Um simples filme infantil pode ter sua vida prolongada pela internet. Esse é o caso de Shrek 2 - mas Shrek no geral - lançado em 2004 e que consegue superar todas as expectativas criadas com o primeiro filme lançado em 2002. Antes de começar a discursar sobre o porque um filme sobre ogros merece estar no pódio de melhores filmes já feitos, vale lembrar que a categoria de Melhor Filme de Animação no Oscar foi criada especialmente por conta de Shrek. Isso sim já conta com muito peso.
Shrek: Qual é a ordem para ver os filmes da franquia?Entre memes, músicas e muitos ogros, Shrek 2 consegue perdurar pela eternidade e entre várias gerações. Apesar de ser um filme para o público infantil, adultos e adolescentes podem desfrutar de outras piadas que só são entendidas à medida que alguém envelhece. Igual vinho, Shrek apenas melhorou com o tempo, ou melhor, igual a uma cebola, tem várias camadas. E o melhor: está disponível no Prime Video!
Shrek é diferente
Feito entre o meio de inúmeros filmes “Disney”, Shrek veio para quebrar os paradigmas de “felizes para sempre”. Baseado no personagem de William Steig, Shrek (Mike Myers) não é o príncipe encantado que todas as meninas querem ou sonham em ter em primeiro lugar. Burro (Eddie Murphy) também não é o garanhão branco de contos de fada. Por fim, Fiona (Cameron Diaz) não é a princesa comportada e dentro dos estereótipos, igual Branca de Neve, Cinderela e entre outras. De fato, Fiona arrota, sabe se defender e, de noite, vira uma ogra por ser amaldiçoada. Mas não estamos aqui para falar sobre Shrek primeiro, mas sim Shrek 2.
Com um humor ácido do primeiro filme, sua sequência consegue melhorar nos pontos que criticam “histórias de fada”. Agora, Shrek e Fiona se casam ao som da banda Counting Crows. Enquanto "Accidentally in Love” toca ao fundo, vemos sequências de outros filmes familiares. O anel dos recém-casados é, literalmente, O Anel de Senhor dos Anéis. Fiona pega uma sereia (presumidamente Ariel ou parecida) e a joga de volta para o mar depois de ver que ela está beijando seu marido. Fadas são aprisionadas em potes de vidro para, literalmente, serem “fairy lights” em uma jacuzzi de lama. Enfim, muitas cenas icônicas.
Eles então são surpreendidos por um mensageiro do reino onde os pais da Fiona governam, conhecido como “Tão Tão Distante”, uma piada recorrente que muitos reinos de contos de fada se passam em “um reino distante”. Mas Tão Tão Distante consegue superar a questão de “distante”. O casal, junto com Burro, partem em uma carruagem de cebola (transformada no primeiro filme), para o tal reino.
Tão Tão Distante é bem distante
Recebidos pela música “Funkytown”, Tão Tão Distante parece mais com o bairro de Beverly Hills, nos EUA. Com lojas de nomes caricatos ao seus contemporâneos na vida real (Gucci, Givenchy e etc), também vemos um Starbucks, a famosa cafeteria de frapuccinos, só que dessa vez é “FarBucks”. E não se pode esquecer a placa do nome da cidade, lembrando muito àquela de Hollywood.
A chegada dos pombinhos é levada para um silêncio constrangedor. Os pais de Fiona (com a voz de Julie Andrews e John Cleese) ficam surpresos em ver a filha em sua forma “monstruosa”, além de claro, verem Shrek, que não é um príncipe encantado. Depois de um tempo, a cena mais engraçada do filme é feita durante o jantar, onde genro, sogros e a filha (e o Burro, ele tá sempre lá).
