo pessoal
    Eu que vos escrevo posando com o Mickey Mouse que ganhei da Disney na frente da Mansão Mal-Assombrada.

    As portas rangem, as maçanetas se mexem sozinhas, as luzes piscam. Na sala de jantar, os casais fantasmagóricos dançam ao som de um órgão que, como nos revela Juleen, foi usado em outro filme da Disney: 20.000 Léguas Submarinas (1954). Na mesa, aponta nossa guia, há um easter egg: os pratos e as taças formam o icônico contorno do rosto do Mickey.

    E você termina em um festival de almas penadas, que surgem de todos os lados para celebrar com você a vida no além. São 999 assombrações ao todo na mansão – e reza a lenda que cada visitante se torna, ao entrar lá, a milésima assombração. Uma das muitas superstições que cercam o local.

    Juleen nos oferece outra: cada um de nós, ao sair, ganha um fantasma para chamar de seu. Para se livrar dele, é necessário andar novamente no brinquedo. Como eu não sou bobo nem nada, voltei! E levei comigo a fofíssima pelúcia do Mickey Mouse que ganhamos da Disney no fim do tour com a nossa querida "imagineer".

    E se você acha que vestir a camisa nunca é demais, saiba que Juleen foi pedida em casamento dentro da Mansão Mal-Assombrada. Seu então namorado fez a surpresa a bordo do "doom buggy". Para não dizer que não houve romantismo, a caixinha do anel tinha uma luzinha para que Juleen pudesse enxergar alguma coisa em meio ao breu. Os dois estão juntos há 17 anos. Estariam eles protegidos pelos 999?

    Se quiser saber mais sobre essas criaturas e sua excêntrica morada, corra para os cinemas para conferir a nova versão de Mansão Mal-Assombrada, dirigida por Justin Simien (o mesmo de Cara Gente Branca).

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