Tomates verdes e fritos. Se é verdade que essa história remete ao encontro de alguns dados da história cultural americana como racismo, preconceito e repressão emocional, revela-nos também, por outro lado, uma história peculiar, de personagens marcados por dramas pessoais.
O roteiro, de um modo geral, conta a história de um conflito entre um mundo exterior e um outro interior. O retorno de fora para si, que diz respeito à ingerência dos valores morais, culturais e normativos representados no filme – e aí o interessante –, não pela aceitação, mas pela negação de Idgie à rotina religiosa e conservadora dos moradores de Whistle Stop, no Alabama, desperta nessa personagem o seu inquieto lado “Towanda”, que lhe inspira o seu jeito tão não-convencional de ser, se revelando muito mais como uma identidade sua.
Na verdade, Idge e Towanda são uma só. Idgie perdera seu irmão Buddy; o luto, tão corrente nesse enredo, pôde significar, no início, um isolamento, por achar que ninguém mais a entenderia. Mas a amizade de Ruth traz Idgie de novo a uma história que na verdade Idgie é quem a apresentará a Ruth, e também a Evelyn Couch, através das palavras da senhora Threadgoode. Essa sua identidade que havia sido reprimida com a morte de Buddy pode ser novamente vivenciada através da experiência do encontro de uma amizade.
Um dos pilares do roteiro é justamente a necessidade da revelação de uma espécie de “identidade inconsciente”, já denunciada pelo próprio título do filme. Desse modo, começando justamente pelo título, que alude à iguaria preferida da senhora Threadgoode, o roteiro conduz à trama tão íntima e singular que se desenrolou naqueles dias em torno do Café. A desconfiança à proximidade de Idgie e Ruth, que simboliza a desconfiança social que paira sobre indivíduos potencialmente descumpridores de normas convencionais e valores culturais estabelecidos (como a proximidade com os negros, por exemplo, numa época em que ardia o odioso fogo da Ku Klux Klan), acaba por ceder lugar à beleza de uma amizade verdadeira.
De fato, talvez essa seja uma função da arte, e em especial do cinema, que nos aproximam tanto de nós mesmos: traçar um perfil perfeito dos acontecimentos ou das coisas. No caso dessa história, a amizade entre Idgie e Ruth, ímpar, com um ingrediente emocional só delas, como a história de cada um de nós.