O início do mestre!
CÃES DE ALUGUEL (Reservoir Dogs
Aos 29 anos, Quentin Tarantino começava a galgar na indústria cinematográfica, com financiamentos obtidos através das vendas de seus primeiros roteiros e da entrada do ator Harvey Keitel ao projeto, o que lhe rendeu um bom capital para o desenvolvimento do filme.
Cães de Aluguel foi o primeiro trabalho de Tarantino, um projeto independente que reuniu um elenco respeitado, com nomes como Harvey Keitel, Steve Buscemi, Michael Madsen, Tim Roth, Chris Penn, Edward Bunker e Lawrence Tierney. O longa relata os eventos de um mal sucedido roubo de diamantes, com fatos anteriores e posteriores, sendo executados a partir de 6 homens que não se conhecem e usam codinomes para se referirem uns aos outros.
Tarantino exibia seu talento logo de cara, já nos mostrava a sua força, sua competência e sua genialidade, com sua marca registrada e com elementos que o define em seus filmes até hoje, e para um fã do mestre (assim como eu) vai saber identificar claramente ao que estou me referindo. Um roteiro coeso, bem à cara do Tarantino, que não se prende em dar explicações detalhadas sobre os fatos que ocorrem (ou ocorreram), como o fato de não exibir necessariamente as cenas do roubo, e sim o foco em seus personagens e os desfechos de cada um. Tarantino nos entrega uma narrativa não-linear, que serviu para nos imergir naquele submundo onde ninguém era mocinho, todos eram bandidos e todos eram suspeitos (o que me remete ao seu último filme, Os Oito Odiados). Com diálogos afiadíssimos regados a inúmeros palavrões, com temas ácidos e debochados (outra vez eu cito, Os Oito Odiados), como alguns assuntos que tratavam temas racistas, ou momentos cômicos e sátiros, como o debate logo na primeira cena sobre a letra das músicas "Like a Virgin" e "True Blue", da Madonna.
O longa é composto por uma trilha sonora bem eclética, permeando músicas entre os anos 60, 70 e 80. Outra grande marca registrada de Tarantino até hoje, é a sua grande referência à cultura pop em seus filmes (como no caso do icônico Pulp Fiction e Kill Bill), e em Cães de Aluguel não poderia ser diferente. Outro ponto que sempre me impressiona é a edição e mixagem de som, podemos ouvir com perfeição a violência dos disparos em um local fechado, ou até mesmo ao ar livre. A violência está bem presente em Cães de Aluguel, assim como aquelas cenas bem sangrentas que só o Tarantino sabe construir.
Falar do elenco em Cães de Aluguel é chover no molhado!
Todos (sem exceções) estão muito bem, por mais que uns tenham mais tempo de tela que outros, mas todos entregam personagens fortes e arrojados, com atuações soberbas e muito bem construídas.
Harvey Keitel (Mr. White) está muito bem encaixado em seu personagem durão e desafiador. Tim Roth (Mr. Orange) é responsável por uma curiosa reviravolta na trama e atua nos momentos certos. Michael Madsen (Mr. Blonde) é o grande misterioso, entrando em cena em grade estilo e atuando em uma cena brutal e sensacional. Steve Buscemi (Mr. Pink) é o personagem mais cômico e sátiro da turma, o que de certa forma o engrandeceu com bastante relevância. Edward Bunker (Mr. Blue) completa o time com bastante competência, assim como o próprio Tarantino (Mr. Brown) que integra bem com seu personagem canastrão. E pra completar, Lawrence Tierney (Joe Cabot), o grande responsável em reunir a trupe de criminosos, e Chris Penn (Eddie Cabot), que curiosamente possui uma ligação interessante dentro da equipe.
Cães de Aluguel é um filme que envelheceu bem, o tempo fez muito bem para ele. Podemos claramente notar o quão importante este filme foi para o Tarantino e o quanto ele aprendeu com ele. Muitas das coisas vistas e feitas em Cães de Aluguel foram levadas para o Pulp Fiction (sua obra subsequente), e consequentemente passadas para todos seus filmes até hoje. Devo destacar a cena final - na minha opinião - o melhor fechamento de um filme do Tarantino até hoje.
Apesar da sua modesta divulgação e sua modesta bilheteria em sua época de lançamento (há quase 27 anos), Cães de Aluguel é muito bem reconhecido e enaltecido até hoje, muitos o consideram como o melhor filme do Tarantino e o maior filme independente de todos os tempos. Uma obra Cult, um verdadeiro clássico do cinema independente, a primeira obra-prima do gênio Quentin Tarantino. [19/01/2019]