Gritos e Sussurros vê com toda dramaticidade silenciosa e cruel de Bergman a angústia do homem sempre sozinho, amedrontado, revoltado com sua condição. Nesse acerto e contas entre irmãs, percebe-se três personalidades, três formas de lidar com o amargor, os rancores, o ódio. Karin, a mais velha, tem uma consciência ampliada, diz conseguir enxergar tudo. Nesse excesso de consciência e por características pessoais, acaba por sobrepor a feiura do mundo à beleza, assumindo atitude de luto, de ódio, de resignado sofrer. Maria segue a linha oposta de relação com a revolta: indiferença, cinismo, desprezo. Agnes por outro lado, revela-se fervorosa, numa atitude de santo. Martiriza-se para não agredir o outro. Excessivamente consciente do mundo, como todas, assume postura de otimismo resignação, fé e autoflagelo que leva a morrer dos nervos. A empregada apara-se em total na fé, sendo supridos seus desejos pela santidade e resignação. Ótima fotografia, paisagem silenciosa e triste típica da Escandinávia emoldurando um conflito de família. Grande obra-prima!