Cult ou clássico é a denominação dada aos produtos culturais que possuam um grupo de cultores fiéis, de seguidores dedicados através do tempo. Geralmente, algo cult continua a ter admiradores e fãs mesmo após “seu tempo”, mesmo depois de não ser mais produzido. Muitas obras atingem status de cult depois que suas "vidas úteis" supostamente expiraram. “Ensina-me a viver” é, certamente, quase quarenta anos depois de produzido, Cult na acepção exata do termo.
O filme foi até classificado como humor negro, o que talvez não seja a pura expressão da verdade, o comportamento de Harold é um misto de morbidade com humor negro, mas não dá o tom ao filme, apenas define que o personagem é niilista. Por exemplo, inicia-se com Harold (Bud Cort), fazendo todo um ritual de suicida, acendendo velas, escrevendo um bilhete e, por fim, subindo num banquinho, colocando a corda no pescoço e saltando do banco para o que seria o fim de uma vida jovem. Sua mãe, adentrando a sala não parece nem um pouco assustada, pergunta se ele acha aquilo engraçado. Um sorriso da suposta vítima indica que sim, ele acha engraçado o que fez.
Harold, 20 anos, filho único milionário, tem uma mãe super controladora que só olha para o próprio umbigo, não lhe dedica qualquer afeição. Em consequência ele é um obcecado pela morte, vive simulando suicídios, comparece a enterros de desconhecidos, curte ferros-velhos onde assiste destruição de carros e dirige um carro fúnebre para desespero da mãe. Nesta meio patética atividade conhece Maude, (Ruth Gordon) senhora de 79 anos cheia de vida. Os dois sentem uma ligação comum que os atrai imediatamente.
Harold descobre em Maude a alegria de viver, coisa completamente diferente do seu mundo de morte e desamor. Ele encontra uma libertação total na companhia de uma alma gêmea. Maude, bem de acordo com os tempos de peace and love – o filme é de 1971 – faz uma contestadora hippie (sem as clássicas vestimentas, penteados e idade adequados) destrambelhada que queima a vela pelas duas pontas, não está nem aí para as convenções sociais ou para a regras. Armada com uma filosofia tipo vale-tudo e uma total falta de senso comum, ela faz o que quer, quando quer, e não liga a mínima sobre o que a sociedade pensa dela. Tem o hábito de pegar qualquer carro estacionado e sair em disparada pelas ruas.
O roteiro é de Colin Higgins e direção de Hal Ashby e há um casamento perfeito entre ambos, o filme está redondo.
O elenco de apoio é igualmente excelente. Vivian Pickles interpreta a mãe de Harold, um socialite do mundo que não compreende seu filho. O tio de Harold, Victor (Charles Tyner), que se tornou canhoto porque perdeu o braço direito na guerra, agora é um general que serviu como tenente no Japão com General MacArthur.
As melhores seqüências, falando em termos puramente visuais, acontecem na casa de Maude, um vagão de trem desativado convertido em casa. Na sequência da convivência dos dois surge uma afinidade muito grande de modo que se tornam namorados e ele chega a pedi-la em casamento. Ao espectador atento, num átimo de cena, revela-se a verdadeira origem de Maude: ela é sobrevivente de campo de extermínio nazista, sua ânsia de viver explica-se finalmente.
O fim do filme surpreende e é um trunfo da estória, não vou revelá-lo, fica para quem assistir o DVD. JAIR, Floripa, 22/10/10.