Baseado no livro “Team of Rivals: The Political Genius of Abraham Lincoln”, “Lincoln” retrata os últimos quatro meses de vida do presidente Abraham Lincoln (1809 – 1865), período este que A. Lincoln propôs na Câmara dos Representantes a 13ª Emenda, que visava legitimar a ilegalização da escravatura.
Para além deste tema central, “Lincoln” explora, de uma forma bastante limitada, outros temas periféricos como o sangrento desfecho da Guerra Civil Norte-Americana, que ocorreu entre os anos de 1861 e 1865. Biograficamente, “Lincoln”, deixa bastante a desejar, porque através desta obra de Steven Spielberg pouco ou nada podemos acrescentar ao já sabido e conhecido sobre a vida do 16º Presidente dos Estados Unidos da América.
Já era sabido que “Lincoln” não iria abordar toda a existência de A. Lincoln, mas sim os seus últimos meses de vida. Este período, apesar de se revelar trágico, foi a melhor época do 16º presidente dos Estados Unidos da América, já que a guerra civil estava praticamente terminada, o povo idolatrava-o, a sua vida familiar passava uma fase estável, o seu partido apoiava-o e nem os rivais políticos apresentavam grandes razões de queixa, assim sendo, esta seria sempre a melhor época da sua vida para ser retratada no grande ecrã. Basicamente “Lincoln” mostra-nos apenas o complicado apogeu da carreira desta importante figura histórica que, após acabar com uma guerra que partiu o seu país em dois e de ter conseguido abolir o flagelo da escravatura, foi assassinado de uma forma brutal e dramática.
Este trama, que para muitos pode ser brilhante, a meu ver é bastante incompleto, ficando muito por mostrar da vida deste ícone do século XIX, como por exemplo, as consequências psicológicas e negativas que a loucura da sua mulher ou a morte prematura de um dos seus filhos teve na sua vida. Apesar deste tema ser abordado é, a meu ver, abordado de uma forma muito limitada. A infância, bastante traumática e complicada de A. Lincoln, é outro aspecto pouco explorado por Steven Spielberg nesta obra cinematográfica. Enfim, como produto biográfico e histórico “Lincoln” deixa bastante a desejar, já como produção política, podemos considerar que Steven Spielberg conseguiu uma boa obra, capaz de nos prender ao ecrã e que apesar da sua duração excessiva nunca chega a ser tedioso.
O principal aspecto negativo deste filme é, na minha opinião, o final do filme. Já todos sabemos como termina a história de vida de A. Lincoln, mas Steven Spielberg conseguiu torná-la bastante pior, não sendo o evento fatalista directamente retratado, antes fosse. A alusão à morte é feita indirectamente pela menção da trágica notícia e pela reacção directa da pessoa que mais ama o presidente, sendo esta reacção compreensiva mas largamente desnecessária para o objectivo do filme. Posto isto, “Lincoln” tem um final bastante mau.
É nas representações que podemos retirar os melhores aspectos desta obra, principalmente na performance do actor britânico Daniel Day-Lewis. A sua interpretação de Abraham Lincoln é sublime, carimbando mais um trabalho magistral e sem falhas, merecendo, sem qualquer contestação, a sua indicação ao Óscar para melhor actor principal. Tommy Lee Jones está perfeito como uma espécie de aliado mascarado de Abraham Lincoln que, ao longo do filme, envolve-se em diálogos muito fortes e alguns até cómicos, que tornam “Lincoln” muito mais apelativo. Sally Field também conseguiu um bom papel, conseguindo na plenitude representar o papel de Mary Todd Lincoln. A interpretação de Joseph Gordon-Levitt, representando o filho mais velho do presidente, foi também ela bastante satisfatória, apesar do pouco “tempo de antena” que esta personagem teve ao longo deste trama.