Um dos maiores contribuintes para a arte da animação, Hayao Miyazaki criou muitos filmes à frente do Studio Ghibli, sempre elogiados não só por sua estética irretocável, como por sua compreensão da condição humana. Estão no currículo do diretor, roteirista e animador japonês clássicos como Meu Amigo Totoro, Princesa Mononoke, O Castelo no Céu, O Serviço de Entregas da Kiki e, claro, A Viagem de Chihiro.
Mas se existe algo que essa lenda do cinema detesta em seu ramo, é a exportação mundial da cultura americana como forma de arte. Embora tenha apontado o cineasta John Ford como uma de suas principais influências visuais, colocando o filme Paixão dos Fortes (1946) entre seus favoritos, Miyazaki não é muito acomodado com produções vindas dos EUA.
O site Kotaku, depois de compilar várias entrevistas de blogs japoneses como Hachima Kikou e Yaraon, trouxe trechos que revelam os sentimentos de Miyazaki sobre Hollywood: "Os americanos filmam coisas, explodem as coisas e gostam disso. Então, como seria de esperar, eles fazem filmes assim."
Parque temático do Studio Ghibli será inaugurado ainda em 2022; veja quais animações clássicas estarão representadas"Se alguém é o inimigo, então não há problema em matar inúmeros seres. O Senhor dos Anéis, por exemplo, é assim. Se for [para derrotar] o inimigo, há matança sem separação entre civis e soldados. Isso acaba virando danos colaterais", disse Miyazaki.
Ao longo de sua obra, como em Vidas ao Vento, o realizador explorou os paradoxos do pacifismo em um mundo que recorre à violência para resolver problemas. Segundo ele, esses espetáculos cinematográficos, como a trilogia de Peter Jackson baseada na obra de J.R.R. Tolkien, não fazem nada para entretê-lo ou trazer-lhe alegria.
A princípio, a crítica de Miyazaki a O Senhor dos Anéis parece generalizante. Os filmes podem ter sido lançados e custeados por Hollywood, mas Jackson, natural da Nova Zelândia, rodou-os em seu país natal, com seu estúdio sediado em Wellington. Além disso, o próprio Tolkien era britânico. Daí entende-se que as declarações de Miyazaki se referiam mais ao Ocidente como um todo.
O cofundador do Studio Ghibli também não deixou barato para a franquia Indiana Jones, de Steven Spielberg, classificando-a como uma história glorificada do capitalismo em nações pós-coloniais. "Mesmo nos filmes de Indiana Jones, tem um cara branco que atira nas pessoas, certo?"
8 filmes do Studio Ghibli para ver na Netflix"Os japoneses que concordam e se divertem com isso são incrivelmente vergonhosos. Vocês são aqueles que levam um tiro", disse Miyazaki. "Assistir [a esses filmes] sem nenhuma autoconsciência é inacreditável. Não há orgulho, nem perspectiva histórica. Você não sabe como é visto por um país como a América."
Vale lembrar que, no final de 2021, Miyazaki decidiu abandonar a aposentadoria – anunciada em 2013 – para lançar seu último longa-metragem. Baseado no romance homônimo de Yoshino Genzaburo, How Do You Live? se passa em Tóquio e acompanha um menino de 15 anos cujo pai faleceu recentemente. Ele é pequeno para a idade e apaixonado por travessuras.
Ainda não há uma data de estreia.