Uma diferença importante neste filme, em comparação com os anteriores de monstros produzidos pela Universal, está numa proposta mais evidente de dialética no seu tema, aqui em torno das temáticas de contemporaneidade e tradição. Mais do que levar em seu sangue a memória de antepassados do Egito antigo, Helen Grosvenor simboliza no filme, ao mesmo tempo, o encontro entre passado e presente, e as questões morais em torno da atividade exploratória. O passado, violento e traumático, volta à vida por conta dessa exploração com fins científicos.
Contudo, esse suposto dilema moral fica limitado apenas a lampejos de abordagem em diálogos envolvendo Helen e, assim como em Frankenstein e Drácula, o filme parece muito mais interessado na estranheza em torno da figura da múmia. E, nesse aspecto, acaba funcionando menos do que nos citados, especialmente por Karl Freund não saber exatamente o que fazer com o personagem de Karloff.
A "câmera desvencilhada", recurso inventivo de Freund enquanto diretor de fotografia no cinema alemão, faz-se presente aqui, ainda que de modo mais tímido. A sequência inicial é a única que realmente consegue explorar algumas potencialidades desse alongamento dos planos. De resto, a decupagem do diretor transita de modo muito incerto entre o teatralizado (bastante prejudicial à figura ameaçadora de Karloff) e o fragmentado (uma tentativa de explorar o caráter metafísico de seu vilão).
Quando o enquadramento de Freund se abre, ou quando o filme se utiliza de recursos mais concretos em torno da Múmia, como um uso irritante e pouco efetivo dessa suposta hipnose através de um anel, fica escancarada toda a sua limitação cênica. Os três momentos em que o filme, numa certa quebra de continuidade, insere closes no rosto de Karloff, acaba sendo dramaticamente mais efetivo do que qualquer incursão da mise-en-scène em torno das dinâmicas entre os personagens.
Com exceção das breves abordagens dialéticas em sua temática, o filme de Freund possui todos os pontos fracos de Frankenstein e Drácula (drama e romance incipiente em torno dos personagens/vítimas do monstro, texto ilustrativo e pouco inspirado, resolução apressada e confortável), contudo, ao contrário dos anteriores, não consegue extrair potência através do horror, ou até mesmo dessa estranheza de seu vilão.