Após o jantar que poderia ter ido melhor, Fiona vai para seu quarto de infância e se encontra com Fada Madrinha (Jennifer Saunders), uma espécie de celebridade dos finais felizes em Tão Tão Distante. Em uma canção à la Disney, vemos o quão extenso é o poder da Fada, que consegue transformar uma poltrona em um poodle e fazer objetos falarem (alô Bela e a Fera). Contudo, sua “madrinha” fica relativamente chateada que Fiona não está com um príncipe.
Para muitos, a cena em que o rei aparece em seu quarto pode passar sem prestar muita atenção, mas os detalhes na parede entregam um foreshadowing de quem exatamente é o rei.
Ele então é confrontado pela Fada Madrinha, junto com seu filho, Encantado (Rupert Everett), um “filhinho da mamãe” que sempre teve tudo que quis e, como prometido, deveria ter salvado Fiona antes de Shrek.
Prazer, Encantado
Encantado tem tudo que quer, na hora que quer. Prometido a Fiona, ele partiu pelo deserto escaldante, as montanhas mais altas para adentrar a torre mais alta guardada por um(a) dragão. Mas tudo em vão, Shrek chegou primeiro.
Shrek 5 ganha campanha de Eddie Murphy, que dispara: "O Burro é mais engraçado que o Gato de Botas!"Diferente de outros "príncipes" das histórias de fada, Encantado não é exatamente um bom cavaleiro. De fato, ele encarna tudo aquilo que um herói não deveria ser. Mimado, egocêntrico e sem um pingo de cavalheirismo, o personagem é um tapa de luva de pelica para os príncipes de filmes de princesa.
O arbusto é a cara da Fafá de Belém
Acordando no meio da noite encarando um poster de Justin Timberlake no teto, Shrek decide que vai mudar para Fiona ao encontrar o cartão de Fada Madrinha. Junto com o burro, Shrek parte para a floresta por ser convidado pelo rei para caçar (mas dá tudo errado). Burro nota um arbusto com a cara da Fafá de Belém - um marco da dublagem brasileira - enquanto estão perdidos.
Ambos são surpreendidos pelo Gato de Botas (Antonio Banderas), um mercenário estilo Zorro que foi contratado pelo Rei para dar cabo de Shrek na noite passada. Atacados pelo felino e recriando uma cena de Alien, Gato, Shrek e Burro acabam ficando amigos e partem para a fábrica da Fada Madrinha para pedir uma poção que mude a aparência do ogro.
Adentrando território mágico, o trio consegue ultrapassar as barreiras inimigas para falar com a Fada. Usando roupas dos proletários (“Graças a deus é sexta-feira!”), o trio decide confrontar a empresária, que lhes diz que Shrek, por ser um ogro, não deveria ter um "final feliz”.
Contrariando a suposta pessoa que deveria conceder "finais felizes", Shrek tem que colocar a mão na massa para conseguir o que quer para agradar sua esposa. É então que junto com Gato, eles roubam a poção "Felizes para Sempre".
David Bowie - Changes
As transformações são reveladoras. Após uma dor de barriga e uma chuva intensa, Shrek e Burro acordam transformados pela poção que tomaram. Eles são recebidos por algumas mulheres que brigam incansavelmente para dar um beijo de amor verdadeiro em Shrek, agora com forma “humana”.
Ao som de “Changes” por David Bowie, Burro (agora um cavalo branco) e Shrek vão para o castelo em busca de Fiona - que também voltou à sua forma humana por conta da poção que lhe afetou. Apenas para ser confrontado pela dura verdade de que Encantado aproveitou a justificativa de “virar humano” para ficar com Fiona, que acredita que essa é a nova forma de Shrek.
Abalados, o trio parte para a Maçã Envenenada, um bar fora da cidade onde vilões e antagonistas vão para beber suas mágoas. Eles conhecem Dóris (Larry King), uma das “irmãs feias” de Cinderella. Facilmente, Dóris é uma das personagens mais à frente de seu tempo e muito menosprezadas entre os personagens de Shrek.
