A primeira "Ópera do Rock", criada pela banda inglesa The Who, foi um marco não só para a banda, mas para a produção de filmes do gênero. Inspirado no álbum de mesmo título de 1969, o longa traduz as melódicas composições de Pete Townshend em belas sequências imagéticas. Com pequenas alterações da história narrada no disco (como por exemplo, a época ambientada), Ken Russell pode nos prover uma série de referências à psicodelia e à cultura pop. Dentro desse contexto, é visível uma crítica a vários fatores da contemporaneidade, como o fanatismo religioso e a busca por fama e dinheiro. Roger Daltrey, com sua voz potente, se encaixou perfeitamente no papel do rapaz cego, surdo e mudo, provando que é bom não só como front man do The Who, mas como ator (posteriormente, Daltrey viria a trabalhar novamente com Russell, no constrangedor "Lisztomania"). A dramaticidade passada por personagens secundários, como Ann-Margret, é incrível, o que permite ilustrar o filme com facetas da mãe esperançosa, do padastro oportunista e do primo valentão. O leque qualitativo do filme é ainda ampliado por aparições de estrelas como Tinna Turner e sua frenética interpretação da Rainha do Ácido e Eric Clapton, com sua guitarra rítmica atuando em uma sequência um tanto peculiar. Também podemos ver Elton John como o Mago do Pinball e Jack Nicholson, pouco lembrado por sua participação nesse longa. Aliada a toda essa gama de interpretações e recursos visuais, está a música. A obra-prima do Rock and Roll "Tommy" se encaixa de maneira excelente às imagens e sua qualidade de inovação musical é inegável. Para dar origem a uma pérola ousada, estranha e prazerosa, como o filme "Tommy", sem dúvidas, o diretor Ken Russell se apoiou nas ideias e sugestões dos conceituadores iniciais desse projeto (Pete Townshend e os demais integrantes do The Who). Dessa forma, "Tommy" resultou em um trabalho de equipe, permanecendo vivo até hoje como referência a um contexto de criatividade e inovação.