Tinha que ser mais em cima
por Roberto CunhaO cinema nacional continua trilhando seu rumo e o mérito é de todos aqueles que se empenham em colocar em prática suas idéias nas telonas Brasil afora. Mas qual seria a razão para tamanho sucesso de Cidade Baixa com a crítica? Quem busca a resposta para esta pergunta na sala escura pode não encontrar a resposta. Não se trata de má vontade. É que o filme deixa mesmo a desejar. Alguns defeitinhos do cinema brasileiro ainda continuam lá. É pouca luz "demais" em determinadas cenas, um probleminha no som em outras e alguns detalhes que - nem de longe - chegam a comprometer a obra de Sérgio Machado. O problema mesmo está no roteiro.
Talvez por medo ou opção de não enveredar num triângulo amoroso que beirasse o clichê, a história foi por um caminho que, por não ser tortuoso, é reto demais. Resultado: o filme termina sem acabar. Não é difícil para quem está na poltrona entender o que virá pela frente no momento que começa a história, mas na tal ânsia de fazer "o diferente" falta um certo tempero. As cenas de ação mais pungentes, por exemplo, acontecem quase que ao mesmo tempo e logo no início. Já no decorrer da trama os outros momentos de ação carecem de força e até somem no meio da "barriga" do roteiro de cerca de 100 minutos que ficou sem ritmo. É uma pena.
Já o elenco está ótimo. Afinadinho. A dupla - depois de seis filmes já dá até para chamar assim - Lázaro Ramos e Wagner Moura conta com o auxílio luxuoso de Alice Braga, que promete dar o que falar em um futuro não muito distante. Sua stripper da noite baiana estava bastante convincente, lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival do Rio e o fato de ser sobrinha de Sônia Braga pode ajudá-la em sua carreira. Para quem ainda não ligou o nome a pessoa, Alice também trabalhou em outra cidade: Cidade de Deus como Angélica. José Dummont, talvez, tenha feito uma de suas menores participações da carreira. Que desperdício. O diretor de Cidade Baixa afirmou, em entrevista, que queria fazer diferente e conseguiu, mas será que o público vai entender essa verdadeira história sem fim?