Filme antológico ; obra indispensável para todos os interessados em cinema de arte. Repleto de simbologias, Cocteau fez um grande filme , tanto no que diz respeito a estética elaboradíssima quanto à temática , que por meio de um conto de fadas , ressalta como a família pode interferir negativamente no desenrolar de um amor. Pertencente ao "Realismo poético francês" , Cocteau fez uma obra que extrapola qualquer movimento, pois aborda problemáticas universais ; sua leitura de "A bela e a fera" vai muito além do conto de fadas e mostra como o amor pode ser revolucionário e transformador; como podemos ser vítimas de nossa bondade; como o mundo exterior pode ser assustador. Em branco e preto e com um estilo sombrio, em alguns momentos , "A bela e a fera" se aproxima de um filme de terror. Muito mais que o local onde a Bela encontra o amor , o castelo da Fera é um recanto de mistérios , de magia , de tudo de mais obscuro que pode existir dentro de cada um de nós. O espelho que reflete o interior dos personagens é uma bela metáfora da capacidade que temos de enxergar com o coração. Merece destaque a voz gutural de Jean Marais interpretando a fera e as estátuas que movem seus olhos no castelo do protagonista. Apesar de ter 67 anos e nenhuma cena de erotismo explícito, "A bela e a fera" , de Jean Cocteau é repleto de uma sensualidade delicada e subjacente. A forma como a fera pronuncia o nome "Bela" é muito mais erótica que muitas cenas de beijo ou sexo do cinema contemporâneo.