Os Imperdoáveis (Unforgiven)
"Os Imperdoáveis" foi lançado em 1992, dirigido, produzido e estrelado por Clint Eastwood no papel principal e escrito por David Webb Peoples (que escreveu o filme indicado ao Oscar 'The Day After Trinity' de 1981, e co-escreveu Blade Runner, de 1982, com Hampton Fancher). O filme conta a história de William Munny (Eastwood), um velho fora da lei e assassino de aluguel que assume mais uma missão, como um caçador de recompensas, anos depois de ter se aposentado e voltado para a agricultura e a vida na fazenda. O filme é co-estrelado por Gene Hackman, Morgan Freeman e Richard Harris.
Clint Eastwood é um dos maiores ícones da história da sétima arte, um mestre, um gênio, um dos maiores realizadores e um dos maiores cineastas que já passou por esta terra. Ele fez história a partir da década de 50 como uma das estrelas máximas de Hollywood, sendo que em 1964 ele passou a trabalhar com o mestre dos westerns, o cineasta italiano Sergio Leone, se tornando o seu legítimo pupilo, o seu garoto de ouro. Eastwood dirige, produz, roteiriza, atua e compõe a trilha sonora de várias das suas obras ao longo da sua vasta, respeitada e premiada carreira. Já nos entregou atuações icônicas, obras-primas históricas e memoráveis como "O Estranho Sem Nome", "O Cavaleiro Solitário", "As Pontes de Madison", "Sobre Meninos e Lobos", "Menina de Ouro", "Gran Torino" e "A Troca".
"Os Imperdoáveis" é uma das maiores obras-primas da história do cinema, um dos maiores westerns de todos os tempos, que juntamente com o filme "Dança com Lobos", são as duas maiores obras-primas do faroeste dos anos 90 que eu já assisti na vida. Uma verdadeira pérola cinematográfica, uma verdadeira obra de arte do cinema, o último grande faroeste, o último western a ganhar o Oscar de Melhor Filme, a obra-prima do mestre Eastwood que ficou marcada como a despedida com chave de ouro do gênero que o consagrou.
O maior trunfo do filme está exatamente na forma como ele nos retrata a figura do cowboy, do pistoleiro, pois teoricamente os faroestes nos traria as velhas histórias sobre a sede de vingança, com pistoleiros de mira infalível e moral dúbia salvando damas em perigo ou até mesmo as cidades, sempre envolto nos maiores tiroteios. Aqui temos uma verdadeira quebra de arquétipos, de estereótipos, uma verdadeira desconstrução daquela imagem clássica do estilo western, uma desmistificação daquela imagem contundente do cowboy que sempre age em prol do heroísmo.
"Os Imperdoáveis" é um filme revisionista, intrínseco, mais cru, algo mais realista e mais pesado. Pois de fato temos aquelas figuras dos pistoleiros semi-aposentados que trabalham como caçadores de recompensas, como matadores de aluguel, mas nos confrontando diretamente como um desmistificador do Velho Oeste, cuja violência nem sempre é vista como algo glorioso e se manifesta como reação da insegurança dos cowboys ou quase sempre pelo efeito das bebidas - como o próprio discurso feito pelo Munny. Também temos a quebra dos estereótipos sobre a posição feminina, pois de certa forma elas se impõe e desacata a decisão colocada pelo Xerife. E até mesmo às alusões aos antigos heróis que eram celebrados pela cultura popular dos westerns, de certa forma até os colocando como farsantes ou algo do tipo - como a própria figura do English Bob, personagem do Richard Harris.
A figura do William Munny é a fiel descaracterização do cowboy, do pistoleiro do Velho Oeste, pois ele já está aposentado há 11 anos e teve uma verdadeira redenção quando conheceu a sua esposa já falecida, Cláudia, com quem teve dois filhos. Ou seja, temos também uma abordagem sobre o drama de Munny e todos os seus traumas e seus fantasmas do passado. Acredito que se deva a isso a sua principal motivação em aceitar o trabalho de caçador de recompensas, e até financeiramente, pela criação dos seus filhos.
Uma atuação soberba, esplendorosa, estratosférica, magnífica de Clint Eastwood. É realmente impressionante e assustador o poder de atuação que este homem tem, é algo surreal, pois em todos os seus filmes eu me pego boquiaberto diante da magnitude do seu trabalho e sua entrega no personagem - incrível!
O elenco de "Os Imperdoáveis" é uma obra-prima dos cinemas, pois juntar em um mesmo filme as lendas como Clint Eastwood, Gene Hackman, Morgan Freeman e Richard Harris, no mínimo é merecedor de uma salva de palmas por uns 10 minutos.