É então que o trio presencia um plano entre Encantado e sua mãe para conquistar o reino assim que o efeito da poção passe. Fugindo para avisar Fiona, o trio é pego pelos K.N.I.G.H.T.S (Cavaleiros) e presos. Sua perseguição e prisão é captada em um programa estilo “jornalismo policial”, onde no lugar de spray de pimenta é usado um moedor de pimenta e Gato de preso por posse de erva-de-gato.
Os personagens do primeiro filme, como Biscoito, Lobo, Pinóquio e os ratinhos assistem o programa e decidem resgatá-los. Dentro de uma masmorra, Pinóquio usa suas habilidades de “missão impossível” para resgatar o trio, apenas para ficar embaraçado entre seus fios. Um diálogo entre Biscoito e Pinóquio é feito, onde é revelado que o boneco de madeira usa calcinha ("É uma tanga!") e então, os envolvidos no resgate fazem com que o boneco tente mentir para que Biscoito consiga andar em seu nariz e tirá-los de suas amarras.
Preciso de um herói
Entrar em um castelo não é fácil, ainda mais com a grande festa de celebração de Shrek e Fiona. Para impedir que Encantado e sua mãe tenham sucesso com o plano, o grupo do pântano decide pedir uma ajudinha para o padeiro que criou Biscoito. Dessa vez ele fará sua maior criação um Biscoito Gigante, com a ajuda de raios para dar vida à criatura (igual Frankenstein), o Biscoitão ganha vida.
Com a festa de casamento, muitos personagens de outras histórias de fada aparecem no tapete vermelho. Uma cobertura jornalística é feita estilo “E! News”. É então que Fada Madrinha, para agitar a festa, decide cantar “Holding Out for a Hero”, de Bonnie Tyler. Se assistir em português, a dublagem brasileira fez questão de também traduzir a música. (Desculpa, Euphoria, mas Shrek 2 fez melhor).
Shrek, montado no Biscoito gigante vai até o castelo, onde os guardas utilizam leite para amolecer os braços da criatura e jogam bolas de fogo de catapultas que tiram seus botões de açúcar, um feito que faz o monstro gritar igual Godzilla. Após muita luta, o trio adentra o castelo. (Vale lembrar que Fada ainda está cantando).
Com uma emocionante reviravolta, Fiona dá uma cabeçada em Encantado e Fada tem um gosto de seu próprio veneno (na verdade, bolhas). No final, o pai de Fiona acaba sendo afetado pelo feitiço que Fada lançou e volta a ser um sapo - sim! Ele é o sapo de A Princesa e o Sapo. Mas não se preocupe, ele ainda está vivo.
Vivendo a vida loucamente
No final, Shrek 2 passa a mensagem de que pessoas que te amam vão te amar não importa a aparência e que, para Fiona, Shrek não precisa se mudar por ela, pois ele sendo ele mesmo, já é o suficiente.
Outra mensagem serve para os pais, já que os monarcas também aprendem que sua filha consegue tomar decisões sozinhas, e que nem tudo sai como eles planejavam para. Seja em questões de relacionamento, trabalho e estilo de vida, pais aprendem com Shrek 2 o motivo de sempre apoiar seus filhos e confiá-los com as decisões que cada um toma.
E se Shrek fosse criado pela Disney? Burro ficaria tão fofinho quanto Sven de FrozenEm conclusão, por trás de todas as mensagens subliminares, cenas que mencionam outros filmes, contos de fada e coisas da “vida real”, Shrek 2 passa a ser uma obra de arte tanto quanto em questão de roteiro e entrega. Com músicas incríveis e a dublagem brasileira extraordinária, o segundo longa do ogro pode ser desfrutado por todos, tanto adultos quanto crianças.
Com isso, o filme termina com uma fiesta, ao som de “Livin’ La Vida Loca”, de Ricky Martin. E não pode-se esquecer da cena pós-créditos, onde Burro reencontra sua dragoa, acompanhada de burrinhos mutantes com asa de dragão e que cospem fogo.