Brad Pitt passou 14 anos sem poder pisar em território chinês depois de estrelar Sete Anos no Tibet (1997), mas não é o único astro de Hollywood que virou persona non grata no poderoso país asiático. Na verdade, o boicote mais notório da China é a Richard Gere, o inesquecível protagonista de Uma Linda Mulher (1990), Noiva em Fuga (1999), Dança Comigo? (2004) e inúmeros outros filmes que o tornaram um dos principais galãs da indústria cinematográfica.
Agora com 73 anos, Gere se converteu ao budismo quando tinha apenas 20 e escolheu a vertente tibetana, tendo passado a maior parte de sua vida defendendo a independência dessa região dos Himalaias. Devido às suas críticas à ocupação da China, foi proibido para sempre de entrar lá e sofreu represálias profissionais.
Por exemplo, a Academia passou 20 anos sem convidá-lo a apresentar o Oscar, depois que o astro pulou o roteiro em 1993 para denunciar as práticas violentas do governo chinês. Embora muitos acreditassem que o veto poderia prejudicar sua carreira, Gere garante que isso não aconteceu. Em 2007, ele afirmou o seguinte em entrevista à GQ:
Os estúdios estão interessados na possibilidade de obter grandes lucros. Mas eu continuo fazendo os mesmos filmes que fazia quando comecei. Histórias pequenas, interessantes, baseadas em personagens e narrativas. Não impactou em nada minha vida.
Apesar das declarações de Gere, o próprio já confessou que existem longas em que não pode atuar porque os chineses diriam: “Com ele não!” Basta dar uma olhada em sua filmografia para perceber que, de fato, houve um antes e um depois. Em 2017, durante uma conversa com o The Hollywood Reporter, o ator parece ter voltado atrás e admitido que suas falas pró-Tibet o fizeram ser descartado de grandes produções.
“Alguém recentemente disse que não poderia financiar um filme comigo porque isso incomodaria os chineses”, contou Gere. “Eu tinha um projeto com um diretor chinês, e duas semanas antes de filmar ele me ligou dizendo: ‘Desculpe, não posso fazer isso.’ Tivemos um telefonema secreto por meio de uma linha protegida. Se eu tivesse gravado com esse diretor, ele e sua família eles não poderiam mais sair do país, e eu não teria mais trabalhado.”
Já se passaram 30 anos desde o polêmico discurso no Oscar (confira abaixo), e Gere voltou a aparecer na premiação em 2013, quando brincou que aparentemente estava reabilitado (via HuffPost UK). Quanto ao status de persona non grata na China, ele insiste que não dá a mínima. Afinal, não é onde ele quer estar.
“Não, eu não me importo com isso”, declarou em 2022, em entrevista ao canal indiano NDTV. “Bem, agora é mais complicado. A China tem sido tão eficaz que as pessoas hoje se autoeditam. Os chineses não precisam dizer “não contratem Richard Gere”, ou não façam isso, ou não façam aquilo. As pessoas, por medo, fazem o que pedem sem que lhes digam muita coisa.”
“No meu caso, eu realmente não me importo porque eu não faço o tipo de filme que eles exibem lá. Eu não faço grandes filmes de super-heróis, que é o que eles querem ver”, continuou Gere.
Ao mesmo tempo, reconheceu que, sim, recebeu uma proposta para participar de longas desse gênero. “Acho que me pediram para fazer um há muitos anos. Eu seria uma espécie de velho sábio. Mas eu realmente não tinha interesse em ser o velho sábio em um filme da Marvel”, completou Gere.