Uma adaptação de um livro que já estava destinada a causar escândalo, mas ao ser levada às grandes telas gerou ainda mais polêmica. Festivais como Cannes se dividiram entre considerá-la uma obra-prima ou uma provocação obscena. Sem sombra de dúvida, as definições controversas para Crash, um dos filmes mais aclamados de David Cronenberg, são muitas.
Mestre do desconforto, Cronenberg levou aos cinemas, em 1996, um filme para maiores de idade que chegou a ser proibido em alguns países, incluindo o Reino Unido. Na trama, um produtor de cinema (James Spader) e sua esposa (Deborah Kara Unger) estão em um casamento aberto. O casal se envolve em diversos casos amorosos, mas, entre eles, o sexo é sem entusiasmo. Certa noite, enquanto retorna para casa, o rapaz sofre um acidente de carro. A partir desse momento, tudo muda, quando uma forte relação entre ele e uma das vítimas (Holly Hunter) do desastre se estabelece.
Podemos dizer que Crash impressiona em sua forma de vincular sexo e violência, criando uma bagunça singular que só Cronenberg conseguiria comandar. Em seu desenvolvimento, cenas eróticas carregadas de imagens explícitas regem o tom, apresentando todo o tipo de prática sexual. Através da exploração de uma comunidade que tem fetiche sexual por acidentes de carros, chega-se a uma das cenas vitais para a censura sofrida pelo longa, onde o personagem de Spader faz sexo com a cicatriz de uma mulher deficiente que também compartilha da mesma parafilia.
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Um dos primeiros espectadores do filme foi o crítico britânico Christopher Tookey, que argumentou que a cena citada era ofensiva para pessoas com deficiência. Ele acusou Cronenberg de usar linguagem desagradável para o grupo em questão, abusando também de um "fetichismo ortopédico". Conforme registrado pelo British Film Institute, a mídia britânica, na época, montou campanhas para proibir o lançamento do filme no Reino Unido.
Apesar de não atingir a censura total, o movimento atrasou a estreia do longa-metragem em quase um ano. Muitos cinemas se recusaram a exibi-lo, e os que o fizeram contrataram seguranças para impedir a entrada de menores de idade. Extremamente preocupados, no entanto, a mídia falhou completamente em antecipar as reações da comunidade PcD. Uma exibição especial foi organizada para 11 pessoas com deficiência e, embora o longa não tenha sido unanimidade, todos concordaram que a cena era positiva e oferecia uma "representação das pessoas com deficiência como capazes de serem sexualmente atraentes e ativas".
Intérprete da personagem cicatrizada, a atriz Rosanna Arquette foi aplaudida pelo público da sessão, chamada de “alguém que se recusa a se tornar uma criatura murcha e assexuada após um acidente". Durante uma entrevista, Cronenberg também chegou a comentar:
"Na verdade, ela é muito orgulhosa e muito forte em sua própria sexualidade e erotismo, e está tentando incorporar seu próprio corpo à sua sexualidade, em vez de tentar encobrir ou fingir que sua deficiência não existe."
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