O filme acontece em uma sociedade inglesa distópica, que após enfrentar uma guerra contra os Estados Unidos, sucumbe ao regime do ditador Sutler. Ele se aproveita de toda a crise para ganhar as eleições e se utiliza de leis totalitárias, censura generalizada da mídia e tortura dos opositores para se manter no poder. Dessa forma, não há nenhuma liberdade em seu regime autoritário, tudo passa por um filtro antes de ser publicado e todos estão alienados ou conformados com essa situação, visto que por medo da guerra, a população prefere trocar a liberdade por uma falsa sensação de segurança.
Sendo assim, o governo retira qualquer indesejado que esteja contra a ideia hegemônica do ditador, sejam eles homossexuais, negros, muçulmanos e outras minorias. Nesse contexto, surge o protagonista V, que basicamente é a personificação do sentimento de liberdade, mas sob um tom terrorista e anarquista, ao menos na perspectiva do governo, pois pela ótica dos cidadãos ele é um herói ou alguém que leva esperança. Para isso V pretende chamar a atenção do povo em relação ao que o Estado está fazendo, no entanto, faz isso através do medo, assim, essa será uma das poucas vezes que nos encontraremos torcendo para um "terrorista".
Em virtude disso, essa é uma história com questões delicadas que vão lhe fazer refletir sobre qual o preço da liberdade, o que estamos dispostos a pagar por ela e nos faz extravasar o sentimento de insignificância ao sermos controlados pelo governo, nesse caso totalitário, uma vez que é ele que deve temer o seu povo e não contrário. Logo, mesmo com um roteiro mais minimalista, sem muita ação, temos com uma boa fotografia e uma excelente discussão temática, tonando a obra deslumbrante, principalmente para quem gosta de filosofia e sociologia.
Contudo, o filme não chega a ser genial, pois ainda que seja bem envolvente temos muitas passagens entediante, um vilão que é caricato e pouco relevante, tanto que quase não tem aparições. Dessa maneira, várias das cenas que não contém o protagonista se tornam fracas, em exceção a investigação feita pelo detetive Finch, no qual, nos empolgamos com o mistério a ser resolvido e a “libertação” da personagem Evey, quando ela está presa. Portanto, V de Vingança é uma obra de fácil digestão, já que não foca em diversas outras questões que poderiam ser aprofundadas e se retém ao tema da liberdade, criando, brilhantemente, sua marca nesse aspecto.