A primeira parte de Frankenstein é muito eficiente na construção da tensão por conta dessa loucura do cientista que dá nome ao filme e num certo descontrole a respeito do resultado de seus experimentos. Com influências evidentes do expressionismo alemão, o cenário do moinho possui escadas e paredes que se misturam numa deformação, como se todo o espaço em torno dos personagens estivesse sendo estruturalmente perturbado por conta da obsessão de Frankenstein. A estranheza dessa composição visual acaba diminuindo a fraqueza dos diálogos e da performance de atores que parecem apenas ler o roteiro.
O monstro de Frankenstein é, inicialmente, uma criatura que carrega um peso existencial, aparentemente vazia de vontades, apenas reagindo ao ambiente tal qual um animal acuado. É interessante como esses aspectos vão abrindo espaço para o desenvolvimento de uma ação violenta que parece puramente mecânica, gestual, uma necessidade de se agarrar a qualquer coisa que possua vida. Toda essa questão do cérebro de um psicopata acaba não tendo grande peso no que é encenado, pois as ações do monstro são muito mais as de um animal que age instintivamente do que de um humano de violência deliberada.
A frontalidade nas ações dessa criatura, e a ausência de trilha sonora, imprimem uma atmosfera que beira o documental, algo que certamente subverteu de modo muito efetivo as expectativas de um público da época, acostumado com a onipresença da música na pontuação dramática.
A parte final desenvolve uma dinâmica que enfraquece bastante o que foi previamente construído. A separação entre Frankenstein e seu monstro apenas sublinha o quão desinteressante é essa figura do cientista no filme e, especialmente, suas relações nesse meio aristocrático no qual vive. O filme trabalha com algumas sugestões de remorso por parte desse personagem, por ter colocado essa criatura assassina no mundo, mas isso fica em segundo plano, enfraquecido por um texto simplista e uma narrativa apressada demais para que se desenvolvesse qualquer carga dramática eficiente.
O único momento interessante que aborda, ainda que de modo muito breve, essas repercussões dramáticas em torno do cientista, é no trecho em que Frankenstein encontra-se agarrado com seu monstro para o lado de fora do moinho. A multidão com tochas observa de baixo a ação e o plano se fecha em um dos membros que aponta e fala: "lá está ele, o monstro!". Um pequeno trecho que pode muito bem ser mais uma fala ilustrativa desse roteiro pouco inspirado, mas que pode apontar uma ambiguidade, infelizmente pouco explorada, sobre o verdadeiro monstro da história.
Criador ou criatura?
Frankenstein termina confortável demais para que esse aspecto possa articular-se de modo mais evidente. A existência do monstro torna-se, assim, apenas um breve capítulo obscuro na vida apaziguada e desinteressante daquelas pessoas.