Encerrando de qualquer jeito
por Taiani MendesSeis anos após Aliens, O Resgate, Ellen Ripley (Sigourney Weaver) reaparece. Como desgraça pouca é bobagem para a heroína apresentada por Ridley Scott, ela já começa em apuros. As cenas iniciais tensas e trágicas, exibidas em picotados flashes entre os créditos, poderiam ser confundidas com um pesadelo não fosse o conhecido azar – ou sina – da tenente. Em cinco minutos toda a conclusão feliz do segundo filme é destruída e Ripley se vê na companhia de estranhos em local misterioso que provavelmente tem um alienígena à solta. Fury 161 é o nome do planeta, uma prisão de segurança máxima masculina que conta com 25 habitantes, religiosos e celibatários, nada felizes com a visitante. Não há tempo perdido e antes do minuto dez o “provavelmente” dá lugar à certeza. A tentativa de inovação do roteiro se apresenta de cara pela supressão dos momentos de preparação do suspense. Existe alien vivo, solto e pronto para mais um massacre nos moldes dos longas anteriores, afinal, se existe um adjetivo que não serve à franquia é surpreendente. Desde Alien, o 8º Passageiro o esquema é o mesmo: primeiro contato com o extraterrestre, morte, mortes, um ou dois salvos após corridas cheias de adrenalina e fim. Não espere muito além.
Além do conhecido inimigo, em nova versão, a protagonista precisa enfrentar em Alien 3 o sexismo. Acusada de “violar a harmonia e romper a unidade espiritual do grupo”, a primeira mulher que os prisioneiros veem em anos é proibida de deixar a enfermaria, considerada lunática, atacada sexualmente e pressionada a assumir o posto de líder quando a situação atinge o completo caos. Nada, objeto sexual, mãe. São esses os papéis que lhe cabem, segundo os homens. A exceção é o médico Clemens (Charles Dance), com quem ela consegue quebrar as regras, conversar e aplacar um pouco a solidão – apesar do intercurso sexual dos dois ser esquisito por parecer mera justificativa “no sentido bíblico” para algo que é revelado posteriormente.
Estreando na direção de longas, David Fincher enche o filme de subtextos religiosos que nem sempre se completam em sentido, certamente prejudicados pelo lendário imbróglio entre o diretor e o estúdio. Contratado pouco tempo antes das filmagens, sem roteiro pronto, após a saída repentina de Vincent Ward, Fincher demonstra estar em busca da construção de um estilo, aqui marcado pelo abuso de planos detalhes e adoção da montagem alternada em sequências que envolvem grande suspense, algo extremamente irritante. O que mais chama a atenção em termos de imagem, no entanto, são os terríveis efeitos visuais da produção. O alien feito digitalmente é inacreditavelmente tosco, o que inibe a sensação de nervoso que suas aparições deveriam provocar, e a dramática cena final é outra vítima dos efeitos mal feitos. Como pode o longa de 1992 ser tão inferior aos de 1979 e 1986 em uma tecnologia que só evolui?
Um raro momento digno de nota de Alien³ é a “encarada” que o vilão dá em Ripley, de fazer tremer. Cabeça por cabeça, é justamente perdendo-a que a maioria dos cristãos apocalípticos fundamentalistas é dizimada, um detalhe cheio de significados dentro da narrativa - que coloca bastante peso na racionalidade e, em contraponto, falha no despertar de qualquer tipo de emoção.
Ripley, que começa anestesiada e um tanto quanto irreconhecível (não pelos cabelos raspados e sim pela personalidade), no decorrer da trama volta ao tom normal e forma uma dupla dinâmica com o líder religioso de eficiente oratória Dillon (Charles S. Dutton, o melhor dos coadjuvantes). Pelos labirínticos 600 aerodutos do Fury 161 eles correm no último ato, a perdição representada de maneira bastante satisfatória. O que não é compreensível é por que tudo isso, afinal? Não é memorável, melhor do que os anteriores, sequer um bom filme. Aquela que é recebida como a serpente termina como Jesus. É o desestabilizador que também detém a solução e, sinceramente, não merecia nada do que acontece em Alien³. Usando uma expressão dos dias atuais, Ellen Ripley deserved better (merecia coisa melhor).