A primeira vez que assisti o filme foi em 96 ou 97, e o assunto AIDS já estava em meu conhecimento, mas eu lembro que uns 5 ou 6 anos antes eu mal sabia o que era isso, pois eu era muito ingênuo e apesar de conhecer as palavras AIDS e Camisinha, eu mal sabia que era relacionado a sexo. Eu devia ter uns 9 ou 10 anos.
Escrevo isso, pois, naquela época de inicio dos anos 90, AIDS era uma doença um tanto desconhecida, conhecida como praga gay, que só gay pegava, e todo mundo tinha nojo (e não preconceito) de gays... e consequentemente da AIDS também. Filmes que tocavam nesse assunto eram raros, assim como programas de TV, lembro um de ter passado no SBT nessa época, e o dublador fala EIDS e não AIDS, não era algo comum para se tratar em público no Brasil.
Meio tardio, lançado em 1994, Filadélfia aborda este tema de uma outra forma, menos direta, mas forte na linguagem, um advogado que pegou AIDS e foi demitido do emprego, sendo que o mesmo alega que este foi o motivo de ser demitido e não sua incompetência no trabalho como seus ex-empregados alegam.
O filme mistura o tema da AIDS, homossexualidade e a lei, que precisa ser aplicada corretamente, que a justiça deve ser feita. Nisso o roteirista Ron Niswaner acerta em cheio, com um roteiro ácido, inteligente, bem escrito, falas muito bem estudadas... um trabalho super competente, que rendeu a Ron uma indicação ao Oscar de Roteiro Original, que não venceu, mas poderia sim ter ganho fácil.
Porém o filme levou 2 Oscars, e um deles foi pro ator Tom Hanks, magistralmente excelente no filme, chegou a perder 15kg para situar os malefícios da doença, uma entrega total ao personagem, interpretando um homossexual denso, nada exagerado, e que ao mesmo tempo é advogado, e mesmo exercendo pouco este lado no filme, Tom estudou à fundo o ofício da advocacia para se preparar para o filme. Destacando suas duas melhores cenas no filme, a primeira logo após sair da sala do advogado Joe Miller e ao chegar aos pés da rua ele lança um olhar que você fica dúvida se é desespero, falta de fé, medo da morte, desamparo... com esta cena, ele te ganha pro resto do filme. A Segunda, quando está com o mesmo Joe, em seu apartamento repassando as falas da defesa, e ao ouvir uma ópera na vitrola, o personagem praticamente a lê para Joe e se emociona, e se você reparar, a letra tem muito a ver com o que o personagem de Tom está passando no momento. Digno mesmo do prêmio.
Joe Miller é interpretado por Denzel Washington, aqui ainda cru se repararmos bem, porém, dá um show quando está no tribunal defendendo Andrew Buckett (Tom Hanks). Mesmo sendo um pouco exagerado (mais pelo roteiro do que pela sua interpretação), Denzel já dava seus passos para o magnífico ator e diretor que se tornou.
O segundo Oscar que Filadélfia levou foi de canção original pela música 'Streets of Philadelphia' do "Chefe" Bruce Spreengsteen, música com uma letra sensacional, brilhantemente composta para o filme, toca no começo e o filme já te ganha por ali.
Obra-Prima da década de 90, infelizmente não consta mais no catálogo do Netflix, mas vale a pena você correr atrás do filme e comprá-lo, dinheiro bem investido que facilmente te emocionará no final.