No drama, e no estabelecimento de relações causais, acaba sendo o melhor dos filmes de monstros da Universal. Ainda que as cenas de maior frontalidade na presença do monstro não possuam a mesma potência de um Frankenstein, o drama circunstancial, e a própria dinâmica dos personagens secundários, funciona muito melhor do que nos filmes anteriores do ciclo.
Talvez pelo intervalo de 10 anos, em comparação com os lançamentos de Frankenstein e Drácula, o Lobisomem já apresenta uma noção mais madura de roteiro cinematográfico para um cinema sonoro. Seus diálogos conseguem escapar do expositivo na maioria das cenas, há um entendimento maior a respeito da força que a imagem possui como sugestionadora de relações e, muito como resultado disso, as relações periféricas da trama conseguem ter a devida importância de acordo com seu tempo de tela.
A maldição do lobisomem parece se alimentar da figura do homem estrangeiro, daquele que efetivamente não faz parte dessa pequena comunidade. Primeiramente, o cigano de Bela Lugosi e, por fim, o filho pródigo que passou boa parte de sua vida fora da terra natal. A cena do personagem de Lon Chaney na igreja, hesitante e acossado pelos olhares julgadores dos locais, é a grande atestadora dessa relação alegórica estabelecida entre a maldição do mito e a condição psicológica do homem externo à comunidade. Chama a atenção, especialmente, como o drama da cena se resolve bem sem a necessidade dos diálogos, mais um indicativo do amadurecimento dos filmes de monstros naquele momento.
A discussão entre razão científica e lenda urbana permeia o filme inteiro. Contudo, é interessante como no personagem do pai (Claude Rains) ela, gradativamente, sofre uma transfiguração. O ceticismo do cientista dá lugar a um negacionismo, intimamente atrelado à condição social dessa família que necessita manter sua imagem de intransponibilidade perante o imprevisível da natureza. O final do filme, abrupto como a maioria dos filmes do ciclo de monstros, ainda assim consegue deixar implícito o desfecho melancólico: o silêncio de Sir John Talbot, no seu lugar de autoridade moral dessa pequena comunidade, parece atestar sua anuência perante a narrativa proposta pelo policial.
Afinal de contas, um Talbot precisa morrer herói, deixemos a lenda para os ciganos.