Uma Noite Alucinante 2 (Evil Dead II)
"Evil Dead II" (também conhecido como "Evil Dead 2: Dead by Dawn") é um filme de 1987 dirigido por Sam Raimi, que co-escreveu o roteiro junto com Scott Spiegel ("Um Drink no Inferno 2"), e foi produzido por Robert Tapert ("O Grito") e Bruce Campbell. O filme é estrelado por Bruce Campbell como Ash Williams, que passa férias com sua namorada Linda (Denise Bixler) em uma remota cabana na floresta. Ele descobre uma fita de áudio com recitações de um livro de textos antigos e, quando a gravação é tocada, ela libera uma série de demônios que o possuem e o atormentam.
Em 1981 "The Evil Dead" revelava ao mundo um dos grandes nomes da história do cinema de terror, o verdadeiro mestre do horror, o diretor Sam Raimi ("Doutor Estranho no Multiverso da Loucura"). "The Evil Dead" é considerado como um dos maiores filmes de terror independente da década de 1980 e de todos os tempos. Um dos filmes mais inovadores e audaciosos do terror dos anos 80. Com "The Evil Dead" Raimi provou ao mundo cinematográfico todo o seu amor ao cinema trash, e com um baixo orçamento ele construiu um clássico do terror trash, do terror Cult, do gore oitentista, que serviu de base e influenciou vários filmes que aderem o seu estilo até os dias de hoje. Sem nenhuma dúvida Sam Raimi foi um dos grandes responsáveis em revolucionar o cinema de super-heróis (pela sua trilogia de "O Homem Aranha") juntamente com o terror.
Após o fracasso crítico e comercial de "Crimewave" ("Dois Heróis Bem Trapalhões" de 1985), Sam Raimi, o produtor Robert Tapert e Bruce Campbell começaram a trabalhar em uma sequência de "The Evil Dead" por insistência de seu publicitário Irvin Shapiro (o homem responsável por introduzir uma série de filmes estrangeiros influentes nos Estados Unidos, além de lidar com os primeiros trabalhos de alguns diretores notáveis). Por ser um grande fã do filme original, o mestre do suspense Stephen King chamou a atenção do produtor Dino De Laurentiis ("Hannibal - A Origem do Mal") para o projeto, com quem havia feito sua estreia na direção de "Maximum Overdrive" ("Comboio do Terror" de 1986). De Laurentiis concordou em fornecer apoio financeiro e atribuiu aos cineastas um orçamento consideravelmente maior do que o que haviam trabalhado no filme original de 1981. Embora Raimi tenha criado uma premissa ambientada na Idade Média e envolvendo viagens no tempo, De Laurentiis solicitou que o filme fosse semelhante ao seu antecessor.
Fato é que "Evil Dead II" era pra ser uma continuação do filme de 1981, mas como não foi possível conseguir os direitos para exibir algumas cenas, o início da história foi recriado. Dessa forma "Evil Dead II" pode ser considerado como uma refilmagem de uma mesma história, um remake, ou até um reboot (reinício) que serve de continuação (ou prequência) em vez de uma sequência como poderia ser imaginado inicialmente.
Dessa vez temos um Raimi mais ousado, mais criativo, mais confiante, pois ele traz a mesma história do filme anterior, mantém a mesma essência, o mesmo clima, o mesmo ambiente sombrio, macabro, misterioso e soturno. Porém, ele inova no suspense, inova no terror, ele aposta em uma comédia de terror, uma comédia trash em um filme de terror, um verdadeiro "Terrir", soando até como uma paródia do seu próprio filme. Dessa vez com um orçamento melhorado em relação ao filme anterior, Raimi pode melhorar algumas qualidades técnicas em sua produção, como os próprio efeitos e maquiagens, que ganharam uma qualidade melhor. Temos aquele excelente e divertido jogo de câmeras, onde Raimi nos leva abordo da sua câmera ao passear pela floresta e pelos cômodos da cabana. Este é um ponto que se sobressai em "Evil Dead II" (assim como no primeiro), esta opção em brincar com a nossa imaginação ao nos confrontar com a câmera perseguindo os personagens para nos elucidar sobre as forças demoníacas que estavam sendo despertadas e avançando até a cabana.
O filme começa nos contando sobre a origem do "Necronomicon - O Livro dos Mortos", por sinal uma ótima cena com uma história um tanto quanto bizarra. A partir do encontro com a fita da gravação feita pelo pesquisador com a citação que acordou e libertou os demônios, na tentativa de traduzir o Livro dos Mortos, logo na sequência a namorada de Ash é possuída pelos espíritos em uma cena com uma bela perseguição de câmeras. Logo após temos uma curiosa e inusitada cena com um verdadeiro show de stop-motion da Linda (ou do cadáver dela) fazendo aquela dança bizarra e depois sumindo na escuridão da floresta. Em paralelo com a história temos a Annie (Sarah Berry), a filha do professor, que volta para a cabana junto com um mecânico que trabalhava com ele e sua namorada na busca pelo seu pai. Agora com todos presos na cabana, eles lutam contra fantasmas, demônios e espíritos malignos que mudam de forma a todo instante, e a arma mais letal contra os demônios pode estar no livro, especificamente em umas páginas especiais recém encontradas.
