Raros são os casos onde uma literatura levada ao cinema conseguem uma realização e ou resultado próxima da experiência do leitor. Talvez isso ocorra, por uma busca de aproximação, quando o roteiro devia se valer de méritos próprios, não esquecendo sua origem, que é também condição primordial, uma obra cinematográfica.
"Mort à Venise", dilui momentos de brilho próprio, mas que se perde ao tentar agir espaços para uma reflexão do espectador (algo natural na literatura, onde tais pausas são decididas pelo leitor), já no filme, Visconti, força tal engrenagem, usando mão de imagens (paisagens, olhares e observações), mas principalmente crer no seus atores, ou melhor, no seu ator, Dirk Bogarde (Aschenback), que tal e igualmente ao filme, se destaca em conta gotas, doses homeopáticas de um trabalho profundo e em muitos outros momentos, um ator caricatural, que tenta expressar através de um psicologismo facial, os pensamentos, desejos, reflexões, angústias e tantos outros da personagem escrita originalmente por Gustav Aschenbach.
Chama atenção os méritos de não escamotear o jogo de uma relação proibida, que sem moralismos ou abatido pelo que hoje é a praga do "politicamente correto", uma relação que só existe para Aschenback, algo imoral por ser de todas formas um desejo por um rapazote, porém o fascinante desse jogo é a mescla desse desejo entre o sexual e o da juventude, algo que não se vive novamente, e que se antes é até alvo de criticas por Aschenback, no fim sua crítica passa a ser seu desejo, algo que lhe consome e o leva inversamente por uma caminho ao contrário da juventude, um caminho que leva ao fim.