Kubrick tem uma filmografia de filmes de gênero. Transitou por vários gêneros deixando em cada um sua contribuição. Em Dr. Fantástico temos um exemplo do gênero comédia em que você não ri de chorar, mas que no mínimo nos deixa com um sorriso no rosto o tempo todo. Ele aborda um tema sério com humor. Um tema que até condiz com uma realidade vivida hoje em que um único homem pode levar o mundo a uma guerra.
Se pensarmos, que para termos uma guerra, basta um louco ser um dirigente de um país ou que o militarismo consiga convencer seu dirigente a entrar em guerra. Neste filme Kubrick, diga-se de passagem, um dos melhores cineastas de todos os tempos, realiza com muito humor, este filme em que um general louco chamado Jack D Ripper (Sterling Hayden), nome que lembra Jack o Estripador, na época da Guerra Fria aciona um esquadrão de aviões B-52 que sobrevoam vinte e quatro horas áreas próximas a União Soviética autorizando-os a atacar com armas nucleares. No elenco ainda temos George C. Scott como Gen. Tergnison um general que sabendo da iminência da guerra fica, digamos, um pouco empolgado. Ele junto com o alto escalão de militares se junta ao presidente Merkin Muffley (Peter Sellers) na sala de guerra do Pentágono para decidirem o que fazer. Paralelo a isso Kubrick nos mostra a preparação de um dos aviões para o ataque. Kubrick teve a idéia de adaptar o livro de ficção Alerta Vermelho de Peter George, porém preferiu pegar a premissa do livro e transformá-lo em algo mais cômico, deixando o tema mais leve.
As interpretações aqui estão muito boas. A de Peter Sellers é sensacional. Ele da vida a três personagens e nos consegue mostrar cada um de forma brilhante. Ele é o presidente, ele da vida a um capitão que fica preso dentro de uma sala trancada com o general louco e ao Dr. Fantástico, um louco, aleijado, demente, nazista e que tem um problema no braço direito que é engraçadíssimo. Ele ainda ia interpretar o piloto do B-52, porém devido a ter quebrado o tornozelo não conseguiu. Ele rouba a cena e realiza umas das melhores interpretações que já vi.
Kubrick injeta um teor sexual no filme. Logo no começo vemos duas aeronaves que parecem que estão realizando um ato sexual. O próprio subtítulo (Porque deixamos de nos preocupar e passamos a amar a bomba) tem a ver com a situação do desfecho do filme. Através de cenas consegue criticar, como no começo em que vemos cartazes que dizem “paz é nossa profissão” enquanto contraditoriamente estão realizando a guerra. Há cenas que é impossível não rirmos como a que o presidente diz para não brigarem, pois eles estão na Sala de Guerra. Outra cena é o presidente falando com o alcoolizado presidente russo. Gostaria de destacar também a trilha sonora. A música no desfecho do filme não poderia ser melhor.
Enxergo uma semelhança desse filme com Glória Feita de Sangue que ele realizou, onde homens enfrentam a guerra em si e outros discutem ações a tomar em um lugar seguro. Só que neste, o diretor com um humor negro maravilhoso consegue abordar um possível fim de mundo de maneira bem humorada, porém sem deixar críticas de fora.