Tempo de recomeçar
por Francisco RussoAo ser lançado, em 1979, Alien, o 8º Passageiro não tinha a menor pretensão em virar uma franquia - termo que, inclusive, é bem mais contemporâneo no mundo do cinema. Como Hollywood não resiste a um sucesso de público, rapidamente se buscou meios (e histórias) para que a tenente Ellen Ripley estrelasse sequências - no plural. Após o elogiado Aliens, O Resgate, o derradeiro destino da personagem aparentemente viria no criticado Alien 3. Sim, você leu bem: aparentemente.
Alien - A Ressurreição apenas existe por motivos escancaradamente comerciais, aliado a uma pitada de decepção causada por aquele que deveria ter sido o desfecho da série. Ainda assim, oferece alguns elementos interessantes e originais, ao analisar a saga de Ripley como um todo. A começar pelo próprio momento da personagem, agora um clone, sendo parte humana, parte alienígena. Tal característica não apenas permite a tal ressurreição do título, por mais que o porquê disto ter acontecido apenas 200 anos depois jamais seja justificado, como uma verdadeira transformação na personagem. Mais segura e decidida graças aos poderes conquistados, Ripley surge um tanto quanto dúbia, provocadora e, até, sedutora - com homens e alienígenas, é bom ressaltar! Sigourney Weaver, como de hábito, surge competente em sua personagem-ícone.
Outro aspecto que merece atenção é o trabalho da equipe de criação envolvida, especialmente o diretor Jean-Pierre Jeunet e o responsável pelos efeitos visuais Pitof, que já haviam trabalhado juntos em Delicatessen. Em Alien - A Ressurreição, eles não só oferecem uma variedade criativa de extra-terrestres, e seus respectivos habitats, como entregam alguns dos seres mais gosmentos vistos na franquia. Há também uma inusitada situação aquática, inédita na série e insólita por se passar justamente dentro de uma espaçonave. Ainda assim, justificável pela narrativa.
Entretanto, se o roteiro escrito por Joss Whedon até ousa bastante nas novidades em relação ao que já havia sido visto até então, por outro lado é completamente displicente com a dinâmica envolvendo os personagens coadjuvantes, típicos boi de piranha. A exceção fica por conta de Call (Winona Ryder), personagem de Winona Ryder, que não só recupera o lado tecnológico existente desde o filme original como avança no sentido da humanidade construída artificialmente, algo escancarado ao analisar seu comportamento perante os colegas de espaçonave. Dan Hedaya, por sua vez, assume o viés da ganância humana de forma absolutamente caricata, enquanto Brad Dourif encarna a eterna aspiração humana em se tornar, também, criador - o que, curiosamente, apenas será trabalhado com mais profundidade nos prelúdios Prometheus e Alien: Covenant, produzidos anos depois.
Ao analisar A Ressurreição dentro da série Alien, fica nítido que há nele uma busca pelo recomeço, tendo por base preceitos estabelecidos lá em 1979: personagens femininas fortes, a relação com a inteligência artificial, o lado claustrofóbico. Se por um lado existe o mérito da ousadia em mudar, por mais que a transformação de Ripley em uma espécie super-humana seja questionável, e um esforço em construir um ambiente gráfico convincente e até coerente, o filme peca especialmente pela fragilidade com a qual tais mudanças são apresentadas, pela ausência de justificativas. Tudo é muito jogado, característica básica de filmes caça-níqueis - e, neste aspecto, não se pode deixar de considerar a influência da origem deste longa-metragem em seu resultado final.
Por mais que seja inferior aos antecessores Alien e Aliens, o Resgate e também ao posterior Covenant, A Ressurreição oferece um cenário interessante sobre aquele que poderia vir a ser o futuro da franquia. O desfecho, em especial, abre uma possibilidade bastante instigante sobre como poderiam ser Alien 5 e 6, sequências que já tinham Sigourney Weaver assegurada. Entretanto, o desempenho apenas regular nas bilheterias - US$ 161 milhões, mundo afora - e a má recepção da crítica em geral sacramentaram o término desta cronologia - ao menos neste ponto.