Bem, essa sinopse é um tanto quanto pretensiosa quando já se viu o filme. Em primeiro lugar: a importância de Brian no enredo. Em segundo: o tal encontro dois dois. Entenda ao continuar a leitura desta resenha.
Mistérios da carne é um drama forte, na verdade, muito forte. Nele somos levados a conhecer a história desses dois jovens já comentados acima, Brian e Neil, dois garotos com a mesma idade mas com espíritos que não condizem nada um com o outro, o que pode aparentar ser interessante. Enquanto Brian é o famoso nerd encubado, quieto e com tendências quase que assexuadas de tanta "timidez", Neil é o famoso boêmio: bebe, fuma e faz sexo com quase todos os enrustidos da cidade. Essa diferença é uma eterna linha tênue entre o clichê e o inesperado.
Entretanto, não é o que fazem hoje, o que são hoje que chama atenção, e sim o passado que cada um carrega. Na verdade, mais do que tudo, Mistérios da carne é um filme que se trata do modo de encarar seus demônios do passado: seja negligenciando, seja se agradando com seus traumas, seja querendo desesperadamente desvendá-los, e, essa sim, para mim, é a melhor diferença entre Neil e Brian. Enquanto Neil lembra perfeitamente de sua vida, e faz com que um verão de dez anos atrás molde seu modo de ser e encarar todos os pontos de sua vida, Brian se encontra numa profunda busca por um motivo, o motivo de seus pesadelos, o que o fez ser o que é.
Aceitação e busca.
O filme se intercala em diversos anos diferentes, numa ordem cronológica crescente, com alguns flashbacks inclusos (conforme revelações vão sendo feitas) e, se há um verdadeiro ponto positivo no filme, são as interpretações dos pequenos Neil e Brian, Neil principalmente. Estamos acostumados a ver crianças em dramas, chorando, dando chiliques, ou fazendo papéis de força, mas nenhuma me impressionou da mesma maneira que Neil em um certo quesito, que, bem, eu não posso falar muito. Mas digamos que ele agiu como eu nunca esperava que uma criança fosse capaz, seja no olhar, seja nos nuances da voz, os sorrisos amarelos. as mulheres do elenco também tem uma boa participação (pelo menos as que tem o devido destaque), digo isso com foco em Mary Lynn Rajskub, que entrou na minha lista de loucas favoritas a partir de hoje.
Mas, falemos dos pontos negativos. não são poucos (como na maioria das obras), mas acho que alguns merecem ser mais lembrados aqui. O principal são as cenas de sexo de Neil, e, de certa forte, o próprio Neil. No começo não é um grande incômodo vê-lo em suas relações - até mesmo porque Joseph Gordon-Levitt é um ator glorioso - mas, com o passar do tempo, isso vai ficando meio desgastado, até um ponto que pode levar a parecer algo muito "enfiado" na obra, como o que vem acontecendo em alguns momentos de Game of Thrones. A vida de Niel se resume a isso, inclusive, e, às vezes, tudo o que eu queria era menos daquilo, menos de mais do mesmo, menos daquele dia-a-dia que, num filme, se pareceu meio desgastante. O mais triste é que essa grande exploração acabou enevoando a participação de Brian, que, para mim, é muito mais interessante como personagem, muito mais misterioso, com sua busca alienígena e seu desenvolvimento como investigador de si mesmo.
E, todo esse lenga-lenga, esse chupa-chupa acabou resultando num final apressado - ainda que lindo. Eu adoraria ter visto mais cenas de Neil com Brian, porém o prolongado desenvolvimento singular meio que interrompeu isso. E aqueles dois tiveram muita química em cena.
Com uma boa trama, perfeita para pessoas pacientes, nem tanto para quem gosto do famoso direto ao assunto, Mistérios da carne é um ótimo filme para se meditar e "cair na real". Apesar de um desenvolvimento meio inadequado, ele mostra o quão fortes podem ser as consequências de um baque muito forte no nosso passado, como isso afeta o caráter e o desenvolvimento de um indivíduo despreparado. Mostra como os adultos são os piores monstros do mundo. Mostra como a fragilidade é corrompível, mutável.
E a trilha sonora é ótima. Rs.