O lendário Gene Hackman está incrível na pele do Xerife Little Bill. Aqui temos mais uma desmistificação da figura de um Xerife, do homem que impõe às leis, que segue regras, pois Little Bill era totalmente ao inverso de tudo isso, ele fazia às suas próprias leis e às impunha à todos da sua forma violenta e cruel. Que atuação do Gene Hackman, Ave Maria, Jesus Cristo. Little Bill foi um personagem que lhe caiu como uma luva, e ele alcançou uma perfeição absurda, sempre se impondo à todos como aquele ser soberano, com suas expressões sádicas, que usava e se aproveitava do seu poder de justiça para aplicar às regras da sua maneira - completamente magnífico a atuação de Gene Hackman!
Morgan Freeman é outro gentleman da sétima arte, outro que nos entregou mais uma atuação absurda como o velho parceiro de Munny, Ned Logan. Logan era aquele braço direito de Munny, seu fiel escudeiro, porém, ele também já mostrava sinais de cansaço, de uma vida sofrida, e mesmo assim ele se vangloriava como sendo um ótimo atirador de rifles, mesmo que ultimamente ele se renegava a puxar o gatilho.
O icônico Richard Harris (já falecido) fez um personagem completamente inusitado, o English Bob, que entrou em um confronto direto com o Xerife Little Bill quando adentrou em sua cidade. Um personagem muito bom, muito interessante, mas que de certa forma não foi aproveitado como realmente deveria, ou poderia.
O jovem ator Jaimz Woolvett estava fazendo a sua estreia nos cinemas, e de cara já contracenou com duas lendas como Freeman e Eastwood, mas ele deu conta do recado direitinho, conseguiu impor o seu inexperiente e desajeitado personagem,The Schofield Kid.
A atriz Frances Fisher fez Alice, a prostitua chefe, que sempre entrava em conflitos com o Xerife e qualquer um para defender às suas meninas, tanto que ela não aceitou a pena imposta pelo o Xerife referente ao cowboy que cortou o rosto da prostituta Delilah Fitzgerald (Anna Levine). Outra atriz que entregou uma ótima personagem, muito doce, muito delicada, que dava vontade de cuidar dela, literalmente - aquela cena que ela conversa com o Munny é o seu ápice no filme.
"Os Imperdoáveis" possui um roteiro brilhante, de uma inteligência absurda, muito bem escrito, muito bem idealizado. Tem uma narrativa muito fluida, que transcorre com muita inteligência entre o conceito de começo, meio e fim. Possui diálogos envolventes, pertinentes e prazerosos. Uma fotografia majestosa, que se destacava como muita dignidade entre os cenários mais belos do longa. A trilha sonora e os arranjos foram do compositor já falecido Lennie Niehaus, mas o tema principal foi composto por Clint Eastwood - uma trilha sonora completamente impecável, que nos remetia diretamente aos clássicos dos westerns. A própria direção do Eastwood é perfeita, feita com muita dedicação e com muita competência, daquelas que só um gênio como ele consegue nos entregar. Assim como a direção de arte, cenografia, ambientação, designer, decoração, montagem, edição, som...tudo 100% perfeito, sem um erro - estupendo!
"Os Imperdoáveis" foi indicado a nove Oscars e foi premiado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Gene Hackman) e Melhor Montagem (Joel Cox). Eastwood foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por sua belíssima atuação, mas perdeu para Al Pacino por "Perfume de Mulher". O filme foi o terceiro western a ganhar o Oscar de Melhor Filme, após "Cimarron" (1931) e "Dança com Lobos" (1990).
De fato o longa de Eastwood foi uma grande homenagem aos faroestes das grandes décadas dos westerns. Uma verdadeira carta de amor ao seus mestres, aos seus diretores e aos seus mentores Sergio Leone e Don Siegel, como uma espécie de agradecimento, de reconhecimento por tudo que lhe foi ensinado e lhe foi passado ao longa da sua vida cinematográfica. Como podemos comprovar claramente nos créditos finais com a linda mensagem: "Dedicated to Sergio and Don".
"Os Imperdoáveis" ainda possui uma cena final épica, icônica, apoteótica, umas das maiores maravilhas que meus olhos pode presenciar ao longa de toda a minha vida cinéfila.
Um Clássico. Uma Lenda. Uma Obra Épica. Uma Obra de Arte. Uma Pérola Cinematográfica. Uma Verdadeira Obra-Prima dos Cinemas. [20/05/2022]