Já falei por esses textos da vida, que adoro filme biográfico, nada melhor que aquela boa e velha dúvida entre o que realmente aconteceu com o que é ficção. Aí você coloca mais alguns pontos nessa trama, como um bom escritor no centro, um bom livro envolvido, uma pitada de jornalismo e um chocante assassinato que abalou os EUA. Capote tem tudo isso e um pouco mais.
Poucos filmes trazem tantos elementos fortes na sua composição. Tecnicamente, para você escrever um texto ou um roteiro para filme, você precisa de um conflito, uma donzela e um herói, quase uma trágica comédia grega, muito usada até hoje. Mas nesse filme o diretor Bennett Miller trabalha com muitos elementos que fazem desse filme uma grande biografia.
O diretor trabalha com a história de forma linear e, talvez, da maneira mais verídica possível. A composição da história vai crescendo gradativamente, as duvidas na cabeça de Capote, seu envolvimento no caso e consequentemente com Perry Smith são construídos no passar do tempo e alguns pontos são levantados e nem sempre respondidos.
A montagem do personagem pelo Philip Seymour Hoffman é linda, não é a toa que ele ganhou o Oscar pela interpretação do escritor. O ator perdeu dez quilos para interpretar esse papel, e se vê um grande estudo para chegar mais próximo dos trejeitos de Capote. A maneira como se expressa, a sua postura e até os movimentos sentados com uma porção de amigos envolta, só faz crescer Philip no papel.
O filme que traz um corte temporal na vida do escritor, e faz com que várias dúvidas não sejam respondidas e muitas delas com relação ao seu envolvimento com Perry Smith. Será que ele teve um caso com o assassino? Na verdade, o diretor não responde a essa questão, somente algumas pistas são levantadas como o afastamento do Capote do companheiro, pode se entender uma paixão por Perry? Outra é a preocupação com a confissão de Perry, a demora na escrita do artigo se dá pela falta de informações, o escritor se aproxima tanto que pode achar ainda que haja salvação para Perry?
São muitas perguntas e poucas respostas, o que abrilhanta mais a biografia de Capote, da construção de um livro, o faro jornalístico e o mais profundo estudo para se chegar ao mais próximo da verdade dos acontecimentos são pontos importantes na construção do livro e bem explorados no filme.
Portanto, Capote se sobressai de forma positiva, pois não se preocupa em responder questões, mas mostrar um escritor sincero e humano. Que vê um pouco de humanismo no olhar de um assassino, mas que pode ser um corvo aproveitador de histórias, a duplicidade humana.