Inicialmente diria que o filme é um tapa na cara dos ufanistas em relação aos EUA e daqueles que fazem a apologia do "american way of life".
Gestores Educacionais que não acreditam na possibilidade dos desiguais conviverem harmoniosamente e professores que não acreditam no potencial de seus alunos, escolas que são dotadas de recursos mas que são subutilizados e subaproveitados por docentes e discentes, alunos que formam quadrilhas e andam armados no interior da escola. Miséria, marginalidade, violência, segregação racial e toda uma série de preconceitos (étnico racial, social e de gênero) se avolumam para demonstrar, sem retoques, a realidade das escolas públicas daquele país.
Nadando contra a maré e realizando o seu trabalho sem nenhuma colaboração da gestão escolar (e apesar da má vontade desta) está uma professora solitária, a qual acima de tudo não quer decepcionar seu pai, que havia marchado pelos Direitos Humanos na década de 60. Ela se desdobra, passa a ter mais dois empregos (recepcionista de Hotel e vendedora de lingerie) para custear os materiais e recursos pedagógicos que lhe são negados e que ela utiliza para resgatar a cidadania e o protagonismo dos estudantes, propondo o exercício do conhecimento de si mesmos, do seu entorno e do mundo.
A professora realiza com estes alunos exluídos e marginalizados grandes projetos pedagógicos que culminam na leitura aprofundada do "Diário de Anne Frank" (como um subsídio aos seus próprios diários, onde consolidam suas leituras de mundo e reflexões críticas sobre a realidade) e até no custeio, via festas e atividades acadêmicas, da passagem da senhora que havia escondido Anne e sua família, para debater com eles.
A professora acaba se divorciando, como fruto do excesso de dedicação e dos outros dois empregos que assumiu, e que lhe retiraram toda a possibilidade de convívio familiar/doméstico mas, ao final do filme, acabamos sabendo que a experiência foi replicada outras vezes e que ela acabou lecionando na Universidade da Califórnia.
Filme para ser assisido com o lenço ou a caixa de lenços de papel ao lado e com o raciocínio desperto!