"Evil Dead II" nos traz inúmeras cenas clássicas, aquelas que ficaram eternizadas e imortalizadas na história dessa franquia. A clássica cena das árvores atacando a mocinha indefesa. A icônica luta do Ash contra a sua própria mão (uma das maiores cenas de uma luta sozinho de toda a história do cinema). A própria sequência de cenas que envolve o Ash contra aquela mãozinha no maior estilo "A Família Addams". A clássica cena da mão-motosserra, que é uma das mais fortes características do personagem, a partir desta sequência. A lendária cena em que o Ash corta o cano da espingarda e se arma para enfrentar os demônios, se trajando praticamente de um exterminador. Aquelas várias frases de efeitos (os famosos bordões do Ash), que também ficou eternizada.
Sobre o elenco, tivemos alguns cortes do elenco original do filme de 1981. A própria Linda é vivida dessa vez pela Denise Bixler, que estava fazendo a sua estreia na carreira de atriz. Apesar que a sua carreira não alavancou após "Evil Dead II", onde ela atuou apenas no filme "Crisis in the Kremlin" (1992) e em um episódio do seriado "Booker" (1989), abandonando a carreira logo após. Sarah Berry, que fez a Annie, ficou conhecida exclusivamente por sua personagem em "Evil Dead II", o que a levou a fazer apenas mais um filme, "Chud - A Cidade das Sombras" (1989), e depois abandonar o cinema para trabalhar exclusivamente com teatro e musicais da broadway. A personagem Bobbie Joe, que foi vivida pela atriz Kassie Wesley DePaiva, foi inspirada na atriz Holly Hunter. O mecânico caipira Jake foi vivido pelo ator Dan Hicks, um amigo pessoal do Sam Raimi e do Bruce Campbell, que sempre aparecia no elenco de suas produções (infelizmente ele veio a falecer em 2020 vítima do câncer).
Quando falamos sobre a franquia "Evil Dead" a primeira coisa que vem em nossa cabeça é o Sam Raimi e consequentemente o personagem Ash Williams. Ash é um personagem imortalizado e eternizado na franquia graças a competência absurda de Bruce Campbell ao dar vida à um dos personagens mais icônicos da história do terror trash. Sem nenhuma dúvida, Campbell ficou estigmatizado pelo personagem Ash. Ouso a dizer que o Ash foi o maior e melhor personagem de toda a carreira do Bruce Campbell.
"Evil Dead II" contou com uma extensa animação em stop-motion e efeitos de maquiagem protética criados por uma equipe de artistas que incluía Mark Shostrom, Greg Nicotero, Robert Kurtzman e Tom Sullivan, este último dos quais voltaram do filme original. Todo o trabalho de stop-motion, efeitos e maquiagens deram um charme a mais para toda a produção do filme. Apesar que hoje em dia fica muito nítido como são técnicas ultrapassadas e que não funcionam mais com o mesmo impacto para a geração atual, como funcionou perfeitamente para a geração daquela época.
O longa novamente aposta no gore, na violência explícita e compõe cenas bem bizarras, e devido ao seu alto nível de violência, o filme foi lançado por meio de um distribuidor pseudônimo para conter uma classificação X antecipada da Motion Picture Association of America.
Assim como o clássico de 1981, "Evil Dead II" foi amplamente aclamado pela crítica, que elogiou a nova mudança para uma comédia trash de terror, a direção de Raimi e a atuação de Bruce Campbell; muitos o consideraram superior ao seu antecessor e, da mesma forma, como um dos maiores filmes de terror já feitos. Apesar de ter um lançamento um tanto limitado, como um orçamento de US$ 3,5 milhões, o filme ainda fez um modesto sucesso de bilheteria, arrecadando cerca de $ 6 milhões em todo o mundo.
Assim como o enorme sucesso do primeiro filme, "Evil Dead II" seguiu os mesmos passos e acumulou um grande culto internacional de seguidores. Em 1992, foi seguido pela sequência direta "Army of Darkness" ("Uma Noite Alucinante 3"), que utilizou a premissa original de Raimi; em 2013, foi seguido pelo soft reboot e continuação "Evil Dead"; e em 2015, foi seguido pela série de televisão "Ash vs Evil Dead". Um quinto filme da série, "Evil Dead Rise", está programado para ser lançado este mês nos cinemas.
O longa-metragem ainda foi indicado ao Saturn Awards Academy de 1987 na categoria de melhor filme de terror.
Por fim, Sam Raimi nos entrega uma sequência (ou reboot) que condiz com a excelência da obra-prima de 1981. Além de conseguir manter toda a sua essência e ainda inovando no quesito comédia trash de terror. Admiro muito a ousadia do Raimi em construir um universo de "Evil Dead" mergulhado no surrealismo, com um senso de humor, com um timing cômico, porém sem perder a sua marca registrada do suspense e consequentemente do terror. É um filme que você consegue se assustar e ao mesmo tempo dar risadas - só o Raimi mesmo pra conseguir tamanha façanha!
E o que foi aquela última cena do filme? Uma viagem no tempo bem inusitada e com um contexto bem viajado e bem bizarro (eu diria). Acho que desde aquela época o Sam Raimi já estava mergulhado no Multiverso da Loucura. [08/04/2023]